I SÉRIE — NÚMERO 60
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Logo no início da pandemia, o Secretário-Geral das Nações Unidas, o Eng.º António Guterres — que é
muito citado quando politicamente isso é importante, mas depois não leem o que diz, e convém ler —, disse o
seguinte: «Numa altura em que a recessão mundial acelera, poderá haver centenas de milhares de mortes
suplementares de crianças». E acrescentou: «O confinamento e a recessão mundial alimentam as tensões nas
famílias e as crianças são, por sua vez, vítimas e testemunhas de violência e de abusos».
Foi esta a preocupação manifestada pelo Sr. Eng.º António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
A UNICEF (United Nations International Children’s Emergency Fund), preocupada também com o
problema, alerta para o perigo desta crise sanitária, que transforma uma crise global dos direitos das crianças
e diz que os países devem atuar, de imediato, com uma agenda global coordenada.
Pergunto-lhe, Sr.ª Ministra: estas recomendações foram ouvidas pelo Governo? Foram, com certeza. E
pergunto o que fez o Governo na sequência das recomendações feitas pelo Secretário-Geral das Nações
Unidas e pela UNICEF.
A nível interno, a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) ajudou quase 1600 crianças vítimas de
violência sexual nos últimos cinco anos. Desde 2016 que os números aumentam todos os anos, num
crescimento que já vai em cerca de 122%.
Só no âmbito do Projeto CARE, a Rede CARE (Rede de Apoio Especializado a Crianças e Jovens Vítimas
de Violência Sexual), em 2016, apoiou 195 crianças, em 2017, apoiou 251 crianças, em 2018, apoiou 304
crianças, em 2019, apoiou 417 crianças e, em 2020, apoiou 432 crianças. Foi um aumento global, como disse,
de 122%. O Governo conhece estes números, Sr.ª Ministra? O que faz com eles?
Sr.ª Ministra, não precisando de ir mais longe, Espanha acaba de aprovar, com largo consenso — apenas o
voto contra do partido de extrema-direita —, a nova lei de proteção integral da infância e da adolescência
contra a violência. É já hoje considerada uma lei pioneira e tem, resumidamente, estas características:
prevenção de todo o tipo de violência contra menores, repito, de todo o tipo de violência; criação de um registo
especial deste tipo de delitos, uma vez que as estatísticas são manifestamente insuficientes; poupar as
vítimas, uma vez que só prestam declarações durante o inquérito e apenas excecionalmente vão a julgamento;
formação especial para quem atende as vítimas; prolongamento dos prazos de prescrição dos delitos contra
menores; endurecimento das condições de cumprimento das penas.
Sr.ª Ministra, este é um grande desafio. Este é o desafio que temos para apoiar as crianças discriminadas
pela violência doméstica e por outro tipo de violência. Sr.ª Ministra, aceita este desafio?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder a estas questões, tem a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência.
A Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Negrão, agradeço as perguntas que me dirigiu.
Vou começar pela primeira, para lhe dizer que o Instituto Nacional de Estatística (INE), como sabe, está a
desenvolver os Censos e, na sequência das notícias das últimas horas, questionei o Instituto Nacional de
Estatística, que me informou que foi colocado perante um conjunto de questões, primeiro, na internet e,
depois, por perguntas da CMTV (Correio da Manhã TV).
As operações tecnológicas de segurança da informação na recolha de dados no site de 2021 foram
auditadas pelo Gabinete Nacional de Segurança e o INE mantém e afirma que a sua abordagem respeita os
requisitos de segurança, constitui a melhor opção para o sucesso da operação e a plataforma dos Censos
2021 é segura.
Depois das notícias e dos contactos da Comissão Nacional de Proteção de Dados, que suscitou dúvidas
relativamente ao enquadramento jurídico da subscrição destes serviços, o INE decidiu suspender totalmente a
subscrição desses serviços, para que não subsistam quaisquer dúvidas. Continua a garantir a segurança dos
Censos, mas, neste momento, perante as dúvidas, resolveu suspender.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Então, e agora?!