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I SÉRIE — NÚMERO 63

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O Sr. André Ventura (CH): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: «Vieram durante a noite», foi assim que os moradores do Zmar, e aqueles que serão proprietários de vários espaços dentro do mesmo local, expressaram

hoje a forma como as autoridades procederam ao realojamento de migrantes em Odemira.

«Vieram durante a noite, quando ninguém esperava, para o fazer. Hoje, acordámos com uma preocupação

adicional: com os migrantes a explicar que tinham vindo durante a noite por razões laborais e também por razões

religiosas». Vergonha! Um País onde é mais importante que aqueles que são realojados o sejam de acordo com

as suas vontades, enquanto aqueles que são os nossos proprietários, os nossos homens e as nossas mulheres

que vivem neste território são deixados para trás, como se fossem descartáveis.

«Vieram durante a noite para ocupar as nossas casas e para ocupar uma parte deste estabelecimento, sem

que ninguém nos tenha dito nada». Este padrão de atuação do Governo não é incomum. Em 2020, aprovámos

nesta Câmara um regime especial para expropriações e servidões administrativas. O Estado que não sabe

quantos imóveis tem é o mesmo Estado que quer expropriar à vontade, sem qualquer problema e sem qualquer

limitação. O Estado que não sabe nem consegue inventariar os seus imóveis, apesar de, em 2009, esta

Assembleia o ter mandatado para isso, é o mesmo Estado que quer expropriar à vontade os portugueses de

bem, que pagam os seus impostos e que cumprem as suas obrigações.

O que se passa no Zmar é, sem dúvida, um problema de direitos humanos, mas também é um problema de

direitos humanos, que devíamos conhecer, aquele que ocorre quando um Governo autoriza 300 contentores

para esses migrantes viverem. Onde é que estava a conversa dos direitos humanos, quando o Partido Socialista,

com a cumplicidade da extrema-esquerda, permitiu que fossem usados contentores como meros locais de

aglomeração de pessoas?! Hoje, gritam, mas há um e dois anos permitiram que estes homens e mulheres

vivessem nessas condições! Agora, mãos no ar, lágrimas na cara, mas, quando olhamos, sabemos bem que

aquilo que a esquerda, hoje, quer é fazer disto um caso, apenas para dizer, tão-somente, que a agricultura é

que é a culpada, os proprietários é que são os culpados, os portugueses de bem é que são os culpados. É isto

que temos em Portugal, no Zmar e em muitas zonas do Alentejo e do Ribatejo. Temos um Governo incapaz de

gerir um problema que sabia existir há anos e que, agora, chega aos proprietários e diz: «Meus amigos, deem-

nos as vossas casas, deem-nos as vossas propriedades e deem-nos as vossas vidas».

Nós devemos perceber bem quando temos ou não de agir em prol daqueles que estamos aqui a defender.

E não houve nenhuma negociação com os moradores. Basta uma mera conversa, um contacto com eles para

perceber que a requisição que foi feita — porque não se chegou a acordo com os moradores — foi, na verdade,

uma fantochada, porque nunca houve negociação, nunca houve acordo, nunca houve qualquer intenção de

negociar. Há uma declaração unilateral do Governo, uma requisição que é ilegal e inconstitucional, e o Chega

exigirá nos tribunais que ela seja revertida, por ser um ataque inadmissível aos direitos humanos.

Por isso mesmo, amanhã ainda, o Chega entrará, novamente, no Supremo Tribunal Administrativo, para

pedir ao Estado, ao Estado responsável, que reverta a decisão deste Governo, de permitir que sejam

requisitadas casas, habitações e propriedades. Se, para estes partidos, não interessa o sofrimento daquelas

populações,…

A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Não diga disparates!

O Sr. André Ventura (CH): — … nós estaremos lá, a dizer que um tribunal tem de reverter esta decisão e que um Primeiro-Ministro não é senhor absoluto do território.

Pediremos, também, à Procuradoria-Geral da República que fiscalize a forma como foi feita esta requisição

e como continua a ser abordada em Portugal. É que, Meus Senhores, não basta bater com a mão no peito e

dizer que temos uma Constituição liberal, que defende a propriedade privada, e que somos o País do mundo

que primeiro defendeu a propriedade, se estamos lá, na primeira linha, a bater palmas, quando as pessoas são

expropriadas dos seus bens e os seus terrenos são completamente postos à mercê de outros.

A imigração que temos em Portugal é legal e ilegal, mas não é disso que se trata neste caso, e todos os

países a têm, o que não podemos, nunca, o que não devemos, aquilo a que não temos direito é a dizer que

estes homens e mulheres, que vieram para Portugal trabalhar e devem ser acolhidos com dignidade, valem mais

do que os nossos próprios, que cá estão a trabalhar e a pagar impostos há anos.

Aquelas populações sentem-se abandonadas pelo Estado, há anos, em concelhos, alguns deles, de partidos

que, hoje, dizem aqui que, há anos, denunciam o problema, mas têm-no ali mesmo, há décadas, e gerem-no