I SÉRIE — NÚMERO 8
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trabalhadores que aceitam a compensação por despedimento não podem contestar o despedimento — e
muitos trabalhadores face ao desemprego, com casas para pagar e com crianças, não têm outro remédio a
não ser o de aceitar a compensação naquele momento, mas, depois, não podem ir a tribunal. Nós podíamos,
no Parlamento, ter corrigido essa injustiça e o Partido Socialista não quis. Foi um erro e é o que faz com que,
dos 250 ilegalmente despedidos na Altice, haja 30 trabalhadores que se mantêm a ir para os tribunais, porque
os outros não tiveram alternativa a não ser ficar com a compensação.
Mas todo este processo é possível porque é muito barato e muito fácil despedir em Portugal. A Altice, aliás,
mandou uma carta para todos os trabalhadores da empresa a avisar que a restruturação estava só a começar,
para que todos soubessem — repito, para que todos soubessem — que à Altice compensa despedir e criar
outsourcings ilegítimos, com salários mais baixos.
Uma das razões por que compensa despedir é porque as compensações por despedimento, que eram de
30 dias por cada ano de trabalho, passaram a ser de 12 dias por cada ano de trabalho durante o tempo da
troica. Isto acontece em empresas como a Altice, mas não só, porque está a acontecer no Santander também,
onde trabalhadores estão a ser substituídos por outros que vão entrar em outsourcing a ganhar menos. Não é
só a banca a encolher, é mesmo a substituição de trabalhadores de quadro por trabalhadores em outsourcing
que ganham menos. Volto a dizer: que ganham menos! É compressão salarial, o que, aliás, as comissões de
trabalhadores têm vindo a denunciar.
A pergunta que lhe deixo, Sr. Primeiro-Ministro, é a seguinte: porque é que o Partido Socialista não aceita
mudar a lei?
Bem sei que não temos exatamente a mesma posição. A posição do Bloco de Esquerda é simples: a
compensação por despedimento deve voltar a ser de 30 dias por cada ano de trabalho como era antes da
troica.
O Partido Socialista votou contra essa compensação ser de 12 dias. Na altura defendeu que fossem 20
dias.
Está disponível agora para que as compensações por despedimento passem a ser de 20 dias por cada ano
de trabalho para não facilitar a vida às empresas que estão objetivamente a pressionar os salários para baixo
em Portugal?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, sim, é preciso coragem para enfrentar os problemas do País hoje, como era há um ano, como era desde o início desta crise, como foi
necessária coragem para virar a página da austeridade em 2015.
Aplausos do PS.
O salário médio em Portugal tem vindo a subir consistentemente desde 2017. Temos de continuar a
trabalhar para que assim continue, porque não podemos ser um país de baixos salários, nem podemos voltar
a competir à custa dos baixos salários. Isso implica, designadamente, um conjunto de medidas que temos
vindo a adotar para incentivar a negociação coletiva, para agilizar as portarias de extensão e para reforçar o
diálogo social entre os diferentes parceiros.
Neste momento, precisamente, a Sr.ª Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública está
em negociação com as estruturas sindicais dos funcionários públicos para discutir a evolução salarial do
próximo ano.
Temos pressionado bastante os parceiros sociais para que tenham uma cultura ativa de diálogo social, de
negociação coletiva e de concertação social. Tal é absolutamente decisivo para que isso aconteça.
No âmbito da Agenda do Trabalho Digno, que temos em discussão na concertação social, há um conjunto
de prioridades que temos afirmado: a necessidade de combater o recurso abusivo ao trabalho temporário; a
necessidade de reforçar o combate ao falso trabalho independente; desincentivar o recurso injustificado ao
trabalho não permanente; prevenir abusos relativos ao período experimental; reforçar o combate ao trabalho