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II SÉRIE — NÚMERO 94

utilíssimo contributo, deve ser um bom ponto de partida para aprofundamentos futuros e para novas iniciativas, que certamente irão seguir-se.

Com efeito, neste momento, a situação dos jovens em Portugal tem manifestamente aspectos positivos e negativos e, se me permitem, falo-vos quase como um convidado que, como comecei por dizer, gostaria de participar um pouco nos vossos trabalhos.

Os aspectos positivos têm a ver com a democracia e com a paz. Sem dúvida que é positivo Portugal viver em democracia e em liberdade, sem dúvida que é positivo os jovens em Portugal viverem em paz e não estarem sujeitos aos sacrifícios que tantas gerações de outros jovens tiveram de fazer. Só quem passou por esses momentos pode adivinhar hoje o que é não existir essa espada de Dâmocles permanente a pesar sobre o presente e o futuro da juventude portuguesa!

Também não há dúvida de que há um aspecto negativo, e penso que há apenas um único: a ausência de esperança concreta, não apenas nos modelos de desenvolvimento, mas a esperança concreta.

O jovem não tem hoje, em Portugal, esperança concreta na escola que frequenta, não tem esperança concreta na família onde se integra, não tem esperança concreta no trabalho onde desenvolve a sua actividade profissional, em suma, não tem esperança concreta na sua própria vida, quando decide optar por decisões marcadamente individuais.

O facto desta ausência de esperança concreta, que se sente a todos os níveis —e qualquer observador pode manifestamente identificar —, é um aspecto grave em termos nacionais, diria que é um aspecto decisivo, se não for modificado no futuro do nosso país.

O problema está em saber como encarar esta ausência de esperança e o que fazer para a tornar em esperança concreta. Aqui, como é óbvio, há caminhos diferentes, como tem vindo a ser ressaltado, mas penso também que é útil apontar algumas pistas que possam servir de base de partida, uma vez que o País já está suficientemente dividido para que as ideologias se não transformem num fosso capaz de transformar os homens em adversários, quando não em inimigos permanentes.

O Sr. Carlos Miguel Coelho [Comissão de Juventude da Assembleia da República (PSD)]: — Muito bem!

O Orador: — Em primeiro lugar, sem dúvida nenhuma que o primeiro aspecto fundamental é o da participação. Mas participar em quê? Não chega dizer que os jovens têm de participar. Têm de participar na construção de quê? Aqui está a ausência que temos sentido de um modelo económico, de um modelo político e de um modelo social. Mas pergunta-se: que modelo político, que modelo económico, que modelo social?

Em primeiro lugar, em relação ao modelo político, penso que hoje não há dúvidas para ninguém de que o modelo político que deve empenhar a juventude portuguesa, e não só a juventude portuguesa mas todos os cidadãos de Portugal, é o do aperfeiçoamento da democracia, garantindo mais liberdade, sem dúvida, mas também garantindo uma maior responsabilidade e assegurando uma maior autoridade.

Penso que liberdade, responsabilidade e autoridade são conviventes íntimos sem os quais a democracia

pode não passar de uma simples desculpa e pode mesmo ser objecto de culpas, que não são assacáveis. Portanto, este trabalho de aperfeiçoamento dos mecanismos democráticos está longe de estar acabado.

Penso que a experiência dos últimos 11 anos aponta-nos várias pistas neste domínio e é óbvio que os jovens não podem ser indiferentes a esta construção, porque, se se não constrói o Estado, dificilmente se pode construir a sociedade.

Em relação ao modelo económico, penso que a resposta também não nos deve afastar muito. O modelo económico é o da modernidade. O que é que isto significa? Significa que Portugal é um velho país, é uma velha nação que se sente já velha.

Pois bem, é necessário, é imprescindível pôr uma velha nação a construir um país novo, não apenas por necessidade — e, quando se diz isto, quer dizer-se necessidade literária — ou por um aspecto puramente político, mas porque isso significa a realidade imprescindível que temos de fazer. A nossa identidade nacional aponta para a necessidade urgente de nos modernizarmos para conseguirmos manter a nossa cultura e a nossa própria identidade nacional.

Não são apenas as pessoas que envelhecem, os países envelhecem e as próprias nações envelhecem e chegam a morrer. A Portugal não vai, certamente, acontecer isso, mas é importante saber a necessidade urgente de rejuvenescimento que a todos deve preocupar.

Finalmente, pergunta-se: que modelo social? Sob o ponto de vista particularmente pessoal, não tenho dúvida de que esse modelo se constrói na base da solidariedade, na base da verdadeira solidariedade nacional, solidariedade nacional que se exprime, não apenas em palavras nem na sublimação dos conflitos que necessariamente existem, mas na sua resolução positiva, não fazendo, como eu há pouco dizia, das ideologias a a base do combate permanente, não transformando as ideologias em fossos que separam as regiões, que separam os indivíduos, em suma, que nos impedem o diálogo, que nos impedem a procura de soluções e que fazem deste pequeno país uma multiplicidade quase indiscrítível de pequenos núcleos incapazes de se entenderem minimamente e construírem positivamente aquilo que tem e deve ser construído.

Há, portanto, a necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de diálogo, de entendimento, de conciliação, e não se pede às pessoas que deixem de ser o que são ou que deixem de pensar como pensam, mas há a necessidade de dizer às pessoas que, para além delas, daquilo que representam e da ideologia que defendem, há um país onde vivem, há um futuro que têm de construir e que, necessariamente, tem de ser construído com todos, sem que ninguém possa ser excluído dessas responsabilidades. Dizendo isto, temos praticamente apontado o modelo de desenvolvimento.

Aqui bastaria dizer: desenvolver o quê? Em primeiro lugar, e dirijo-me aos jovens, o sistema educativo. No entanto, penso que é extremamente difícil erigir um sistema educativo ágil, e, quando digo «ágil», quero dizer capaz de criar profissionais competentes e não apenas burocratas que vivem do Estado e para o Estado. Aliás, há a sensação de que o nosso sistema educativo tem investido excessivamente na formação desses burocratas.