17 DE DEZEMBRO DE 2021
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Devemos organizar a esperança para que possamos continuar a ser um dos países mais seguros do mundo,
para que as nossas polícias se reformem e se valorizem e para que o nosso sistema judicial se confirme justo.
O combate à corrupção moral e económica deve afirmar-se como nunca.
Devemos organizar a esperança para que possamos ter um País sustentável. Importa uma nova, mais
significativa e mais imaginativa política para a água, interessa uma outra visão do valor económico dos resíduos;
organizar a esperança para que a guerra entre a proteção e produção não ponha em causa o mundo rural, para
que se encontrem novas e amplas formas de fabrico de bens e serviços, para que o País não seja, por mais
tempo, um simples guichê dos fundos comunitários.
Devemos organizar a esperança para que as opções energéticas sejam esclarecidas e sustentem uma visão
integrada de soberania, para que os recursos minerais sejam explorados com critério e equidade; organizar a
esperança para que saibamos o que queremos produzir e que exigência fiscal deve ser imposta às empresas
competitivas.
Devemos organizar a esperança para que possamos apostar, com sentido, na educação e na formação,
olhando para as novas realidades cognitivas; organizar a esperança para que façamos dos professores gente
grande e não escravos da burocracia e para que se caminhe para a dignificação do saber prático a par de uma
profunda reforma do ensino superior e das políticas de investigação.
Devemos organizar a esperança para que o País se prepare para novas e mortíferas pandemias, sejam elas
as decorrentes da nossa sociedade pasmada ou da circulação de pessoas e animais, para que tenhamos uma
prestação de serviços de saúde com qualidade e sem despesismo.
Devemos organizar a esperança para promover o atrevimento, a criação, o risco, se há universo em que a
liberdade mais se consagra é mesmo o espaço da inteligência e da cultura que deve ser visto de forma
transversal; e se há obrigação que devemos assumir é a de não querer que os nossos jovens sejam marcados
pela normalização. Deixemos os jovens ganhar para si o País, não queiramos marcar-lhes o futuro que só a eles
cumpre.
Mas há que ter em conta, ainda, que organizar a esperança é olhar longe, garantir as pensões dos mais
velhos hoje e amanhã, sustentar territórios a caminho de não terem vivalma, remover a marginalização dos
espaços metropolitanos. Organizar a esperança é, em suma, organizar a cidadania para um tempo de
virtualização e de solidão.
Ora, organizar a esperança não se pode fazer entrando, de novo, em instabilidade política, em ciclos curtos
de governação. Organizar a esperança exige um Governo forte, capaz e sustentado parlamentarmente.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, há uns dias ofereceram-me um livro que tem como título A Era do
Nós: Propostas para Uma Democracia do Bem Comum. O autor desenvolve o seu pensamento demonstrando
que há novas gerações de esperança, o que eu partilho.
Nas suas páginas podemos encontrar uma dança entre a felicidade individual e o devir coletivo, a liberdade
de criar onde o Estado é parte, mas não se afirma sufocante, onde crescer individualmente não pode ser uma
espécie de anátema. Também no livro se encontra uma luta contra o eu eivada de desejo pela implicação nas
bolhas económicas numa era de pós-capitalismo e, como que recebendo o autor a genética paterna, uma
profunda e militante atenção à solidariedade que não seja o simples substituir da caridade da religião pela
caridade do Estado.
Com as palavras de João Ferro Rodrigues, o autor dos pensamentos que acabei de convosco partilhar, me
despeço. Esta foi a minha última palavra neste Parlamento. Tive a honra de servir o meu País aqui, espero ter
sabido honrar os que me elegeram.
Nas pessoas dos Srs. Deputados Adão Silva, Pedro Filipe Soares, João Oliveira, Telmo Correia, Bebiana
Cunha, José Luís Ferreira, dos Srs. Deputados únicos dos partidos e das Sr.as Deputadas independentes,
agradeço e desejo a todos fortes e melhores venturas.
A V. Ex.ª, Sr.ª Deputada Ana Catarina Mendes, deixo um abraço fraterno a si, minha amiga, e a todo o Grupo
Parlamentar do PS.
À Assembleia da República, na pessoa do seu Presidente, Eduardo Ferro Rodrigues, o desejo de longa e
democrática vida.
Aplausos do PS, de pé.