I SÉRIE — NÚMERO 20
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É um Orçamento que é uma oportunidade perdida na saúde, porque permite a continuação do cerco ao Serviço Nacional de Saúde promovido pelos grupos privados, quando nega as soluções para a fixação de médicos, enfermeiros e outros profissionais no SNS.
É uma oportunidade perdida para repor o tempo de serviço dos professores, melhorar as suas carreiras e os seus salários e, assim, garantir os professores que fazem falta nas escolas.
Este Orçamento é uma oportunidade perdida para valorizar salários e pensões que deviam ganhar poder de compra, mas, em vez disso, quem vive do seu trabalho ou da sua pensão continuará a viver pior.
É também uma oportunidade perdida na política fiscal. Quando os lucros milionários da banca, da Galp ou da EDP, das grandes cadeias de distribuição alimentar contrastam com o agravamento das condições de vida, era aqui que deveria entrar a função redistributiva da política fiscal, tributando os lucros para permitir o alívio da maioria.
Em vez disso, a proposta de Orçamento mantém e alarga benefícios fiscais para o grande capital com a convergência do PSD, do Chega e da Iniciativa Liberal.
O pior é que as propostas que o PS apresentou neste Orçamento só agravam este caminho. Veja-se que o Grupo Parlamentar do PS até quer prolongar por mais um ano o regime fiscal dos residentes não habituais, que, além de injusto, agrava a especulação imobiliária.
Sr.as e Srs. Deputados, este Orçamento é também uma oportunidade perdida de acertar contas com o investimento público, que fica sempre por executar em nome de uma redução acelerada do défice e da dívida. Perde-se a oportunidade, perante os recursos que existem, de investir o que faz falta nas escolas, nos hospitais, nos centros de saúde, nos serviços, nos transportes, na habitação pública e para apostar no reforço da produção nacional.
Com as propostas do PCP que serão discutidas hoje e ao longo dos próximos dias, o PCP coloca em cima da mesa as soluções para o SNS, a escola pública, a habitação, o aumento dos salários e pensões, para executar os investimentos urgentes e para uma maior justiça fiscal. Porque se esta proposta de Orçamento é uma oportunidade perdida, a verdade é que em breve o povo terá oportunidade, com o seu voto, de colocar em cima da mesa estas opções, estas soluções, esta alternativa determinante para uma mudança de rumo, para a política necessária, que resolve os problemas dos trabalhadores e do povo.
Aplausos do PCP. O Sr. Presidente: — Para uma intervenção em nome do Bloco de Esquerda, tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Filipe Soares. O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,
a cantautora A Garota Não faz, na sua música mais recente, uma análise ao País. Partindo dos lucros milionários da Galp, ela conclui com uma frase lapidar: «Que País tão bom para tubarões!» Que País tão bom para tubarões!
E é exatamente isso que este Orçamento significa, este é o Orçamento dos tubarões. É o Orçamento que diz aos tubarões da saúde privada que o Estado vai manter os bloqueios no SNS e que vai entregar, de mão beijada, milhares de milhões de euros ao seu negócio. É o Orçamento que diz aos tubarões que vivem de uma justiça parada, que a justiça parada continuará e, com isso, a injustiça grassará no País. É o Orçamento que diz aos tubarões que é este Governo, que é o Partido Socialista, que está a destruir a escola pública para que o negócio privado possa continuar. É este Orçamento dos tubarões que diz que a habitação continuará a ser sinónimo de especulação, que os fundos imobiliários são os grandes vencedores e que os residentes não habituais continuarão a fazer disparar os preços das casas nas nossas cidades. É este o Orçamento dos tubarões que continua a dizer aos nossos jovens que este País não é para jovens, não os valoriza, que os empurra para a emigração, que nos defrauda a todos ao nos privar da geração mais formada de sempre.
Este é o Orçamento dos tubarões e é por isso — é por isso! — que é o resultado do país dos tubarões e que a direita o abraça tão candidamente. Basta ver o resultado das declarações públicas das últimas semanas.
É por tudo isto — por tudo isto! — que o Bloco de Esquerda apresenta aqui uma alternativa. Não estamos condenados a ter um País só para tubarões, quem cá vive tem de ser levado a sério. E não é isso que faz o Governo, não é isso que faz este Orçamento do Estado. Quem cá vive merece uma vida em que os salários sejam justos, sirvam para viver. Não é isso que faz o PS, não é isso que faz o Orçamento do Estado. Quem cá