I SÉRIE — NÚMERO 54
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Outra falácia é a de que estes esquemas terminarão nas áreas de pressão imobiliária. É falso! A partir de
janeiro de 2022, o edificado dos serviços, do comércio, industrial e turístico poderá ser adquirido, aqui em Lisboa,
através deste esquema. Tudo na mesma! Não é ingenuidade, não é ignorância, é uma opção política de
manutenção da especulação imobiliária. O mercado imobiliário funciona como um todo e o Governo sabe-o bem,
mas nada muda. Faz-se uma promoção da corrida aos vistos e mantém-se essa especulação. Perde o País,
perde a transparência, perde a responsabilidade e a proteção de quem aqui vive, no momento da maior crise
que o País atravessará.
Para o Bloco de Esquerda é incompreensível que continue a insistir-se em não resolver os problemas no
acesso à habitação, na falta de diversificação económica, no convite a atividades ilícitas, na constante violação
da Lei de Bases da Habitação e das leis nacionais e europeias de combate à corrupção.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, peço-lhe que conclua.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
O Governo português opta, assim, por aprofundar as nossas vulnerabilidades. A crise da habitação não será
resolvida por magia e é preciso coragem para mudar o estado de coisas, como sejam a financeirização e a
especulação. Por esta razão, é importante a eliminação dos vistos gold, mas não só. Esta medida é também
urgente e essencial para que as políticas de equidade no acesso à residência e à cidadania, de controle de
preços do imobiliário e dos solos e de combate à criminalidade possam ser efetivas. Temos aqui, de facto, essa
hipótese.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, em nome do Governo, o Sr. Ministro da
Administração Interna, Eduardo Cabrita. Aproveito, naturalmente, para o saudar.
O Sr. Ministro da Administração Interna (Eduardo Cabrita): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a
Sr.ª Deputada Maria Manuel Rola, apresentou este pedido de apreciação parlamentar, exercido pelo Bloco de
Esquerda, e a primeira surpresa é exatamente a existência deste pedido, pois o Bloco de Esquerda participou
no quadro político que permitiu a aprovação do Orçamento para 2020.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Ministro da Administração Interna: — No Orçamento do Estado para 2020, no seu artigo 187.º, foi
assumido o compromisso de restringir as autorizações de residência para investimento às áreas de baixa
densidade, quanto à aquisição de imobiliário habitacional, elevando os requisitos relativamente às outras
categorias menos utilizadas de investimento.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Não é verdade!
O Sr. Ministro da Administração Interna: — Sr.as e Srs. Deputados, o ano de 2020 não foi há tanto tempo,
mas ainda nos lembramos, julgo, do que sucedeu em 2020 e que mudou radicalmente todo o quadro de previsão,
fazendo-nos estar na Assembleia da República quinzenalmente. É por isso que aqui estarei, também na próxima
semana, a discutir o conjunto de medidas extraordinárias que a situação pandémica criou ao País, alterando
totalmente o seu quadro de previsão.
Por isso, ouvindo todas as entidades relevantes, o Governo usou esta autorização legislativa exatamente
nos termos em que ela consta do Orçamento do Estado, estabelecendo aqui uma dilação que determina, de
facto, que, a partir do início próximo ano — esperando todos, certamente, que esteja ultrapassada a fase mais
crítica da pandemia e que estejamos já num quadro de recuperação da economia —, estes mecanismos de
investimento possam existir apenas em zonas de baixa densidade, terminando, de facto, com uma pressão
sobre a procura imobiliária em Lisboa, no Porto, no Algarve, ou seja, nas zonas para as quais se dirigia a