16 DE MARÇO DE 2022
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usar essa ferramenta que quero acreditar que em maio/junho estará em cima da mesa, mas que eu gostaria
sinceramente que pudesse estar antes.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, tem novamente a palavra.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, não consigo citar as palavras exatas, mas ainda há poucos meses o Sr. Primeiro-Ministro simplificou, no Parlamento, um pensamento, que é o dele — e
que, já agora, acompanho também —, sobre o exercício do mandato das entidades reguladoras e a forma
como os poderes públicos, entenda-se, os poderes executivos públicos, muitas vezes, se
desresponsabilizaram, ao longo da história, atirando responsabilidades, que eram suas, para cima das
entidades reguladoras.
Devo dizer-lhe que não é só o Sr. Ministro a achar que maio é demasiado tarde, nós achamos que hoje já é
demasiado tarde para agir nesta matéria. Isto porque, como o Sr. Ministro ainda referiu há pouco, estamos a
ver que hoje, contrariamente ao que vimos ao longo dos últimos dias, no mercado internacional dos
combustíveis, o preço do petróleo, provavelmente já está num patamar de paragem da subida ou até
eventualmente de possibilidade de uma ligeira descida.
Veremos qual é a tendência para as próximas semanas, nenhum de nós apostará sobre isso, creio eu,
porque a incerteza é enorme, mas o facto é que o preço do petróleo pelo menos já não está a subir como os
preços nas bombas de gasolina têm estado nestas últimas semanas. Isso é factual.
No entanto, vemos que os preços nas bombas de gasolina estão a aumentar e sobre isso o que as
pessoas pedem ao Governo é que faça alguma coisa e o que o Sr. Ministro veio dizer aqui é que lá para maio
a ERSE decidirá alguma coisa e o Governo logo o fará, se a ERSE assim o indicar. Sr. Ministro, é demasiado
tarde.
A pergunta que tenho para lhe fazer é como é que o Governo explica 406 milhões de euros de dividendos
que a Galp decidiu, há dias, distribuir aos seus acionistas — 406 milhões de euros num ano, com preços
historicamente altos dos combustíveis! Isto não é resultado de uma política especulativa, face a estes preços?
Não são os nossos concidadãos, os portugueses e as portuguesas, quem cá trabalha e quem cá vive que está
a pagar direta ou indiretamente o aumento do custo de produtos e de bens essenciais e esta especulação? E
não tem o Governo o dever de agir perante esta especulação?
Creio que a estas perguntas o Sr. Ministro ainda não respondeu.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Ministro, querendo, tem de novo a palavra para responder.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, sobre as entidades regulatórias, penso sempre a mesma coisa, ao contrário, por exemplo, do Bloco de Esquerda. Lembro-me
bem, quando foram tomadas decisões, também por mim, ainda no anterior Governo, que não este,
relativamente aos resíduos, da forma como o Bloco de Esquerda incensou, e a palavra é esta, incensou a
Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos. Porquê? Dava-vos jeito! Agora, como não vos dá
jeito, têm uma opinião completamente diferente.
Eu continuo a pensar exatamente da mesma maneira: acho que Montesquieu não se enganou, que os
poderes são mesmo o legislativo, o executivo e o judicial e, portanto, que o poder regulatório é «filho»,
obviamente, do poder legislativo e deve ter o papel que lhe compete.
Não tenho, de facto, nenhuma razão para engrandecer o poder do regulador, deste ou de qualquer outro,
mas há uma coisa que é verdade: quem conhece a formação de preços, quem tem condições para a poder
estudar e para poder perceber onde é que existem margens excessivas e onde é que elas estão ao longo de
cadeias que são complexas é mesmo a Entidade Reguladora do Setor Energético.
Porém, nem tudo se faz com um estalar de dedos, há coisas que dão trabalho e eu, que sou de trabalho,
respeito muito o trabalho dos outros. Neste caso, a ERSE entendeu precisar deste trabalho, até porque — e
essa parte é verdadeira, Sr. Deputado, penso que estaremos de acordo —, em bom rigor, parte do nada,