16 DE MARÇO DE 2022
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É preciso alterar o caminho das privatizações, da liberalização de preços, de deixar ao capital privado
decisões sobre este setor estratégico que é a energia, o caminho de destruição de ativos, como a refinaria de
Matosinhos, colocando o País numa situação de vulnerabilidade perante fatores externos que não controla e
perante situações internacionais, como esta que agora vivemos.
Os combustíveis e o setor da energia são demasiado estratégicos para estar nas mãos do mercado ou,
melhor, dos oligopólios que fazem cartel para manter os seus lucros milionários.
É preciso responder a esta situação no imediato, mas as medidas do Governo não chegam. É também
preciso uma política alternativa que garanta o controlo público sobre este setor estratégico da energia, pelo
qual o PCP se continuará a bater.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem de novo a palavra, para responder, o Sr. Ministro.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Duarte Alves, sim, quando o PCP propôs que deviam ser fixados os preços de combustível, fui contra. Fui bem contra e
mantenho a mesma opinião.
Diria mesmo que, se isso tivesse sido feito, este debate era com o PCP a exigir que o Governo exigisse às
bombas de gasolina que abrissem, porque tinham fechado quase todas. Portanto, em muito bom tempo, de
facto, fomos contra a fixação desses preços.
Mas, sim, acho mesmo que uma parte do problema — não o problema que estamos a viver hoje — está ou,
pelo menos, pode estar nas margens, tem toda a razão.
O relatório da ENSE que citou, até sei quem o tornou público, foi um careca que agora está aqui a falar
consigo e que disse — e bem, na altura! — que, de facto, inaceitavelmente, as margens durante os dois anos
mais negros da pandemia subiram muito, em comparação com o que eram antes disso e com o que,
certamente, vieram a ser depois disso.
Lembro-me bem da justificação que vieram dar imediatamente: foi que isso era absolutamente normal,
pois, então, se vendo muito menos combustível e tenho os mesmos custos fixos da minha loja de venda de
gasolina ou de gasóleo, é óbvio que tenho de aumentar a margem.
Isso significa o quê? Significa que o mercado está muito longe de ser perfeito e, por isso, foi essencial
aquilo que o Governo propôs e no qual continuo a acreditar. Certamente, e completando a resposta que já dei
ao Bloco de Esquerda, temos mesmo de conhecer as margens e temos de olhar para elas e temos de ter
ferramentas para as poder limitar.
E, sim, temos todos razão, percebendo que há sítios onde ainda é mais complexo fixar estas margens,
nomeadamente quando as empresas são integradoras, isto é, são produtoras, são refinadoras e são quem
vende. É muito mais difícil perceber onde é que, de facto, pode haver margens que são desajustadas e que
obviamente têm de ter sempre um benchmark e têm sempre de poder comparar.
Sr. Deputado, uma política soberana de energia é uma política em que se não importa energia ou em que
se importa o mínimo de energia.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Combustíveis é difícil!
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Portanto, Sr. Deputado, há uma coisa que lhe digo: quando havia uma refinaria em Leça da Palmeira, Portugal não produzia petróleo…
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Mas refinava gasóleo!
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — … e agora também não produz.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não importava gasóleo!