I SÉRIE — NÚMERO 21
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Entretanto, seguiu-se um processo de especialidade, em que o PCP tentou retirar da lei estas referidas
questões e alterações negativas. Chamou a atenção ⎯ sim, não acordou agora para esta questão! ⎯, mas as
propostas que eliminavam a figura do cartão do adepto e a zona com condições especiais de acesso e
permanência de adeptos, entre outras, foram rejeitadas pelos restantes partidos.
Pelas piores razões, com a pandemia e as medidas de confinamento decretadas, os impactos da lei e da
respetiva portaria que regulamenta o cartão do adepto e das zonas especiais vieram sentir-se mais à frente.
Não que não tivesse havido avisos e alertas, porque, além do PCP, desde a primeira hora, associações e grupos
de adeptos se fizeram imediatamente ouvir, como é o caso da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto.
Mas, enfim, hoje estamos aqui e temos oportunidade de corrigir este erro e impedir que tome proporções
maiores. As consequências destas medidas são várias e não resolvem nenhum dos problemas a que se
propunham.
O que hoje se decide é se devemos insistir numa má solução. Decide-se se um adepto deve ser discriminado
e tratado com suspeição pelo facto de o ser. Decide-se se queremos dividir os adeptos em bons e maus, se
queremos zonas em que não podem entrar jovens com menos 16 anos, afastando-os das suas famílias. Decide-
se se queremos limitar, ainda mais, a utilização de bandeiras e outras formas de expressão. Decide-se se um
adepto, que o queira ser em toda a plenitude, tem de registar-se e fornecer dados, de forma desproporcionada
e sem justificação. Decide-se se só se pode ser adepto mediante o pagamento de 20 € pelo próprio registo, se
fica dificultada a participação dos adeptos em jogos fora de casa e se, em última instância, queremos ver as
bancadas vazias e o desporto cada vez menos ligado à vida e ao povo.
Estão em causa um conjunto de coisas e nenhuma delas tem que ver com o combate à violência, ao racismo
ou à xenofobia.
Srs. Deputados, a violência e as discriminações são graves problemas que existem na sociedade e que se
revelam em vários contextos, dentro e fora dos recintos desportivos e a montante destes.
Por isso, em vez de soluções fáceis e injustas, procure-se resolver os problemas sociais, económicos e
culturais que estão na origem desses problemas e do aproveitamento dos mesmos e procure-se sempre
soluções que sejam adequadas, proporcionais e eficientes.
Este é o compromisso e, simultaneamente, o desafio que o PCP aqui deixa nesta discussão e no dia em que,
desejavelmente, enterramos o cartão: que se desfaça o que está mal feito e que se faça uma verdadeira
discussão sobre o problema com todos os agentes desportivos, não contra eles, mas com eles. Abaixo o cartão
do adepto!
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: ⎯ Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: Revogar o cartão do adepto é não só uma questão de liberdade como de eficácia.
Todos os exemplos que temos na União Europeia e fora dela, de instrumentos semelhantes a este, mostram
que foi ineficaz no combate aos fenómenos que pretende combater e que aumentou, consideravelmente, os
custos de quem quer assistir ao fenómeno desportivo.
O socialismo conseguiu uma coisa extraordinária: até no desporto, consegue cobrar taxas! É um fenómeno
tão intrínseco ao socialismo a ideia de que até para se divertir e para disfrutar do desporto é preciso pagar! Mas,
em Portugal, isso tem uma agravante, pois o fenómeno do racismo e da xenofobia são pretextos para cobrar 20
€ ou 30 € aos adeptos de futebol.
Os projetos que aqui foram apresentados deviam ter ido mais longe, porque o regime sancionatório que
temos nesta lei é absolutamente absurdo na forma como aplica e permite sanções no âmbito do desporto.
Qualquer pessoa que olhe para este regime com olhos jurídicos, de análise, percebe o erro e o excesso que
estes projetos contêm.
O projeto de lei do Chega vai mais longe e reforça a videovigilância no fenómeno do desporto. Se hoje temos
muitos problemas de violência dentro dos estádios de futebol e de outros recintos, meus senhores, não é preciso
cartão do adepto, nem mais burocracia, nem mais custos, é preciso mais segurança, mais transparência e mais
videovigilância.