3 DE JULHO DE 2021
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Governo falhou quando garantiu às famílias que daria capacidade aos seus filhos e filhas para participarem nas atividades letivas com os
computadores que as escolas forneceriam — e falhou várias vezes, porque várias vezes prometeu e não cumpriu
com a entrega desses computadores nas escolas. Falhou aos alunos e falhou às famílias.
Falhou também a muitos profissionais, particularmente aos professores, porque não lhes deu os meios, que
deveria ter dado, para trabalharem em teletrabalho.
Estas falhas do Governo existiram e exigem responsabilidade. E nós, ao longo de todos estes meses,
dissemos ao Governo que não estava a cumprir e que esse efeito era prejudicial, porque aumentava a
desigualdade entre famílias, alunos, tinha a consequência, que pretendíamos que não existisse, dos atrasos do
ano letivo, e tinha ainda como consequência deixar crianças para trás, que dificilmente depois conseguiríamos
recuperar em tempo útil.
O Governo não quis saber. O Governo ignorou e adiou, atrasou, atrasou, ao ponto de, ainda hoje, não ter
cumprido o seu objetivo de setembro passado, quase no início do ano letivo.
A resposta a este problema é qual? Deduções fiscais?! Não é essa a nossa perceção.
O problema existiu, mas não é aumentando a desigualdade que o resolvemos, porque as deduções fiscais
aplicam-se a quem tem determinado rendimento e pagou imposto, e só se paga imposto a partir do salário médio
nacional, na maioria dos casos das famílias portuguesas. Por isso, quem beneficiará destas deduções agora
propostas nem é bem a classe média: é a classe média-alta, neste contexto.
Por isso, aqueles que até tiveram mais custos, cujo rendimento familiar foi mais onerado para responder a
esta necessidade de adaptação a um ano letivo de ensino à distância, com uma pandemia que assim o obrigou,
continuam a não ter nenhuma resposta com esta iniciativa legislativa. Mais: transforma-se o Código do IRS em
algo ainda mais desigual, em vez de se criar a igualdade ou de se caminhar para ela, como se deveria exigir ao
Código do IRS.
É por isso que esta iniciativa é errada. Ela bebe a sua génese de um problema cuja responsabilidade só ao
Governo diz respeito, mas não responde ao problema e cria ainda mais desigualdades no País.
É por esse motivo que não a acompanharemos e pretendemos que ela até seja rejeitada por esta Câmara.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Miguel Matos, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Miguel Matos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira traz-nos um projeto sobre uma matéria importante. Numa pandemia como esta, todos
percebemos a importância de ter equipamentos informáticos, para estudar ou para trabalhar, e todos nos
apercebemos das desigualdades inerentes à possibilidade de comprar estes equipamentos. Portanto, toda a
gente quer que os jovens tenham equipamentos informáticos, para poderem estudar.
A questão não é, portanto, a da substância, mas, sim, a da forma como este projeto escolhe apoiar os jovens
neste desiderato.
Devemos fazer três perguntas sobre a forma como a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira
escolheu apoiar a compra de computadores, para saber se estamos a apoiar as pessoas certas e no tempo
certo, se esta é uma forma eficiente de apoiar as pessoas e se não há outra forma mais eficaz de as apoiar.
Quanto à primeira pergunta, aquilo que constatamos — e que já tem sido alvo de muitas intervenções neste
debate — é que, verdadeiramente, para além de poder beneficiar de uma dedução à coleta, não só tem de ter
um rendimento superior ao mínimo de existência, que cobre cerca de 40% dos agregados familiares, como foi
dito, como, além disso, não pode ter já esgotado a sua coleta de IRS com um conjunto de deduções que já
existiam sobre esta e outras matérias.
Por isso, na verdade, quem estaríamos a beneficiar seriam as famílias de classe média, média-alta, para
poderem comprar computadores.