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22 DE ABRIL DE 2021

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Que nem o Programa de Estabilidade nem o PRR tenham a honestidade política ou, sobretudo, a justiça

social de reconhecer que este problema existe e que é sobretudo um problema dos trabalhadores por conta

própria, dos pequenos negócios, daqueles que foram obrigados a encerrar ou impedidos de trabalhar e que

tiveram de recorrer a tudo para sobreviver, que isto não seja reconhecido como um problema, é chocante. Não

pode haver dois países, em que um deles fica sempre esquecido.

Mas a falha destes planos não é só não apresentarem solução para o problema principal, é muito mais, é o

reconhecimento do investimento público, ou melhor, do gasto público como a solução para tudo.

O Programa de Estabilidade prevê que apenas 30% do PRR seja para apoios diretos às empresas, já para

o investimento público prevê mais de 60%, num total de mais 10 mil milhões de euros.

Sr.as e Srs. Deputados, é bom lembrar que o setor público, que leva a fatia de leão deste PRR, apenas é

responsável por pouco mais de 10% do investimento total, feito em Portugal. O grosso do investimento é feito

pelas empresas e pelas famílias, que são esquecidas neste plano. São também as empresas privadas, que

criam mais de 80% do emprego, e são também elas que geram cerca de 85% do valor acrescentado bruto da

nossa economia. A iniciativa privada é o motor da economia e é o motor da criação de emprego.

O que o Governo apresenta como proposta é a sua absoluta menorização ao atribuir-lhes, em todo o PRR,

menos do que só as empresas pagam de IRC (imposto sobre os rendimentos das pessoas coletivas), mesmo

num ano de grande crise como foi o ano passado. É uma visão estatizante e clientelar que vai comprometer o

futuro de Portugal não por um ano, não por cinco, mas por décadas e pelas décadas seguintes.

Também é bom salientar que muito do que é classificado como investimento público não o é; é, sobretudo,

gasto direto na máquina da Administração Pública. Por exemplo, para digitalizar a máquina da Administração

Pública, o Governo diz que vai precisar de 1810 milhões de euros; para fazer exatamente o mesmo em todas

— e repito, em todas! — as empresas de Portugal, o Governo acha que chegam muito bem 650 milhões euros,

um terço do que gasta na sua própria máquina! E não se incomoda, sequer, mesmo depois deste investimento,

em estabelecer metas de qualidade, de exigência ou ganhos de eficiência nestes serviços públicos.

Aquilo que sabemos é que, ao longo dos últimos três anos, a massa salarial do Estado cresceu, a uma taxa

média de crescimento anual, 3,5%. De 2021 a 2025, está previsto mais um aumento significativo de 3119

milhões de euros, mais do que o total que vai ser gasto com o pilar da transição digital no País inteiro ou com o

pilar da transição digital climática no País inteiro. Portanto, a digitalização da máquina do Estado vai exigir,

simultaneamente, muito mais recursos humanos, sem que haja qualquer avaliação de qualidade, de

sustentabilidade ou de racionalidade desta opção.

Em conclusão, o Programa de Estabilidade e o PRR não são planos ao serviço do País, são os planos que

querem subjugar Portugal ao serviço da máquina do Estado.

Terminava com uma última nota, que é uma correção: o Programa de Estabilidade refere-se, e cito, «à

trajetória de recuperação de recuperação do investimento público, iniciada pelo Governo em 2016.»

Nós já estamos habituados à propaganda, mas é vergonhoso — repito, é absolutamente vergonhoso! — que

um documento público e formal não tenha qualquer pudor em dizer uma coisa que é objetivamente falsa! Falsa!

Não há nenhuma — zero! — recuperação do investimento público em 2016, o que houve nesse ano foi uma

contração fortíssima do investimento público.

Ao menos nos planos mais formais nos PowerPoint já estou habituada a ver muita coisa que é mentira —

haja algum pudor com as mentiras descaradas.

O Sr. Presidente (António Filipe): — A Mesa regista quatro inscrições para pedidos de esclarecimento, a

que, entretanto, a Sr.ª Deputada informou que vai responder em conjuntos de dois.

Então, para o efeito, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, antes de mais, começo por

congratular o CDS por ter trazido este tema e apesar, da questão em que focou a sua intervenção, Sr.ª Deputada

Cecília Meireles, há aqui uma dimensão que não podemos deixar também de reforçar.

Evidentemente, nas opções estratégicas que são feitas neste plano — e apesar de concordarmos com a

bondade que possa existir em algumas medidas do mesmo —, há uma dimensão, nomeadamente a climática,

que tem ficado essencialmente para trás ou em relação à qual, até mesmo em alguns dos eixos deste programa,