27 DE NOVEMBRO DE 2021
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Representam, como gostavam de dizer os clássicos da Roma antiga, um elo indestrutível entre o destino pessoal
e o destino da República.
É, pois, dessa cidadania ativa que peço licença para vos falar um pouco mais. Foi há 38 anos — em 1983 —
que pela primeira vez entrei neste Hemiciclo, trazendo comigo a condição da juventude e, com ela, como seria
natural, todos os sonhos do mundo e a mais arreigada ambição de contribuir para melhorar a vida das mulheres
e dos homens do meu País.
Desde então, até hoje, são impressionantes as transformações por que passou a sociedade portuguesa, cujo
nível de modernização e progresso não tem paralelo com esses tempos. Partilhei, nessas trajetórias, e muitas
vezes no olho do furacão, as vicissitudes, contradições, insucessos, mas também os sucessos da vida nacional.
Chama-se «resistentes» àqueles que, por cada objetivo não conseguido, não desistem de lutar pela
oportunidade seguinte de o alcançar.
Testemunhei esse lema de vida no exemplo de muitas grandes figuras da vida nacional. E estou confiante
em que, na cadeia das gerações, muitos mais persistam, com coragem e determinação, nos combates de todos
os dias pelo futuro do País, com a convicção própria dos que acreditam genuinamente na democracia, nos seus
valores e nos seus princípios, e por ela se batem consistentemente em prol do bem comum.
Todos, aliás, aprendemos que não há um destino histórico linear e necessário. Até por isso, creio ser
fundamental que os democratas saibam não perder de vista o valor matricial das virtudes republicanas. Só o
poder que serve as finalidades das instituições democráticas, constitucionalmente estabelecidas, é
verdadeiramente legítimo e merecedor de confiança.
Ao contrário, a desconfiança é o terreno onde medra com facilidade a demagogia e a demagogia é o mais
perigoso dos inimigos da democracia. Mas a demagogia não se contraria na mera dialética dos opostos, mas
antes exige verdade, autenticidade, exigência e rigor constantes na ação política.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, foi para mim uma honra ter podido servir o meu País, designadamente
no quadro do Partido Socialista, o partido político a cujo ideário cedo aderi. Procurei fazê-lo, errando ou
acertando, sem nunca perder de vista as advertências que acabei de invocar. Procurei sempre fazê-lo em
solidariedade de percurso com os meus camaradas, na consideração devida aos meus adversários, e no
respeito pelo povo que me elegeu.
Volvidos 38 anos, parto com a mesma crença nos ideais de liberdade, de justiça e de serviço ao bem comum
com que um dia entrei na Assembleia da República.
Com o rodar do tempo, no entanto, também aprendi que qualquer que seja a inspiração política e doutrinária,
só uma atitude persistente de independência pessoal nos permite, um dia, ter a certeza de que, pelo caminho,
não desmerecemos das convicções firmadas no mais íntimo de nós e, portanto, de nós próprios. Se essa
coerência puder ter consistido no essencial do meu legado, o empenhamento de uma vida na ação política e
parlamentar talvez tenha valido a pena.
E é o momento de concluir, agradecendo penhoradamente a quantos, Deputados ou funcionários, nesta
Casa da democracia, de várias gerações e nas mais variadas situações, me confortaram com a cordialidade do
seu convívio ou me ajudaram na concretização das diversas responsabilidades que tive a honra de
desempenhar.
Inclino-me perante vós e de todos vós me despeço, levando comigo, não o nego, um indisfarçável sentimento
de orgulho pelo que pude ajudar a alcançar e, ainda mais, de reconhecimento a tantos que comigo partilharam
a realização, sempre inacabada, da obra coletiva de todos nós, portugueses, europeus e cidadãos do mundo.
É esse o nosso destino e é essa a nossa responsabilidade.
Aplausos do PS, do PSD, do CDS-PP, do PAN, do CH, do IL, de Deputados do BE e das Deputadas não
inscritas Cristina Rodrigues e Joacine Katar Moreira (de pé)e do PCP.
OSr. Presidente:— Sr. Deputado Jorge Lacão, retribuo todos os votos que o Sr. Deputado me endereçou e que agradeço profundamente.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.