I SÉRIE — NÚMERO 61
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Mais, a concretização desses milhares de milhões de investimento público oculto é uma parcela muito
substancial do crescimento económico previsto nas GOP, que prevê a inversão do investimento em 2022, o que
o torna irreal. Dificilmente tal ocorrerá, sendo números para um exercício de propaganda à boa maneira socialista
mas não um exercício responsável de rigor e de sancionamento das políticas públicas.
A outra certeza que as GOP nos trazem tem a ver também com o histórico deste Governo, pela incapacidade
de realizar aquilo que projeta em matéria de fundos europeus e comunitários e sua transformação em despesa
de investimento público. Este é o ângulo de abordagem da UTAO: o Governo sobreorçamenta — leia-se,
subexecuta — sistematicamente, e por uma amplíssima margem, aquilo que prevê em matéria de capacidade
de captação de recursos europeus e de realização de investimento público.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta é a marca característica do Governo atual de Portugal, bem
patente nas declarações do Ministro das Finanças, ainda nesta semana, na assombrosa atribuição de culpas ao
Governo do PSD/CDS-PP por não ter deixado, em 2015, — pasme-se! — projetos prontos para serem
executados e para que o PS, cinco anos após, em 2020, conseguisse fazer mais do que o Governo do PSD/CDS-
PP em matéria de investimento.
A grosseiríssima mistificação dos números e a inacreditável passagem de culpas a um Governo que cessou
função já lá vão seis anos não resolvem o problema: o Governo não é capaz de fazer investimento e essa
incapacidade é a sua imagem de marca. Sem que sejam dadas garantias de que haverá mecanismos especiais
capazes de a superar, o Governo transformou o PRR numa extensão do Programa de Estabilidade e as Grandes
Opções do Plano, agora em análise, que igualmente assentam nele, numa ficção. Se o Governo continuar a
governar como governou nos últimos anos, a ficção terá esgotado a sua serventia, num bom número de
propaganda eleitoral. Um ser racional, que tenta prever comportamentos com base em realidades, só pode
prever uma coisa: vão tanto realizar o que agora propõem quanto o que fizeram em cada um dos últimos seis
anos, ou seja, tristemente pouco, muito pouco. Adivinha-se uma nova oportunidade tragicamente perdida.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Por tudo isto, esta proposta de lei das GOP para os próximos cinco
anos não pode merecer a nossa aprovação. É o nosso futuro e a subsistência coletiva que estão em causa. Não
se pode hesitar nem cair nessas ilusões socialistas! Temos futuro, acreditamos, mas temos de lutar por ele com
todas as nossas forças e energias. É por isso que o PSD pede a este Governo mais e muito melhor, em nome
Portugal.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Membros do Governo: O plano que aqui nos
é trazido procura criar e alimentar a narrativa de que há uns que defendem o investimento público e outros que
defendem o investimento não público, quando não é nada disso que está em causa. O que está em causa é o
errado investimento público ou o excessivo investimento. Não queremos que se repita a crise de 2011 em que
o Governo socialista nos colocou e que obrigou, depois, a não sei quantos anos de correções.
A dúvida entre haver ou não investimento público não é nem dogmática nem ideológica, a dúvida é entre o
certeiro investimento público.
Dou-lhe um exemplo, Sr. Ministro: o Plano refere o reforço do número de utentes com médico de família e
com enfermeiro de família, portanto está a ignorar, certamente, o que o seu Primeiro-Ministro disse em 2016
sobre o facto de em dois anos todos terem médico de família.
De que nos vale estar aqui a aprovar planos, quando sabemos que isso não vai valer de nada ou quando, no
ano passado, a Sr.ª Ministra da Saúde prometeu que todos teriam enfermeiro de família? Aqui chegamos e
nada!
No Plano é referida a educação física e o desporto — o grande incentivo, e bem, do Governo —, mas sabe
quantos ginásios e escolas de desporto fecharam durante a pandemia, com zero apoio do Governo? A promoção
do exercício físico e do desporto é uma área fundamental.
Há pouco, o Sr. Deputado Duarte Alves dizia, e bem, que o PCP não se pode condicionar perante a
aprovação deste Plano.