I SÉRIE — NÚMERO 8
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Hoje, o mundo vive rodeado de incertezas e de disrupções na sua cadeia de abastecimento, o que faz com
que empresas, apesar de viáveis, apesar de terem encomendas, não possam produzir, porque estão à espera,
por exemplo, de um microchip que é produzido algures na Coreia ou na Ásia e que não chega.
Estamos a ter, neste momento, um impacto brutal na indústria, muito significativo, que é uma ameaça à
nossa recuperação económica.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, temos de definir bem quais são as prioridades. E, Sr.ª Deputada, com toda a franqueza, creio mesmo que a urgência deste Orçamento do Estado vai ser a de continuar a
responder à emergência social que emergiu da crise da COVID e que não podemos dar por ultrapassada.
O Sr. Presidente: — Tem de concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — É aí que temos de continuar a colocar o nosso maior esforço. Depois, cá estaremos, daqui a um ano, para discutir outros Orçamentos e para resolver outros problemas,
designadamente os herdados do passado.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PCP e, para formular as suas perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, é verdade, os problemas da pandemia estão mais aliviados, mas os velhos problemas continuam cá todos, com pandemia ou sem
pandemia. E é perante a epidemia que gostaria de colocar a primeira ideia: nós procurámos dar a resposta
que se exigia e o PCP interveio para garantir o pagamento dos salários por inteiro, a renovação automática
dos subsídios de desemprego, mais crianças com creche gratuita e o aumento de pensões para 1 milhão e
900 mil reformados.
Hoje, face ao avolumar dos problemas sem resposta ao longo dos anos e, particularmente, quando se
exibem meios financeiros e se fazem anúncios atrás de anúncios, não é aceitável que o Governo continue sem
dar resposta aos problemas do País, uma resposta ampla e profunda que ponha a vida dos portugueses à
frente das metas do défice, uma resposta que, no que é decisivo e estruturante, não se fique por replicar
opções favoráveis aos interesses do grande capital, como tem vindo a acontecer, e os últimos exemplos são
os despedimentos e encerramentos da refinaria de Matosinhos e da Saint-Gobain Sekurit.
Sim, é urgente um novo caminho para o País, como o PCP tem defendido. Os trabalhadores e o povo
português querem respostas efetivas, respostas no Orçamento do Estado, mas também para lá do seu
conteúdo.
Não se pode adiar mais o aumento geral dos salários, uma emergência nacional que exige a eliminação da
caducidade da contratação coletiva, um aumento do salário mínimo nacional que rompa com a trajetória ditada
pelas pressões do grande patronato, o fim de mais de uma década de congelamento dos salários da
Administração Pública e a eliminação das injustiças do sistema de avaliação e de uma tabela remuneratória
amalgamada.
Não se pode adiar o combate à precariedade e aos horários de trabalho selvagens.
Continuando o percurso do aumento das pensões mais baixas, não se pode adiar mais — e esta questão,
há pouco, esteve ausente — a recuperação do poder de compra perdido pelos reformados com pensões
superiores a 658 €.
Não se pode adiar o investimento nos serviços públicos, a começar pelo SNS, com prioridade para a
valorização das carreiras e dos salários capaz de garantir a fixação dos profissionais e o reforço das unidades
de saúde. E este investimento está colocado na ordem do dia, como o demonstra o caso do hospital de
Setúbal.