3 DE JULHO DE 2021
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Porém, mais uma vez, é preciso enquadrar estas propostas numa discussão mais geral sobre a justiça fiscal
e sobre a estrutura do IRS.
É preciso que tenhamos consciência de uma coisa, Srs. Deputados: de cada vez que criamos ou
aumentamos uma dedução fiscal em sede de IRS, estamos objetivamente a reduzir a progressividade do
imposto e a justiça fiscal. Quanto mais altos são os rendimentos, mais impacto têm, no apuramento do IRS, as
deduções fiscais.
Basta pensarmos no seguinte: os mais de 40% de contribuintes que, por terem rendimentos tão baixos, são
abrangidos pelo mínimo de existência e, por isso, são isentos de IRS, beneficiariam zero destes aumentos das
deduções fiscais.
É preciso por isso que cada dedução que se junta às já existentes seja bem ponderada e enquadrada na
estrutura atualmente existente de deduções, sob pena de se subverter princípios de justiça fiscal.
É que, quanto maiores são os rendimentos, mais disponibilidade financeira há para ter maiores despesas
dedutíveis. No caso da educação, é ainda mais evidente, tendo em conta as despesas com colégios privados,
que só alguns podem pagar.
Aumentar a dedução para 50%, como propõe esta iniciativa, e ainda majorá-la quanto maior for o número de
dependentes, resultaria neste absurdo: uma família numerosa, com altos rendimentos, com todos os cinco filhos
num colégio privado seria beneficiada no IRS, face a um jovem casal ou uma família monoparental com baixos
rendimentos que só tenha um filho. Isto é agravar a injustiça fiscal, por muito que a intenção proclamada pela
iniciativa possa ser outra.
Aumentar de forma isolada as deduções, ainda por cima com base em critérios como o número de
dependentes e não em critérios baseados nos rendimentos, é agravar a enorme injustiça fiscal que já hoje existe,
em sede de IRS.
O que é preciso é o contrário, é tornar o IRS mais justo, mais progressivo, baixando a tributação sobre quem
vive do seu trabalho e tem rendimentos mais baixos e intermédios.
Propõe-se ainda nesta iniciativa que as despesas com computadores e material informático sejam incluídas
nas despesas de educação dedutíveis no IRS. Havendo, desde logo, a dificuldade de demonstrar o que se
destina a fins educativos e o que se destina a outros fins — e esta não é uma questão de somenos —, esta
proposta coloca nas famílias uma responsabilidade que é do Governo.
Cabe ao Governo cumprir com a entrega de material informático aos alunos de forma gratuita, permitindo
condições de aprendizagem a todos e não apenas àqueles que os possam pagar. Aí o Governo tem falhado e
que se exige é que deixe de falhar!
Em várias ocasiões, o PCP afirmou a necessidade de alargar a distribuição de computadores aos alunos e
de garantir o acesso gratuito à internet para os estudantes, tal como já acontece com os manuais escolares, por
iniciativa do PCP.
Garantir a todos as mesmas condições de aprendizagem é o que se exige, e não propostas como a que nos
é trazida hoje, que só beneficiaria quem tem mais condições económicas, deixando de fora os estudantes de
famílias com menores rendimentos.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Mais uma vez, tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS-PP. Já estava com saudades de a ouvir.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Muito obrigada, Sr. Presidente, e eu com saudades, desde há cerca de 10 ou 15 minutos, que me desse a palavra.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta de lei que, hoje, a Assembleia Legislativa da Região
Autónoma da Madeira nos traz e que tem a ver com deduções ao IRS, relacionadas com a educação, é uma
proposta muito relevante.
Gostava de lembrar, em primeiro lugar, que, durante a pandemia, muitos estudantes passaram a ter de
estudar online e, portanto, algum do equipamento informático que poderia ser opcional passou a ser um bem de
primeira necessidade.