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9 DE OUTUBRO DE 1984

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HOSPITAIS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Ex.mu Sr. Presidente do Conselho de Gerência dos HUC:

Assunto: Resposta a um requerimento do deputado Jaime Ramos e outros (PSD) acerca da notícia publicada pelo semanário O lornal e relativa às explicações pedidas pelos pais de um jovem a quem foi amputada uma perna nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

1 — De acordo com o despacho do presidente do conselho de gerência de 18 de Julho de 1984, no ofício n.° 00S362 do Gabinete do Ministro da Saúde, datado de 4 de Julho, que acompanhava o requerimento dos deputados do PSD Jaime Ramos, Luís Monteiro e Agostinho Branquinho, em que, alertados pela notícia publicada no semanário O /ornai cora o título «Aconteceu em Coimbra — Familiares do jovem amputado pedem explicações ao Hospital», procedi a averiguações com o fim de poder esclarecer o csso.

2 — No dia 9 de Março de 1984, pelas 20.16 horas, é inscrito no banco dos HUC o doente Júlio Antunes Morais Serra, ficando registado com o n.° 9908. Tem 20 anos, é solteiro, é natural de Miranda do Corvo e reside no lugar do Corvo. Sofreu acidente de viação (colisão de motorizada com automóvel).

O estudo radiológico revela a existência de «fractura esquirolosa da rótula direita + fractura esquiro-losa do terço inferior dos ossos da perna direita, exposta».

Tratado com:

1) Gelo no joelho;

2) Nisidine SOS;

3) Sutura com três pontos na parte postero-

-externa do terço inferior da perna;

4) Gesso cruro-pedioso-f gessotomia anterior.

Porque não houvesse vaga no Serviço de Orto--Traumatologia, foi transferido para a sala de observações.

Aqui, dada a superlotação, teve de ficar com outros doentes no corredor de acesso a esta sala.

3 — O doente foi observado no dia da entrada pelo Dr. Ernesto Moreira, que procedeu ao seu tratamento e orientação. Neste mesmo dia (dia 9) foi ainda observado pelo Dr. Joaquim Caixeiro. O doente não apresentou quaisquer queixas ou sinais de evolução anormal do processo clínico, não fez qualquer observação conforme estava instalado ou sendo tratado, nem sc notou no gesso qualquer alteração na zona lesada. No dia 10 o doente foi observado pelo Dr. João Alfredo C. Pinto de Sá, que informou não apresentar o doente qualquer queixa ou sinais de evolução anormal do processo clínico, nem fez qualquer observação sobre a forma como estava instalado ou sendo tratado. «O gesso não estava repassado e o penso da ferida suturada no dia anterior e coberto pelo gesso não foi observado, por não haver sinais objectivos ou queixas subjectivas do doente que justificassem a abertura do gesso e sua observação, apesar de a sua localização se manter assinalada com mercurocromo.» Não deu qualquer orientação clínica aos enfermeiros «porque foi considerado suficiente o que estava determinado no boletim da urgência e porque outros elementos da equipa também se ocupariam do doente».

O Dr. Fernando Manuel Ferreira Mendes observou mais tarde o doente e aplicou «uma almofada sob o membro gessado e pediu ao enfermeiro Serra que aplicasse outra, dado que o doente apresentava edema do pé, frequente nestas situações traumáticas».

No dia 11 foi observado pelo Dr. João José Garcia Pires, «não notou nada de anormal na evolução do processo clínico» e o doente «não fez qualquer observação sobre a forma como estava a ser tratado». Não notou qualquer alteração no gesso que não estava repassado, pelo que não deu qualquer orientação para modificação dos tratamentos.

No dia 12 foi observado pelos Drs. José Alves Cardoso e José Manuel Sopas Gomes Saraiva, que não tendo notado nada de anormal no doente, nem este apresentou qualquer queixa, nem fez qualquer reparo em relação à forma como estava a ser tratado e instalado. O gesso não estava repassado. Não modificaram a orientação terapêutica.

No dia 13, às 8.30 horas, o enfermeiro de serviço reparou que o gesso se encontrava repassado numa extensão de 30 cm no sentido longitudinal e íOcm no transversal, pelo que avisou os médicos de serviço.

Estes, Drs. José Adrião Ribeiro Proença, José Manuel Brás Cardoso e Manuel Carlos Francisco observaram o doente, tendo verificado que o doente apresentava alterações na evolução clínica, com «dor, edema do pé e alterações de coloração do pé, pelo que foi imediatamente enviado para a sala de tratamentos do banco. Retirado o gesso, a fim de se avaliar a situação clínica, constatou-se que se tratava de uma lesão grave do membro interior, com perna e joelho direito edemeciados, zonas externas de necrose, com temperatura normal do pé, presumindo tratar-se de uma lesão vascular. Solicitou-se a observação pelo cirurgião geral, que por sua vez chamou o cirurgião vascular, que diagnosticou uma trombose venosa e indicou fasciolomias imediatas e terapêutica médica» (soro glicosado a 5% 1000 ml; soro C 1000 ml; soro fisiológico 100+Dalacin C 600 mg EV. 6/6 horas; Heparina 0,5 c. c. EV. 4/4 horas; elevação do membro inferior; penso diário). «O doente foi enviado para a sala de operações cerca das 21.30 horas, tendo-se iniciado a intervenção por volta das 22 horas.»

«Quando se efectuou a punção evacuadora do joelho, já sob anestesia, verificou-se a saída de sangue e de gases com cheiro nauseabundo. Confirmou-se a infiltração gasosa ao ter-se procedido à fasciotomia da perna, bem como a sua extensão à raiz da coxa (efectuaram-se fotografias), confirmada por incisões cutâneas da coxa. Perante a situação clínica efectuámos o diagnóstico de 'gangrena gasosa', que se estendeu à raiz da coxa. Solicitou-se a comparência do cirurgião vascular, médico do serviço de reanimação, anestesista, tendo-se tomado a decisão conjunta de proceder à desarticulação pela coxa-femural e aberta. Dada a circunstância de o doente estar anestesiado, as tentativas infrutíferas de contactar a família e a urgência da situação clínica procedeu-se ao referido acto cirúrgico sem prévia informação do doente.»

Durante a intervenção foram administradas 3 unidades de sangue, 900 c. c. de lactato de Ringer.

A intervenção cirúrgica foi realizada pelos Drs. Brás Cardoso e Manuel Carlos Francisco, sendo anestesistas o Dr. Pedro e a Dr.a Alda.