I SÉRIE — NÚMERO 53
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Montes já apresentaram um pedido de apreciação à Procuradoria-Geral da República em relação a esta matéria.
Nós pensamos que as instâncias judiciais deste País também devem entrar em relação a esta matéria, porque
as suspeitas são imensas. Nós temos as maiores dúvidas! Assim, entendemos que, para lá dos aspetos da
Administração, para lá dos aspetos fiscais, para lá dos aspetos da governação, há também uma necessidade
instante de que as instâncias judiciais deste País possam pronunciar-se sobre esta matéria.
A Autoridade Tributária intervém? Muito bem, mas entendemos que as autoridades judiciais, nomeadamente
a Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público, devem intervir para fazer a anatomia deste caso para
que não fiquem dúvidas sobre este negócio que, realmente, nos deixa as maiores suspeitas.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma declaração política é, agora, a vez do Grupo Parlamentar do Bloco de
Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Mortágua.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, se me permite, vou aguardar um pouco pela mudança de
Deputados no Hemiciclo.
Pausa.
Neste momento, assumiu a presidência o Vice-Presidente Fernando Negrão.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, há ainda alguma movimentação, pois temos ainda muitos Srs.
Deputados levantados.
Agradecia que se sentassem para que a Sr.ª Deputada possa iniciar a sua declaração política.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Muito obrigada, Sr. Presidente.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Na primeira vaga desta pandemia, Portugal suspendeu as aulas
presenciais a 16 de março e foi um dos poucos países europeus que manteve o ensino à distância até final do
ano letivo, com exceção da preparação de exames para os alunos mais velhos. Quase um ano depois, os nossos
alunos foram dos que estiveram mais tempo sem aulas presenciais.
Se a surpresa de uma pandemia inesperada justifica as dificuldades iniciais, as comunidades escolares e o
País assistiram com espanto à inação do Ministério da Educação durante o último ano. Depois de um verão em
que pouco se preparou o novo ano letivo, foi a resiliência das escolas que segurou, como pôde, a aprendizagem
dos alunos. Estamos gratos pelo que foi feito!
O preço a pagar pela suspensão do ensino presencial é muito alto. Foi por isso que o Bloco de Esquerda
insistiu em propostas de preparação do ano letivo e nos esforços necessários para evitar fechar as escolas. O
Governo ficou aquém. Teremos tempo para balanços, mas, aqui chegados, há outra urgência: o programa de
recuperação.
Nem todas as consequências serão irreversíveis, mas nada será como antes. É desse princípio que
deveremos partir. Os diagnósticos são ainda limitados e preliminares, mas os indícios são assustadores:
agravamento das desigualdades; perda de aprendizagens; atrasos no desenvolvimento; perda de competências;
degradação da saúde mental.
Agora que os profissionais da educação foram, finalmente, reconhecidos como linha da frente dos serviços
essenciais e que o primeiro diagnóstico revelou que apenas metade dos alunos atingiu o nível esperado em
conhecimentos elementares, o Governo vai realizar um novo diagnóstico e reuniu um grupo multidisciplinar para
fazer recomendações.
Estamos aqui para acompanhar essas iniciativas, que não podem fazer tábua rasa dos contributos do debate
parlamentar, que tantas vezes se antecipou ao Governo.
Preparar a recuperação não é simplesmente planear a educação pós-pandemia, como parece ter sido desejo
do Governo no verão passado. Uma política de mínimos para enfrentar a crise máxima é, como vimos, um
convite à inação.