I SÉRIE — NÚMERO 48
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O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, a estratégia da
União Europeia no que diz respeito ao processo de vacinação assenta, como sabe, em opções que tiveram por
base parcerias público-privadas com meia dúzia de multinacionais farmacêuticas, onde os Estados assumiram
o risco, os contribuintes pagaram a investigação e as empresas ficaram com as patentes.
Ainda assim, estas farmacêuticas estão a falhar, tanto na produção como na entrega de vacinas, face àquilo
que foi acordado. E nós continuamos sem compreender os motivos que levam o Governo português a não
ponderar a diversificação das opções de compra fora do quadro da União Europeia, de forma a garantir um
processo de vacinação mais rápido no nosso País. E insisto na pergunta, porque os motivos que o Sr. Ministro,
há pouco, aqui invocou parecem-nos francamente muito frágeis face àquilo que está em causa, porque aquilo
que está em causa é a vida dos portugueses.
Mudando de assunto, Sr. Ministro, creio que não preciso de me alongar muito para referir a ameaça que as
armas nucleares representam para a humanidade e muito menos as consequências da sua eventual utilização,
porque certamente o Sr. Ministro também está consciente tanto de uma coisa como de outra. Portanto, limitar-
me-ei a referir que o perigo da utilização deste armamento, associado à tensão e às graves ameaças à paz e à
segurança que têm marcado a situação internacional, torna ainda mais urgente exigir o fim das armas nucleares,
porque só assim será possível garantir a paz e a segurança entre os povos.
Ora, foi exatamente com esse propósito que a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o Tratado de
Proibição de Armas Nucleares, procurando estabelecer um instrumento legalmente vinculativo que proíba as
armas nucleares, levando à sua total eliminação.
Este Tratado ficou, desde setembro de 2017, aberto à assinatura e ratificação pelos Estados-Membros das
Nações Unidas. Sucede que, até hoje, o Estado português ainda não ratificou este Tratado, apesar de, como
membro da ONU e em respeito pela nossa Constituição, dever posicionar-se em defesa da paz e pugnar pela
eliminação das armas nucleares.
Por isso, Os Verdes consideram que o Governo deveria participar num esforço conjunto e num compromisso
permanente e determinado, porque os riscos das armas nucleares são elevadíssimos e o perigo é real.
O que gostaria de saber, Sr. Ministro, é se o Governo está a ponderar assinar este importante Tratado,
adotado pela ONU, e, nesse caso, quando pondera o Governo remetê-lo a esta Assembleia para proceder ao
respetivo processo de ratificação.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira,
agradeço as questões colocadas.
Sobre a eventual compra de vacinas fora do processo de compra europeu, o Governo não tenciona fazê-lo,
por duas razões. Em primeiro lugar, porque isso seria trair uma decisão que tomámos, nós, como europeus, e
que permitiu, insisto, que o processo de descoberta e produção da vacina fosse o mais rápido da história da
humanidade e, sobretudo, que a distribuição das vacinas pela população europeia, pelos diferentes Estados-
Membros tivesse como único critério a distribuição pro rata em função da respetiva população.
Mas também há outra razão: é que não haveria vacinas autorizadas pela Agência Europeia de Medicamentos
que estivessem disponíveis.
Se a primeira razão, que basta em si mesmo, não bastasse, a segunda razão devia ser considerada.
Sr. Deputado, exatamente por causa da vida das pessoas — e a vida das pessoas é o valor mais importante
— só utilizamos em Portugal vacinas devidamente autorizadas pela Agência Europeia de Medicamentos, isto é,
até agora, a vacina da Universidade de Oxford, a vacina da Pfizer e a vacina da Moderna.
Provavelmente, a partir deste mês poderemos aproveitar e utilizar outra vacina.
Portanto, é em função da vida dos portugueses e é em função do facto de sermos um Estado-Membro da
União Europeia, acreditando no processo de aquisição da União Europeia, que não estamos disponíveis para
fazer como aqueles que estão na União Europeia para umas coisas e se esquecem de que estão na União
Europeia para outras.
Em relação à questão nuclear, como sabe, Portugal é um dos países mais empenhados na aplicação do
Tratado de não Proliferação das Armas Nucleares. Mas Portugal não pode assinar nem subscrever o tratado de
eliminação das armas nucleares por uma razão de honestidade elementar: Portugal faz parte de uma aliança