21 DE MAIO DE 2021
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O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Hortense Martins, na declaração política que fez disse que não é possível uma perspetiva egoísta no que toca à vacinação e disse
ainda que não se pode aceitar uma competição entre países, em que os países ricos fiquem a ganhar em relação
aos países pobres. Bom, da parte do Bloco de Esquerda, não podemos discordar destas formulações, o
problema é que, nesta matéria, como em muitas, o Partido Socialista diz uma coisa e faz exatamente o contrário.
Aquilo que o Partido Socialista faz, seja o seu grupo parlamentar, seja o Governo, ao resistir a levantar
patentes e ao ficar do lado dos interesses da BioNTech e da indústria farmacêutica alemã aliada à Pfizer, é
exatamente produzir uma perspetiva egoísta e uma competição entre países.
Repare no seguinte, e estou a citar: «o processo de vacinação na Europa é inaceitavelmente lento», diz a
Organização Mundial da Saúde; «o processo de vacinação…», e continuo a citar, «… é totalmente desigual e
injusto», disse António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas. É que 10 países têm acesso a mais de
70% das vacinas administradas e mais de 100 países, em todo o mundo, ainda não tiveram acesso a uma única
vacina.
Então, o que existe neste momento no mundo, com essa fantástica tática que o Partido Socialista apoia e
com a velocidade de elefante da União Europeia, é uma desigualdade e uma dificuldade de acesso à vacinação.
Porquê? Resistem a massificar a produção, resistem a levantar patentes, resistem a diversificar aquisições,
porque os interesses da Pfizer falaram, e falam, mais alto.
Creio que, na verdade, é preciso mais do que discursos malabaristas e é preciso mais do que uma Cimeira
Social, que ficou entre o bluff e o flop, de onde não saiu nada, inclusivamente sobre vacinação e sobre patentes.
Portanto, Sr.ª Deputada, aquilo que gostava de lhe perguntar era como é que compatibiliza as suas
formulações iniciais com uma posição que é insustentável e que está a dificultar…
O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Termino, Sr. Presidente. Dizia eu, aquilo que gostava de lhe perguntar era como é que compatibiliza as suas formulações iniciais com
uma posição que é insustentável e que está a dificultar o acesso à vacinação.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Silva, de Os Verdes.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, antes de mais, queria congratular a Sr.ª Deputada Hortense Martins por trazer a debate o tema da vacinação, tema que, como sabemos, veio para
ficar.
A vacina que nos permite voltar à normalidade dos dias, com todas as implicações positivas e negativas que
terá, é também a revelação de como a pandemia pode ter mudado muita coisa mas não mudou o essencial, a
solidariedade.
Hoje, ouvimos aqui aquilo que também não negamos: o processo de vacinação decorre de acordo com o
previsto e está a ser feito um esforço para que os mais vulneráveis à doença ou os que estão mais expostos
possam estar protegidos.
Mas se é importantíssimo sabermos o número de pessoas que estão a ser vacinadas, não podemos permitir
que os milhões de vacinados escondam os milhares ou dezenas de milhares que estão a ficar para trás.
Saudamos o esforço das equipas de vacinação, mas achamos importante saber quantos idosos isolados,
que já deveriam ter tomado a vacina, ainda não o conseguiram fazer, quantos não souberam ler as SMS que
foram enviadas, quantos não têm médico de família e, portanto, não foram colocados na roda da sorte para a
vacina,…
O Sr. João Dias (PCP): — Exatamente!