3 DE NOVEMBRO DE 2021
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global. Nós achamos que o corte tem de ser feito com uma mudança na economia dos países ricos e com
apoio aos países do sul global para a transição.
Toda a gente pode ver o anúncio de uma grande petrolífera que também trabalha em Portugal e que diz
que é neutra em carbono. Porquê? Porque polui à vontade, mas depois faz uns fornos solares no México para
a população não queimar lenha e isso já é considerado despoluição.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Nelson Peralta (BE): — O que é preciso mesmo é mudar a economia nos países mais ricos, que foram aqueles que beneficiaram de um modelo de desenvolvimento que é irrepetível a nível global.
Já agora, gostaria de dizer que o Governo português falhou o seu compromisso para com as Nações
Unidas em relação ao financiamento do fundo verde para apoiar os países em desenvolvimento. É uma
grande falha do Governo português!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, do Grupo Parlamentar do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Já que na semana passada se encerrou o debate do Orçamento do Estado com palavras de belas canções, ocorre-me voltar a José Mário
Branco e citar um simples verso: «houve aqui alguém que se enganou».
Enganaram-se os partidos da direita e os comentadores ao seu serviço, que acusavam o PCP de
transformar o debate sobre os orçamentos do Estado numa mera encenação, na qual o PCP e o PS
simulavam divergências quando se sabia que, no final, ambos votariam o Orçamento. Enganaram-se aqueles
que pensavam que o PCP se sentiria obrigado a viabilizar o Orçamento do Estado, fosse ele qual fosse,
mesmo perante a recusa de o Governo fazer opções que assumissem compromissos e que sinalizassem um
sentido de resposta aos problemas mais prementes com que o País se confronta. Enganaram-se aqueles que
pensavam que o PCP se intimidaria com a campanha de vitimização já em curso, destinada a convencer os
portugueses de que a rejeição de uma proposta de Orçamento que só tem o apoio do PS é da
responsabilidade do PCP e não do PS.
O PCP não se empenhou no debate do Orçamento do Estado para 2022 com o propósito de o rejeitar e
encarou o debate sobre esta proposta com o mesmo espírito com que encarou o debate de todas as propostas
de Orçamento: aquelas que aprovou, aquelas em que se absteve, aquelas em que decidiu votar
contrariamente. Por isso, dizemos com toda a tranquilidade: o Orçamento do Estado para 2022 não foi
aprovado porque o Governo não quis.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Enganou-se o Sr. Presidente da República se pensava que ameaçar o PCP com a convocação de eleições antecipadas teria algum efeito sobre a independência do PCP para tomar as
suas próprias decisões. Ao ameaçar com a convocação de eleições como forma de pressão sobre uma
decisão soberana desta Assembleia, o Sr. Presidente da República tornou-se ele próprio um fator de
instabilidade política.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Ao ameaçar com a convocação de eleições, o Sr. Presidente da República deu ao Governo a senha de que este precisava para rejeitar qualquer esforço sério de convergência que
permitisse viabilizar o Orçamento e para se apresentar a eleições pedindo uma maioria absoluta que lhe
permita governar sem qualquer intenção de responder aos problemas nacionais.