16 DE SETEMBRO DE 2023
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Este é um diálogo e um esforço do Governo e do SNS com o envolvimento do setor privado, das farmácias que estão espalhadas por todo o território nacional.
Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Augusto Santos Silva. O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, tem de concluir. O Sr. Ministro da Saúde: — Vou terminar, Sr. Presidente. Hoje, naturalmente, reservei a minha agenda para, em respeito pelo Parlamento, participar neste debate e,
da parte da tarde, participar no colóquio que a Comissão de Saúde, presidida pelo Sr. Deputado Maló de Abreu, vai levar a cabo.
Amanhã, enquanto Ministro da Saúde, eu e a equipa governativa assinalaremos também o aniversário do SNS de uma forma que me parece muito relevante e que não resisto a partilhar aqui: em Coimbra, no auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra, numa reunião com as associações de doentes de todo o País.
Vozes do PS: — Muito bem! O Sr. Ministro da Saúde: — É bom que não nos esqueçamos disso em momento nenhum. É para eles que
o SNS existe, é para eles que o SNS trabalha todos os dias. Aplausos do PS. O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É o momento da agenda do Governo! O Sr. Presidente: — Assim terminamos o primeiro ponto da nossa ordem do dia. Passamos ao segundo ponto, que é uma evocação do centenário do nascimento de Natália Correia. Peço a máxima contenção dentro dos tempos de intervenção que estão distribuídos e, segundo a ordem
acertada em Conferência de Líderes, começo por dar a palavra ao Sr. Deputado Rui Tavares, do Livre. O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente, comecemos por um lugar e por um tempo: Uma jovem Natália
Correia estava um dia, pela primeira vez, na ilha de Santa Maria, nos Açores. O tempo era o ano de 1950. Ao sobrevoar o mar dos Açores, viu a sua ilha natal, São Miguel, e dirigiu-se aos Estados Unidos, com os quais ela estava desiludida. Desiludida, porque, em 1949, a fundação da NATO (North Atlantic Treaty Organization) contou com o País, Portugal, por causa dos Açores, por causa, em particular, das ilhas de Santa Maria e da Terceira, das suas bases aéreas, porque Portugal foi membro fundador da NATO, mas os Estados Unidos não tocaram na ditadura portuguesa.
Foi um sentimento de abandono que, então, tomou conta de muitos daqueles que faziam a oposição democrática, muitos dos quais estavam presos. Natália Correia escreveu, depois, sobre isso: «Após a guerra, as coisas mudaram. Não custa ser herói durante a guerra. Os heróis da paz é que são, afinal de contas, os verdadeiros líderes históricos. […] A falência do americanofilismo…» — de que ela tinha feito parte — «…correspondeu ao colapso de muitos ideais na Europa esfacelada. […] A Europa foi discriminada em zonas de influência. Os problemas ligados à vida dos povos foram submetidos aos interesses das nações líderes. […] Esse momento foi…» — para si — «…o da revelação: uma nascente maturidade dava-me consciência das minhas raízes europeias.» São palavras de Natália Correia num ensaio luminoso que escreveu aos 26 anos, chamado Descobri que era Europeia – Impressões duma Viagem à América.
É um ensaio que nos lembra que Natália Correia, que conhecemos principalmente pela poesia, é uma extraordinária ensaísta acima de tudo. É alguém que identificou aquilo que faz parte essencial do que é ser Portugal e do que é sermos portugueses: uma tensão permanente entre a pequenez e a grandeza. Por isso ela descobriu que era europeia. Por isso ela escreveu, depois: «Somos todos hispanos.» Por isso ela se zangou, no seu europeísmo crítico, quando a escolha europeia nos levou a fechar as portas aos irmãos de língua portuguesa em vez de lhes darmos também uma zona de liberdade de movimento e de circulação.