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28 DE MAIO DE 1985

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Como estava a dizer, é preciso erigir um sistema educativo que crie profissionais competentes capazes de chegarem a um mercado de emprego assegurado e capazes, consequentemente, de terem competitividade nesse mercado de emprego.

Para que esse sistema educativo possa ser útil e eficazmente erigido, é necessário sabermos qual é o modelo de desenvolvimento económico que o País deve ter. O sistema educativo não pode construir-se no vazio; tem de ser articulado com esse mesmo modelo de desenvolvimento económico e penso que Portugal tem, neste momento, uma oportunidade única de construir um modelo de desenvolvimento económico autónomo.

Temos capacidades não aproveitadas, temos uma experiência secular não aproveitada e temos agora a perspectiva da adesão ao Mercado Comum visto como um espaço de modernidade, como um espaço de competitividade.

Se conseguirmos assegurar estas nossas capacidades e aproveitar ao máximo essas possibilidades, em meu entender podemos erigir um sistema económico que se paute fundamentalmente pelas seguintes premissas: em primeiro lugar, assegurar a independência nacional.

O facto de se aderir a um espaço económico diferente não significa que a independência nacional deva ser minimizada; pelo contrário, podem aproveitar-se essas potencialidades para aumentar a independência nacional, para a assegurar de uma maneira mais forte, para vincar um perfil nacional mais intenso e mais claro. Essa deve ser uma prioridade de qualquer modelo de desenvolvimento económico.

Mas, em meu entender, há uma segunda prioridade: a de pensarmos mais na qualidade do que na quantidade do desenvolvimento.

Por vezes, pensamos muito nas contas das balanças de pagamento comerciais e pensamos que está tudo correcto e bem. Não é certo que assim seja. Portugal é um país que necessita de um desenvolvimento que reduza o fosso entre as regiões, que reduza o fosso entre as classes, que reduza o fosso entre as oportunidades que se colocam aos vários indivíduos. Sem esse tipo de desenvolvimento, podemos ter um crescimento aparente, mas não temos um crescimento continuado; podemos ter um crescimento mais apressado, mas não temos um crescimento em paz, e já vamos ver por que razão assim é.

Deve ser na base deste modelo de desenvolvimento, que pode ser mais lento mas é certamente mais seguro, que se devem formar os profissionais que o sirvam e sejam capazes de o desenvolver e executar.

Finalmente, é preciso um modelo de desenvolvimento que não seja alheio à cultura portuguesa, porque sem cultura portuguesa não pode haver uma nova era em Portugal. A cultura é a fonte dinamizadora do progresso e do desenvolvimento económico. Por vezes, a nossa cultura dá a imagem e a ideia de ser uma cultura que se vai habituando à mediocridade.

Pois bem, essa nova cultura deve ser a nova cultura correspondente a esta nova era de adesão à CEE e, simultaneamente, a uma nova era de afirmação diferente da personalidade nacional. Ê óbvio que, findo o sonho do império, a construção da própria identidade nacional é cultural e os jovens têm uma necessidade urgente de participar nela, porque, se a juventude aí não participar, é óbvio que essa construção cultural

nasce à partida velha por si própria, durará o tempo das rosas e não será ela própria o motor permanente dessa nova era portuguesa.

Quanto à paz, e tal como tive oportunidade de dizer, a frase de Paulo VI «O desenvolvimento é o novo nome da paz» é oportuna. Em meu entender, neste tema há que distinguir três perspectivas: aqueles qúè usam a paz para justificar a dominação ideológica de nações por outras nações; aqueles que usam a bandeira da paz para que essa dominação permaneça, quer pela ideologia quer mesmo pela força das armas, e aqueles que acreditam verdadeiramente na paz universal.

Ora, essa paz universal exige necessariamente a convivência com a liberdade e com os direitos do homem. Não há uma paz universal enquanto houver homens oprimidos por outros homens...

O Sr. Carlos Miguel Coelho [Comissão de Juventude da Assembleia da República (PSD)]: — Muito bem!

O Orador: — enquanto houver trabalhadores que não podem assegurar o seu direito à diferença nem reivindicar aquilo que legitimamente possa ser a sua própria função sindical.

Não há paz verdadeira enquanto houver homens oprimidos e sacrificados por dizerem aquilo que pensam, seja na Polónia, seja no Chile de Pinochet. Este é o contributo que todos temos que dar à paz e aqueles que só vêem um lado e não vêem o outro não têm nada a ver com a paz, mas sim com a guerra, porque há formas de pacifismo que conduzem à guerra e não à paz verdadeira e universal.

Aplausos.

Creio que em Portugal podemos dizer que vivemos em paz, mas dificilmente podemos dizer que nos sentimos em paz. Com efeito, vivemos em paz e em tranquilidade, mas creio que será difícil podermos dizer que nos sentimos em paz, a não ser numa visão bastante egoísta dos homens que vivem apenas sobre si próprios.

É difícil dizer que vivemos em paz quando vemos tantos desempregados, cujo número cresce e não diminui; quando vemos pessoas que trabalham e não recebem os seus salários; quando vemos a nossa economia a distanciar-se progressivamente de outras economias que há bem pouco tempo estavam atrás de nós; quando vemos o fosso a crescer entre as várias regiões do País, em que não tem sido suficientemente articulado o desenvolvimento regional. Em suma, quando vemos e detectamos tantas injustiças, é difícil sentírmo-nos em paz

Daí que para todos, e fundamentalmente para os jovens, a luta pela paz em Portugal seja manifestamente a luta pela participação como instrumento da luta do desenvolvimento e da modernidade. E esta é realmente uma simbiose perfeita porque a paz tem a ver com esse sentir que as injustiças se estão a atenuar, que Portugal está manifestamente a sentir-se tranquilo consigo próprio e que as oportunidades despontam de igual forma para todos os cidadãos, independentemente da cor da sua pele, dos meios materiais com que nasceram, em suma, independentemente da sua ideologia e daquilo que pensam: