20 DE MAIO DE 2021
15
Por outro lado, não podemos deixar de aproveitar esta oportunidade para mencionar os intérpretes da
Língua Gestual Portuguesa que se encontram numa situação de elevada instabilidade. Estamos a falar de
uma lei sobre a regulamentação da carreira que não sai e que já devia ter saído há mais de 20 anos, sendo
que o PAN já viu aprovadas várias propostas neste sentido, inclusivamente no âmbito do Orçamento do
Estado.
Sabemos que, até dia 30 de março, era suposto os representantes destes profissionais terem sido
contactados para serem inseridos numa comissão que viria a definir a regulamentação dos intérpretes da
Língua Gestual Portuguesa, o que, sabemos bem, é fundamental para dignificar e reconhecer o
importantíssimo trabalho destes profissionais — aliás, estou a assistir a uma profissional a trabalhar.
Por último, Sr.ª Ministra, sobre os cuidadores informais, está prestes a terminar o prazo dos 30 projetos-
pilotos previstos no Estatuto do Cuidador Informal.
Segundo informação de que dispomos, 7400 pessoas pediram o reconhecimento do Estatuto de Cuidador
Informal. Os dados divulgados revelam que, apenas, 2700 pessoas viram reconhecido este estatuto, pelo que
gostaríamos de deixar duas perguntas. Primeira, que estratégia tem a Sr.ª Ministra para estes 30 projetos-
pilotos que vão terminar no fim deste mês? Segunda, sendo que um dos aspetos que tem sido referido,
inclusivamente pelo seu Ministério, para explicar que o número reduzido de atribuições do referido estatuto se
prende com a não existência de uma relação familiar entre o cuidador e o dependente, gostaríamos de saber
se a Sr.ª Ministra está disponível para rever este critério.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — O último pedido de esclarecimentos deste primeiro conjunto pertence ao Sr. Deputado José Luís Ferreira, do PEV, a quem dou a palavra.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, começo por saudar o Partido Comunista Português por ter agendado o assunto da defesa dos direitos dos
trabalhadores para debate, porque, sendo um assunto sempre atual, ganha uma nova dimensão não só na
sequência da pandemia que estamos a viver, onde os abusos proliferaram, mas também face ao que se vai
conhecendo do mundo laboral, como o que se passa, por exemplo, em Odemira, nas margens do Tejo, no
Ribatejo e noutros locais do País.
Sr.ª Ministra do Trabalho, se fizermos o exercício de olhar para trás, percebemos com facilidade que a
legislação laboral tem vindo, ao longo do tempo, a ser objeto de profundas alterações, provocando um
agravamento no desequilíbrio das relações laborais, mas sempre em prejuízo de quem trabalha.
De resto, tudo serviu para fragilizar e desproteger a posição do trabalhador na relação laboral e, sobretudo,
no período do último Governo do PSD e do CDS-PP, assistimos a uma ofensiva contra quem trabalha, que
acabou por se traduzir na desvalorização do trabalho e até num ataque sem precedentes aos direitos
fundamentais de quem trabalha.
Referimo-nos às alterações à legislação laboral relativas, por exemplo, ao conceito de justa causa para
despedimento ou às alterações com o propósito de fragilizar e bloquear a contratação coletiva; o
desaparecimento no nosso ordenamento jurídico do princípio do tratamento mais favorável para o trabalhador;
e, ainda, as alterações em torno das regras para o despedimento, que se traduziram num verdadeiro convite
às entidades patronais para despedir, pondo as indemnizações, em caso de despedimento, mais baratas e
tornando o processo mais facilitado.
Como, naturalmente, se previa, estas opções apenas vieram estimular os despedimentos, tornar o trabalho
mais barato, colocar as pessoas a trabalhar mais e a ganhar menos e, sobretudo, enfraquecer ainda mais a
posição do trabalhador na relação laboral.
Hoje, decorridos estes anos, podemos concluir que todas estas alterações provocaram situações
dramáticas do ponto de vista social e não resolveram nenhum dos problemas, antes os agravaram.
A primeira pergunta que lhe deixo, Sr.ª Ministra, pretende saber da disponibilidade do Governo para
remover estas alterações à legislação laboral do nosso ordenamento jurídico, o que certamente contribuiria
para defender os direitos dos trabalhadores.
Depois, Sr.ª Ministra, a exploração laboral, nomeadamente a que se tornou recentemente mediática na
zona do Litoral Alentejano, tem envolvidas cadeias de contratação, subcontratação e prestação de serviços,