I SÉRIE — NÚMERO 8
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O Sr. Rui Rio (PSD): — Sr. Primeiro-Ministro, o interesse e a curiosidade não são meus. Penso que o interesse e a curiosidade são de todos os contribuintes a quem a AT faz pagar os pagar os impostos, com a
carga fiscal que sabemos.
Aplausos do PSD.
Mas, como é para um «grande», para a EDP, 150 ou 130 milhões de imposto de selo são uma bagatela!
Não consigo entender. Portanto, agradecia efetivamente que a Dr.ª Helena Borges dissesse aos seus técnicos
que convinha dar essa informação para, depois, confrontarmos os dois pareceres. Vamos ver o que está muito
bem elaborado, que diz que tem de pagar, e como está elaborado o outro, que, eventualmente, vai dizer que
não tem de pagar.
Sr. Primeiro-Ministro, trago agora uma outra questão mais importante, muito mais importante, se formos
olhar em termos numéricos. A questão de que falei era de cerca de 150 milhões e a de que vou falar é de 4,5
mil milhões.
O Governo reverteu a privatização da TAP (Transportes Aéreos Portugueses) e este é um erro que
estamos todos a pagar forte e feio. Reverteu a privatização de uma empresa falida, de uma empresa que dá
regalias enormes e que sempre viveu dos nossos impostos. Podia dar as regalias e pagar todos aqueles
salários que quer pagar se fosse uma empresa lucrativa e se não vivesse dos nossos impostos, mas vive dos
nossos impostos.
Este Governo passou para a TAP, em 2016, 2 milhões de euros; em 2017, 55 milhões de euros; em 2020,
1,2 mil milhões de euros; em 2021, no Orçamento do Estado, 970 milhões. Para 2022, foram anunciados pelo
Sr. Ministro das Finanças mais 1000 milhões e já estão programados 500 milhões de euros de um aval que, de
certeza, a TAP não vai pagar; em 2023, estão programados mais 400 milhões de euros de outro aval, que a
TAP não vai pagar; em 2024, 400 milhões de euros de outro aval, que a TAP não vai pagar. Sem avales, são
3,2 mil milhões e o que conta, com avales, que é o que vamos pagar, é 4,5 mil milhões de euros.
Acresce que a TAP se comporta autenticamente como uma empresa regional, abandonando o País, não
prestando qualquer serviço público, olhando apenas para o aeroporto de Lisboa. O setor exportador está no
Norte, a imigração fundamental dos anos 50, 60 e 70, para França e para a Alemanha, vem do Norte —
portanto, há famílias que estão fora, têm família cá e precisam do serviço da TAP —, o turismo está no Norte,
mas está também na Madeira, nos Açores, no Algarve. Mas nos Açores, na Madeira, em Faro, no Porto não
há nada! A TAP recebe o dinheiro dos nossos impostos, nesta dimensão absolutamente brutal, e, ao mesmo
tempo, não presta qualquer serviço público, abandonando, pura e simplesmente, o País.
Aplausos do PSD.
Sr. Primeiro-Ministro, em minha opinião, isto é uma dupla falta de respeito pelos impostos dos portugueses.
É uma monstruosidade e é uma falta de respeito porque todos os portugueses vão pagar estes 4,5 milhões de
euros: os portugueses de Bragança, de Faro, da ilha da Graciosa, da ilha do Corvo, de Porto Santo, todos vão
pagar! São 4,5 mil milhões de euros a dividir por 10 milhões de portugueses, o que dá, em média, 450 € a
cada um, ou seja, há portugueses que vão pagar 2000, 3000, 4000 € para a TAP, por conta dos outros, por
quem tem parcos rendimentos — coitados! — e só vai poder pagar, então, 30 €. Mas, em média, todos vão
pagar, apesar de a TAP só olhar para uma parte do País.
Portanto, tenho duas perguntas. A primeira é no sentido de saber o seguinte: 4,5 mil milhões de euros já
estão garantidos, 450 € a cada português já estão garantidos. Mas é só isto? Tem a certeza de que é só isto?
Garante que é só isto ou ainda vamos ter mais?
A segunda pergunta é a seguinte: apesar de dar este dinheiro todo, o Governo não vai impor-se à TAP?
Não vai dizer que ou a TAP presta serviço público e olha para o País como um todo ou, então, isto ultrapassa
tudo aquilo que é minimamente admissível?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.