I SÉRIE — NÚMERO 57
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afinal, de facto, muito disto foi gasto público direto na máquina do Estado, disfarçado de investimento público,
porque é isso que acho que vai acontecer.
Em segundo lugar, Sr.as e Srs. Deputados, 80% a 85% do emprego em Portugal é criado por empresas
privadas. Vir agora dizer que elas não podem receber fundos, porque são todas grandes empresas e os fundos
não chegam às PME…
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — E não chegam!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Bem, se não chegam, vamos fazê-los chegar! Não podemos é dizer:
«Ah, não, não, isto são tudo grandes empresas, que querem mas é o lucro e, portanto, se 85% dos
trabalhadores, em Portugal, estão lá, bom, eles que se arranjem, porque aquilo que a gente quer é o investimento
nos nossos serviços públicos». Isto, com toda a franqueza, não tem pés nem cabeça!
Em terceiro lugar, para onde é que pode ir o investimento, do ponto de vista da iniciativa privada?
Como é evidente, o pilar da inovação pode, e deve, do meu ponto de vista, ser reforçado: a aposta na
exportação, na indústria, nos bens transacionáveis, no turismo, que é completamente esquecido. Tudo isso pode
e deve ser reforçado.
Aliás, também na agricultura, a inovação tem um papel importante, e seria bom que o PRR não o esquecesse.
Em segundo lugar, sobre onde pode e deve mais ser reforçado, Srs. Deputados, fui clara a elencar o que me
parece ser o problema. O problema é que o grosso da resposta portuguesa à pandemia não está ainda dado.
Foi dado em forma de moratórias e crédito, o que significa que, nas famílias e nas empresas, daqui a algum
tempo, quando o resto da Europa estiver a sair dela, vai surgir uma crise, porque isto não foi um padrão na
maioria dos países europeus.
Portanto, se quisermos que as nossas empresas vão lá para fora e estejam a competir sem pedras ao
pescoço com as outras empresas, que não as têm, temos de encontrar forma de capitalizá-las. E aquilo que
está previsto não é, nem de longe, nem de perto, o necessário.
Mais preciso do que isto imagino que encontrem em muitos PowerPoints, mas, com franqueza, parece-me
que fui bastante evidente, do ponto de vista do que me parece que devem ser as apostas e do que me parece
que está errado e do ponto de vista do que se está a apostar.
Depois, dizem-me «é ideológico.» Todos nós aqui somos ideológicos. Chama-se a isso escolha, liberdade e
democracia. Se fôssemos todos técnicos e todos iguais, as pessoas não podiam escolher. Tinham de escolher
todas o serviço público, mesmo que isso não criasse nenhum posto de trabalho.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Estava a ir tão bem!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Segue-se, agora, a declaração política do PAN.
Para o efeito, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nas últimas semanas, à boleia
do caso José Sócrates e Ricardo Salgado, a justiça portuguesa tem sido muito falada pelas piores razões e o
nosso País tem estado mergulhado numa discussão sobre a sua eficácia.
No entanto, o País quer saber o que é que a Assembleia da República pretende fazer quanto a este problema
e, ressalvadas algumas exceções, tal ação não se coaduna com a mera proclamação de um conjunto de
intenções que não nos leva a lugar algum.
Não podemos perder de vista que estamos perante um problema estrutural assente na insuficiência de meios
do nosso sistema judicial, que tem comprometido a sua eficácia, em particular no combate à corrupção e,
também, na necessária adequação do quadro jurídico-penal existente.
Comecemos pelo Tribunal Constitucional, um tribunal que, para além de uma falta brutal de recursos
humanos, nem sequer tem cobertura de internet em todas as zonas das suas instalações.
Mas falamos apenas, Sr.as e Srs. Deputados, de um órgão de soberania e de garantia da própria ordem
jurídico-constitucional. Nada mais, nada menos.
Vejamos, por exemplo, o problema da falta de meios, que está mais do que identificado, pelo menos desde
2018, no pacto de justiça. Mas o Governo e este Parlamento não o querem cumprir e, ano após ano, Orçamento