I SÉRIE — NÚMERO 21
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O Sr. Luís Monteiro (BE): — O cartão do adepto, em suma, não veio garantir mais transparência nesses processos, veio, ao invés, englobar a participação de todo e qualquer espectador de eventos desportivos num
debate que, em grande medida, deve incidir sobre a clarificação da relação entre clubes e claques.
No mesmo sentido, com o propósito de combater o racismo, a xenofobia e a intolerância, proibir todo e
qualquer tipo de manifestação política pode revelar-se um passo atrás. O que é necessário, isso sim, é fazer
cumprir a Constituição da República Portuguesa no que toca ao combate às expressões de cariz fascista e
racista.
Sabemos que, desde 2009, esta lei já foi revista duas vezes e, com o debate de hoje, podemos caminhar
para uma terceira. O importante é que consigamos aprofundar um caminho que já foi iniciado há mais de uma
década e com a certeza de que o futebol se faz um desporto popular, porque no dia em que perder os seus
adeptos deixa de ser futebol.
É isso que deve sempre manter-se no debate que queremos aqui: um desporto popular e inclusivo, sem
violência e sem exclusão.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: ⎯ Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Silva, do PAN.
O Sr. Nelson Silva (PAN): ⎯ Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Desde que foi criado, o cartão do adepto tem gerado mais problemas do que soluções. Num contexto de desconfinamento e de alívio das restrições
ligadas à crise sanitária, a implementação do cartão do adepto veio complicar desnecessariamente o que deveria
ser simples ao implicar mais restrições e burocracias à simples participação num evento desportivo.
Este cartão surgiu com a ideia nobre de combater o racismo e a intolerância nos eventos desportivos, no
entanto, este objetivo foi completamente falhado. A delimitação de uma zona, que tem como objetivo conter
adeptos problemáticos, além de discriminar e segmentar os adeptos, que, simplesmente, optam por essa zona
do estádio, acaba por fazer o contrário.
No estádio da Luz ou em Alvalade, no estádio da capital do móvel ou no estádio municipal de Arouca, as
zonas designadas do cartão do adepto encontram-se predominantemente vazias, espalhando-se os supostos
adeptos problemáticos por todo o estádio.
Além disso, os indivíduos que optem por adquirir o cartão do adepto, além de terem que pagar um bilhete
para o evento, os 20 € do cartão e preencher todas as burocracias adicionais que lhe estão associadas, acabam
por se ver separados da restante massa associativa do seu clube, apagando por completo a chama de apoio
que reside dentro de cada adepto.
Estas complicações tornam-se ainda mais gritantes quando o adepto pretende ir ver o seu clube num jogo
fora de casa.
Desde a criação do cartão, o apoiante tem de possuir este documento se quiser comprar bilhete para a zona
atribuída ao seu clube no estádio do rival. Mais uma vez, este cartão complica o que não devia ser complicado
e acrescenta uma burocracia desnecessária a quem pretende apoiar o seu clube.
O veredicto é unânime e, entre adeptos e clubes, dirigentes e claques, a impopularidade desta medida é
quase palpável. Mais palpável do que isto só a falta de consideração do Governo ao ter promovido uma medida
que sabia que ia ser contestada pelos adeptos e ao dificultar a vida aos clubes num contexto de reabertura ao
público e de alívio das medidas de combate à pandemia.
Mais: se o Governo tivesse feito o seu trabalho de casa, saberia que em Itália e em Inglaterra foram
promovidas medidas semelhantes à do cartão do adepto e que estas também se destacaram pelo seu insucesso.
O PAN acredita que o racismo, a xenofobia e a intolerância devem ser combatidos tanto dentro como fora
dos estádios e, apesar de saudarmos a intenção de o Governo entrar neste combate, é visível que o cartão do
adepto em nada ajuda nesta batalha e apenas piora a experiência de lazer do adepto.
Com isto, acompanhamos a abolição do cartão do adepto, mas não baixamos os braços no combate ao
racismo no futebol.
O PAN olha com interesse para medidas semelhantes às que foram implementadas, por exemplo, em
Espanha, e esperamos poder lançar esse debate com mais tempo e ponderação na próxima Legislatura, de