I SÉRIE — NÚMERO 77
46
Esquerda, que será apresentada, no Parlamento, para retirar a possibilidade de nova mineração em áreas
protegidas.
O que o Sr. Ministro não pode fazer é chegar aqui, indignar-se, dizendo «olhem, no Bloco de Esquerda,
estão a dizer que isto abre a porta à mineração!», mas, depois, quando há consequências, já querer a porta
entreaberta na lei.
Portanto, a primeira pergunta concreta é a seguinte: vamos ter, ou não, novas minas em áreas protegidas?
O Governo apoia, ou não, a alteração na lei, para garantir que não há novas minerações em áreas protegidas?
Quero continuar a falar de áreas protegidas, mas sobre outra questão. Disse, agora, que o Governo tem
muito orgulho na cogestão das áreas protegidas e o Partido Socialista também, mas não disseram o que é isto
da cogestão das áreas protegidas.
O Sr. Ministro até diz que esse tempo de ter um chefe, um diretor, por área protegida acabou. Não, pelo
contrário, o que a lei prevê é que, agora, há um presidente de câmara que passa a ser o chefe da área
protegida. É esse o conceito.
Mas há pior! Repito: há pior!
Protestos do Ministro do Ambiente e da Ação Climática.
Não precisa de ficar nervoso. Percebo que o Ministro do Ambiente, cujo País é acusado, pela Agência
Europeia do Ambiente, de ter as áreas protegidas mais degradadas de todos os países da Europa, fique
nervoso, mas julgo que posso terminar a minha intervenção. O Sr. Ministro do Ambiente não precisa de ficar
com preocupações sobre a minha intervenção.
Voltando à questão da cogestão das áreas protegidas, o que vem a ser mesmo isto?! Está na Portaria n.º
67/2021. O Governo entregou a cogestão das áreas protegidas às câmaras municipais e elencou um rol de
critérios para a gestão das câmaras municipais. Está lá a proteção da natureza?! Não. Está lá a proteção da
biodiversidade?! Não. Está lá arrancar e destruir as espécies invasivas?! Não. Estão lá quaisquer indicadores
sobre a natureza? Absolutamente zero.
O que é que lá está?! Número de visitantes. Está lá que é preciso ampliar número de visitantes, portas de
entrada, infraestruturas de lazer e de visitação, novos produtos. Ou seja, o que o Governo diz às câmaras
municipais é o seguinte: «Tomem lá as áreas protegidas, mas não se preocupem com o ambiente, nem com
as áreas protegidas, porque o que interessa é transformar as áreas protegidas em negócio, é ter mais
visitantes.»
Isto não é alheio à principal crítica do Bloco de Esquerda sobre este processo: é que o Governo faz a
descentralização de competências e dá-as às câmaras municipais para quê?! Para que o Estado central se
desresponsabilize e diga às câmaras municipais: «Agora, arranjem dinheiro para gerir, porque, daqui a uns
anos, o Orçamento do Estado começa a fechar a torneira às áreas protegidas.»
É por este tipo de conduta que temos o País com as piores áreas protegidas da União Europeia,
infelizmente.
Desafiamos o Governo a acabar com a cogestão, que é uma competência do Estado central. Mas, se a
quiser manter, mesmo contra a vontade do Bloco, desafiamo-lo a fazer uma nova portaria, com critérios de
conservação da natureza. É inacreditável termos áreas protegidas cujo único critério é o número de visitantes,
os novos produtos e as vendas. Não!
É preciso proteger a natureza e, nisto, o seu Governo está a falhar redondamente.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro do Ambiente.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Nelson Peralta, a
verdade causa-lhe pruridos. No mínimo, causa-lhe pruridos, porque, de facto, quando V. Ex.ª repete ad
nauseam uma pergunta para a qual sabe perfeitamente a resposta, só lhe posso dizer que a verdade lhe
causa mesmo um prurido.