7 DE MAIO DE 2021
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trazendo-o para a esfera pública como instrumento especializado de apoio às micro, pequenas e médias
empresas e ao investimento, tão necessário no momento atual.
A auditoria do Tribunal de Contas e a decisão da Administração do Novo Banco demonstram a desfaçatez
com que os grandes grupos privados continuam a atuar na banca e a cumplicidade de quem não impõe a defesa
do interesse público.
A auditoria do Tribunal de Contas é clara: a administração que não cumpre com os deveres de reporte; a
administração que gere o banco de forma a consumir o máximo de verbas possíveis, não apenas nos ativos
abrangidos pelo acordo de capital contingente, mas em toda a atividade do banco; a administração que não
cumpre sequer com as obrigações de prestação de informação ao Tribunal de Contas; a administração que
continua a sonegar milhões de euros pagos pelos portugueses, é a mesma administração que procura premiar-
se com 2 milhões de euros, mesmo num ano em que milhares de portugueses passam por enormes dificuldades.
A desfaçatez é muita, mas a indignação tem de ter consequências. PSD e CDS são responsáveis pelas
decisões desastrosas que tomaram em relação ao BES, mas também o PS é responsável, porque insistiu numa
privatização, já de si ruinosa, e não acautelou mecanismos que impedissem a atribuição destes prémios e
remunerações variáveis para administradores e altos gestores do banco.
Sr.as e Srs. Deputados, as principais conclusões da auditoria do Tribunal de Contas confirmam aquilo que o
PCP diz há muito: confirmam que, ao contrário do que foi tantas vezes repetido, os recursos do Fundo de
Resolução são recursos públicos — consolidam no Orçamento, contam para o défice, são resultado de uma
contribuição fiscal. Nenhum outro setor além da banca tem o privilégio de ter uma parte dos seus impostos
diretamente consignada à resolução do próprio setor, quando gerem mal os seus recursos, nem sequer outros
setores que pagam, também, contribuições extraordinárias. E, mais, diz ainda o Tribunal de Contas que quem
acaba por pagar estas contribuições são os clientes bancários.
Por outro lado, o Tribunal de Contas diz também aquilo que há muito tem sido afirmado pelo PCP: quem
disse que haveria uma resolução ou uma privatização sem custos para os contribuintes mentiu aos portugueses.
O Governo PSD/CDS foi o primeiro responsável por essa fraude, ao afirmar que era possível resolver o BES
com 4,9 mil milhões de euros e que isso não representava custos para os contribuintes.
O Sr. João Dias (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — As consequências dessa fraude política estão ainda presentes, e também na Comissão de Inquérito vamos tendo cada vez mais certezas de que não havia nenhum «banco bom», limpo dos
ativos tóxicos.
O segundo responsável é o Governo PS que promoveu a ruinosa privatização do Novo Banco. Entregou à
Lone Star 75% das ações de um banco por zero euros, a troco de uma injeção de capital de 1000 milhões, mas
com garantia pública, que é disso que se trata, de 3900 milhões de euros.
Ficou a Lone Star com «a faca e o queijo na mão» para gerir os ativos abrangidos pelo acordo e também os
rácios de capital do banco, de forma a conseguir sugar toda essa verba e se possível ir mais longe ainda,
invocando circunstâncias adversas.
O Fundo de Resolução, que continua a ter 25% do banco, não tem nem um lugar na administração que lhe
permita controlar minimamente o que se passa em nome do interesse público. Disse o Governo que haveria
mecanismos de controlo. Ora, aquilo que já tínhamos percebido, e que agora o Tribunal de Contas confirma, é
que, na verdade, nenhum desses mecanismos funciona.
A Lone Star faz as engenharias necessárias para manter os níveis de capital à tona e vende os ativos a preço
de saldo para obter o máximo da garantia pública sem que o Fundo de Resolução exija a prestação de contas.
Já lá vão perto de 8 mil milhões de euros pagos pelos portugueses para suportar estas perdas, numa situação
que responsabiliza Governos, Banco de Portugal e, também, autoridades europeias.
O BES foi ao longo dos anos um instrumento que serviu os grandes interesses dos negócios da alta nos
offshores, de guerras de acionistas noutros bancos, do futebol, da construção, etc.
Já no período do Novo Banco, muitos destes devedores, que deviam às centenas de milhões, aumentaram
a sua exposição ao banco e continuaram a gerar perdas que continuam a ser pagas por todos os portugueses.
E o maior escândalo é este: continua a ser o Estado a pagar, mas o banco é privado.