I SÉRIE — NÚMERO 13
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Quero apenas dizer uma coisa muito importante: esta questão da dimensão da lista é relevante, mas importa
defender a medicina geral e familiar. E, hoje, muitos médicos indiferenciados estão a fazer as vezes de médicos
de especialidade de medicina geral e familiar.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É isso mesmo!
O Sr. João Dias (PCP): — Não podemos continuar a permitir isso, porque esses médicos procuram a sua
especialidade, só que lhes são fechadas as portas.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Apresentadas que estão as várias propostas que a petição arrastava,
vamos passar às intervenções.
Temos já uma inscrição do Grupo Parlamentar da Iniciativa Liberal, da Sr.ª Joana Cordeiro. Tem a palavra,
Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar os mais de 15 000
subscritores desta petição e por agradecer este exercício de cidadania, que nos traz à discussão um tema da
maior importância — a defesa da especialidade de medicina geral e familiar e dos cuidados de saúde primários
em Portugal.
Queria dizer-vos que a Iniciativa Liberal está do vosso lado. Por isso, temos vindo a defender a importância
dos cuidados de saúde primários como a porta de entrada no sistema de saúde e a urgência do acesso de todos
os cidadãos a um médico de família.
Neste sentido, já apresentámos diversas iniciativas que, no imediato, poderiam ajudar a resolver o problema.
Infelizmente, mais uma vez, todas estas iniciativas foram rejeitadas e, do que se vê, o Governo prefere dar
preferência ao seu preconceito ideológico a valorizar o acesso à saúde, a segurança e a qualidade dos cuidados
prestados.
O tema que esta petição nos traz é bastante revelador desta opção, pois, ao permitir a contratação de
médicos indiferenciados, sem especialidade, em vez de assegurar especialistas em medicina geral e familiar, o
Governo mostrou não ter qualquer problema em promover a indiferenciação clínica e os tarefeiros, que saem
muito mais caros ao Estado, e demonstrou o maior desrespeito pela especialidade de medicina geral e familiar.
E, sim, com a polémica que esta medida gerou, o Governo acabou por dar o dito por não dito.
O Sr. Rodrigo Saraiva (IL): — Bem lembrado!
A Sr.ª Joana Cordeiro (IL): — Entretanto, a situação nos cuidados de saúde primários não melhorou, muito
pelo contrário. E isso é o resultado da total incapacidade do Governo para tomar medidas estratégicas e
estruturais.
Temos hoje mais de 1 milhão e 600 mil pessoas sem médico de família, quando António Costa, em 2016,
prometeu um médico de família para todos os cidadãos até o final do ano seguinte.
Temos hoje pessoas a ir de madrugada para a fila do centro de saúde, não para ter uma consulta, mas para
conseguir uma senha para uma consulta. Temos inclusive pessoas que vão de véspera e que dormem à porta
dos centros de saúde para conseguir a dita senha.
Isto é inaceitável e acontece pela incapacidade crónica do Partido Socialista de tornar o SNS atrativo para
os seus profissionais. As medidas para a sua contratação e retenção não os convencem e isso é evidente pelos
concursos que são abertos e que são considerados um sucesso, mas em que a maioria das vagas fica por
preencher, mas também porque muitas tarefas burocráticas que são exigidas hoje aos médicos de família não
fazem qualquer sentido.
Srs. Deputados, novamente — e vou repetir as vezes que forem precisas —, está mais do que na altura de
debater o nosso atual modelo de saúde, porque não é com mais remendos ou medidas pontuais que vamos
resolver os vários problemas e não é com estas medidas pontuais que vamos resolver especificamente o
problema dos cuidados de saúde primários.