I SÉRIE — NÚMERO 54
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A União Europeia pagou, portanto, uma percentagem minoritária, que se espera tenha tido reflexo na
negociação do preço e das condições de fornecimento e, se não teve, é exatamente aí que a negociação deve
incidir e pode ser melhorada, mas, de facto, não é verdade que as vacinas sejam, por isso, um bem público. Se
não tivesse havido investimento privado, provavelmente os senhores nem estariam aqui a ter esta discussão,
porque, para começar, não teria havido, sequer, vacinas.
Afirmam os senhores ser necessário diversificar a compra das vacinas. Está certo, mas o ponto a que querem
chegar é à vacina Sputnik V. Percebo. A França, a Alemanha e a Itália também já deram um sinal político da
sua disponibilidade para uma compra dessa vacina, condicional à aprovação da EMA (European Medicines
Agency).
Para o PCP, pelos vistos, a aprovação da EMA é irrelevante, basta a do Infarmed que, relembro, ainda há
pouco fez parte das nossas discussões exatamente porque demora anos a aprovar a terapêutica de
medicamentos inovadores. Mas parece que isso agora já não é um problema e que, com certeza, qualquer outra
vacina não aprovada pela EMA seria agilmente aprovada pelo Infarmed.
E também se esquecem, ou também não querem acreditar, que, na realidade, um pequeno país, como
Portugal, sem grandes recursos financeiros, face a compradores como a Itália, a França e a Alemanha, não
conseguiria pôr-se na fila para comprar grandes quantidades a preços razoáveis. Se estes gigantes decidirem
fazer estas compras, para nós é sempre uma perda não pertencer a uma compra conjunta da União Europeia.
Estaremos, pois, sempre melhor nessas condições.
Defendem, finalmente, levantar as patentes e permitir a produção em Portugal, ignorando o custo, a médio
prazo, que levará a que nenhuma indústria de I&D (Investigação e Desenvolvimento) invista na Europa. E, como
se fala em futuras pandemias, nessa altura, com certeza, virão queixar-se do facto de não haver nenhuma
indústria a produzir medicamentos na Europa.
Ignoram, também, que levantar as patentes não resolve o problema da produção. Sabem os senhores que
as matérias-primas necessárias para produzir muitas destas vacinas têm origem em 19 países diferentes; que
se contam pelos dedos de duas mãos as fábricas, pelo mundo, capazes, do ponto de vista de segurança de
produção,…
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente.
Contam-se pelos dedos de duas mãos as fábricas, pelo mundo, capazes, do ponto de vista de segurança de
produção, de produzir estas vacinas. E os senhores ignoram que, em Portugal, não há, hoje, uma indústria, sem
investimento, capaz de produzir.
Sr. Presidente, termino, por isso, fazendo, com toda a humildade, a seguinte sugestão ao PCP: se estão tão
empenhados em acabar com este processo capitalista tão destruidor daquilo que é a saúde pública, sugiro que
comecem por levantar a patente da Sputnik V — com certeza que terão diligências para o fazer — e depois
transpor diretamente a produção e a autorização de produção para Portugal, assumindo os senhores o ónus de
todas as avaliações clínicas e produzindo-a num laboratório militar, que, com certeza, estará disponível para
produzir em grande escala.
Aliás, nem percebo porque é que não é esta a vossa proposta.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Gouveia,
do PS.
O Sr. João Gouveia (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como todos sabemos, através dos
tempos, a vacinação tem-se revelado o meio mais efetivo e seguro para o combate e erradicação de doenças
infeciosas e, a este propósito, importará relevar e saudar o enorme esforço de convergência verificado na
comunidade científica global, fator este decisivo e explicativo de ter sido possível, num prazo nunca antes
conseguido, criar e iniciar a produção de vacinas contra a COVID-19.
Aqui chegados, o desafio universal que se seguiu, só possível de vencer através de uma estratégia
supranacional, concertada e solidária, ficou muito claro: procurar vacinar toda a gente no mais curto espaço de
tempo possível como única forma de garantir a proteção da saúde de todos os cidadãos.