2 DE JUNHO DE 2021
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Estabelece as medidas a adotar com caráter de urgência para a atualização e o cumprimento do Plano de
Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (POPNSACV), prevendo a
suspensão imediata e provisória de novas instalações agrícolas intensivas ou superintensivas no Parque
Natural.
Tem a palavra, para abrir o debate, o Sr. Deputado João Dias, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Antes de mais, quero cumprimentar e saudar os mais de 6000 peticionários que assinaram a petição e aqueles que a levaram a cabo. É um direito que exercem
e, por isso, saúdo-os e cumprimento-os, até porque ela vem aqui trazer um tema muito importante: «O Parque
Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina não aguenta mais agricultura intensiva!»
O PCP entendeu juntar a esta petição um projeto de lei que determina a atualização da caracterização e
diagnóstico do estado das áreas protegidas e o regime de aprovação de projetos em territórios inseridos na
Rede Nacional de Áreas Protegidas, como é o caso do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina.
Srs. Deputados: O Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina foi
aprovado em 11 de dezembro de 1995, tendo em vista uma gestão adequada, assegurando a salvaguarda dos
recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentado e da qualidade de vida das populações.
Em 15 de junho de 1999, foi aditada a carta de gestão do Parque Natural, a que se seguiram várias
resoluções do Conselho de Ministros, em 2001, em 2011 e, finalmente, a bem conhecida Resolução do Conselho
de Ministros n.º 179, de outubro de 2019.
É uma resolução cheia de medidas casuísticas, de remedeio, temporárias, de aumento da área de estufas
ou estufins, feitas à medida de alguns, aceitando as violações cometidas à legislação e os atentados ambientais
e sociais que estão à vista de todos.
É uma resolução produzida contra a vontade dos cidadãos, sem os ouvir, sem ter em conta o seu
conhecimento da realidade e deixando de fora os verdadeiros interessados, os produtores agrícolas, os
pescadores, as entidades locais, as autarquias e as populações.
É uma resolução que engana a esperança que os cidadãos depositaram na instituição e nos gestores do
Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina, que iriam preservar e desenvolver, valorizar e
respeitar os valores presentes, numa ótica de sustentabilidade e diversidade. Afinal tudo não passou de um
conjunto de promessas.
É uma resolução que esquece e mete na gaveta a tão propalada educação ambiental que iria decorrer nas
escolas, junto dos agricultores e da população em geral.
É uma resolução onde o Governo diz querer produzir uma transformação profunda, mas que na prática é
uma mão cheia de nada, com imensas proibições apenas para alguns, marcada pelo desrespeito pelos que ali
vivem, pelas suas tradições, impondo a lei do mais forte e poderoso, prevalecendo o plástico por tudo o que é
sítio numa mancha quase contínua.
É uma resolução que, com decisões deste calibre, secundariza ou, melhor, ignora completamente a
convergência entre a defesa dos valores naturais e o desenvolvimento sustentável.
Srs. Deputados, o atual Governo, tomou decisões tão importantes para o futuro do Parque Natural. A questão
que queremos saber é: que informação ou estudos lhe serviram de suporte para estas decisões? Onde está a
definição da carga admissível para cada tipologia de projeto ou setor de atividade, considerando a análise das
pressões sobre o ambiente, os valores naturais, a qualidade de vida das populações, incluindo, Srs. Deputados,
as infraestruturas e o acesso a serviços públicos e a influência sobre as atividades tradicionais? Qual é o limite,
Srs. Deputados? Ou, afinal, não há limite e tudo pode ser permitido desde que seja compensado?
E, mais: por que razão este Parque Natural, em tempos designado como uma das joias do nosso País e dos
mais preservados e naturais da Europa, está agora confrontado com graves ameaças à sua sustentabilidade,
salvaguarda dos recursos naturais e dos ecossistemas?
Não podem negar que nestes territórios têm ocorrido alterações profundas, muitas relacionadas com práticas
agrícolas intensivas e superintensivas, em particular estufas, estufins ou túneis, que foram sendo permitidos ao
longo dos últimos 10 anos e em que faltaram ações com vista à defesa e salvaguarda do património natural que
esteve na base da classificação desta área protegida.