9 DE ABRIL DE 2021
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As vacinas para combate à COVID-19, bem como todas as respostas farmacológicas neste combate e a
futuras pandemias, devem ser consideradas como bens públicos universalmente acessíveis. Quando resultantes
de financiamento público, deve ser partilhado o conhecimento resultante da investigação científica produzida e
o acesso aos acordos estabelecidos com estas empresas.
Aquelas que são as atuais patentes de produção da vacina contra a COVID-19 devem ser livres, permitindo
a sua produção por mais países e a disponibilização a mais pessoas.
Deve ser realizado investimento do Governo na investigação e na produção de respostas de combate a esta
pandemia e a potenciais pandemias, reduzindo a dependência externa do País nesta área que é, evidentemente,
estratégica.
Neste âmbito, o Governo deve incentivar a investigação científica com recurso a modelos alternativos à
utilização de animais.
O Estado português deve influenciar a Comissão Europeia a investir em saúde preventiva e em estudos de
combate ao risco de ocorrência deste tipo de pandemias, contribuindo, assim, para a influência internacional de
mudanças de práticas de risco, como é, por exemplo, a depredação de ecossistemas, que põem em causa o
desenvolvimento de zoonoses e que fazem perigar a saúde pública.
Em caso de diversificação de aquisição de vacinas fora do espaço europeu, é preciso garantir,
evidentemente, a validação de eficácia e segurança por parte da Agência Europeia do Medicamento.
Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente José Manuel Pureza.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva, de Os
Verdes.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A esperança, a luz ao fundo do túnel
que nos permitiu acreditar que seria possível ultrapassarmos este período difícil que se vive em Portugal e em
todo o mundo, em resultado da propagação da COVID-19, veio em forma de vacina.
A comunidade científica respondeu ao desafio, procurando, num esforço notável, uma solução, e foram
encontradas várias vacinas contra a COVID-19, que hoje já estão a ser aplicadas em diversos países.
No entanto, e apesar das graves consequências na saúde pública, sobram motivos para ficarmos inquietos
face à forma como a União Europeia está a gerir o processo de aquisição e distribuição das vacinas.
A solidariedade da União desvaneceu-se e os países ricos agem de forma egoísta.
A União Europeia não só pagou a produção das vacinas, e, já agora, pagou com o dinheiro dos contribuintes,
portanto das pessoas que necessitam delas, como também, com o dinheiro dos mesmos, financiou a respetiva
investigação, a pesquisa, os ensaios, os seguros de risco, para o caso de a investigação não ter sucesso.
Libertou os laboratórios de quaisquer responsabilidades, se houver efeitos indesejáveis das vacinas, e comprou-
as antes de existirem.
Mas a «descoberta» é pertença exclusiva das farmacêuticas, o que significa que só elas as podem produzir
e, claro está, ao ritmo que melhor encaixar nas suas estratégias de negócio.
E para melhor defender as pobres farmacêuticas de olhos indesejáveis, até os contratos ficaram secretos e
só a muito custo se conhecem alguns elementos menores.
Quanto aos cidadãos europeus que financiaram a «descoberta», ficam dependentes dos interesses
comerciais dos laboratórios.
Por isso, já aqui o dissemos, é tempo de o Governo português fazer uma de duas coisas, ou até as duas:
assumir o seu papel na Presidência da União Europeia, procurando alargar a oferta de vacinas, enfrentando os
poderosos interesses das farmacêuticas, exigindo-lhes o cumprimento dos contratos, e/ou garantir, no plano
nacional, a compra de mais vacinas a outros fornecedores.
Se há aspeto que não se entende é por que razão há tantas medidas excecionais justificadas pela situação
extraordinária que estamos a viver, mas para o que é essencial é preciso seguir todas as regras, todos os
passos, respeitar todas as ordens que vêm de Bruxelas.
Sim, Srs. Deputados, estamos a falar do essencial, das vacinas que podem permitir aligeirar as medidas
restritivas e abrir, com maior vigor, as atividades económicas, mas, mais importante que isso, vacinas que podem
salvar vidas.