I SÉRIE — NÚMERO 34
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Assim, dissemos hoje, em particular através das palavras do nosso Primeiro-Ministro, que Portugal está
inteiramente disponível não só para acolher estes, mas para acolher todos os amigos, familiares, vizinhos,
conhecidos da comunidade ucraniana que vive em Portugal e todos aqueles ucranianos que esta bárbara
agressão russa obrigue a deslocar-se temporariamente para fora do seu país.
Portugal é e vai ser também a sua casa de acolhimento.
Aplausos do PS, do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Ministro. Vamos agora entrar no debate, pelo que, para intervir e fazer perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Rui
Rio, do Grupo Parlamentar do PSD.
O Sr. Rui Rio (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Sr.as e Srs. Deputados, hoje é um dos dias mais negros da história recente da Europa. Entre a paz e a guerra, a Rússia
escolheu a guerra. Esta madrugada, as forças russas invadiram a Ucrânia, um país livre e soberano.
O PSD condena veementemente a flagrante e grosseira violação do direito internacional pela Rússia e
expressa a sua total solidariedade para com o Estado e para com o povo ucraniano e, em primeira linha, para
com todos os portugueses residentes na Ucrânia.
A Ucrânia é um país soberano. A Rússia negou e ameaçou essa soberania a um nível sem precedentes,
cercando durante meses o Estado ucraniano, com milhares de soldados russos e em total violação de todos os
tratados internacionais.
Todos os esforços diplomáticos efetuados insistentemente por europeus e americanos foram apenas usados
por Vladimir Putin para uma mera encenação. O mundo todo constatou isso mesmo e também constatou que,
nesta crise, a questão do alargamento da NATO esteve sempre no centro das discussões.
É um facto que sempre que o Governo ucraniano tentou uma aproximação à União Europeia e à NATO, no
sentido da consolidação democrática e do desenvolvimento económico, a Rússia ameaçou a Ucrânia. Foi assim
em 2004, foi assim em 2014 e é de novo agora, com consequências imprevisíveis.
À Rússia de Putin incomoda a democracia, a autonomia, o Estado de direito, os direitos humanos, os direitos
das minorias, a economia de mercado, a globalização imbuída de valores ocidentais. Incomoda-a a linguagem
ocidental dos valores e princípios humanistas, que são totalmente incompatíveis com toda e qualquer visão
imperialista.
O PSD condenou, desde logo, a decisão da Rússia de reconhecer a independência das autoproclamadas
repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk, porque se trata de uma violação do direito internacional, dos
acordos de Minsk e do princípio do respeito pela integridade territorial dos Estados. Nenhuma ordem
internacional pode subsistir quando os Estados se sentem livres para colocar em causa a soberania de outros
Estados e para alterar as suas fronteiras pela força.
Nós sempre defendemos a diplomacia e a solução pacífica dos conflitos. A Rússia é o contrário: preteriu a
solução diplomática e o Presidente Putin é o responsável por trazer a guerra de volta ao continente europeu.
O PSD defende uma coordenação ativa entre a União Europeia, o Reino Unido e os Estados Unidos da
América para a adoção de um pesado pacote de sanções à Rússia. Isto porque este é um ato de agressão sem
precedentes e porque o alvo dos russos não é apenas Donbass, nem tão-somente a Ucrânia. O alvo é também
a estabilidade da Europa e de toda a ordem internacional.
Por isso, Portugal tem de estar disponível para fazer esse caminho conjunto. Não estarmos prontos para
contribuir com a nossa parte, no plano militar, económico ou diplomático, seria estarmos a ignorar o perigo de
termos um futuro bem mais sombrio para a Europa, em particular, e para a humanidade, em geral.
É, pois, nosso entendimento que, sem tibiezas, a União Europeia deve estar pronta a enviar à Rússia um
sinal muito forte de que este ataque é inaceitável e, por conseguinte, terá de ter um preço económico e político
exemplar e dissuasor de novas aventuras imperialistas e antidemocráticas.
Esta é uma situação gravíssima relativamente à segurança na Europa, a mais grave dos últimos tempos,
pelo que Portugal deve assumir integralmente os seus compromissos e a sua responsabilidade como membro
fundador da NATO e defensor da paz e dos valores democráticos. A ameaça à soberania ucraniana e à sua
integridade territorial deve ser condenada por todos os países que partilham os valores da paz e da democracia.