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II SÉRIE — NÚMERO 16

região e do seu povo, mas, por falta de sensibilidade bastante e de uma política cultural coerente, estão a ser rapidamente destruídos, de tal maneira que, a curto prazo, a memória cultural do País nos últimos 150 anos, que representa o produto de uma nova relação dos homens com as técnicas e com o seu ambiente, desaparecia irremediavelmente.

Com a criação de um museu do trabalho industrial do Porto pretendesse dar resposta ao problema e assegurar imediatamente a conservação, estudo e protecção de um património industrial intimamente ligado à maneira de viver e sentir, às esperanças e conquistas, às lutas e dificuldades, à cultura, enfim, da população trabalhadora.

3 — O material que primariamente interessará ao museu (que se pretende um organismo vivo, actuante um centro cultural activo) é o que modernamente se integra no conceito de «arqueologia industrial», isto é, os objectos, documentos e locais que representam as formas de trabalho e a vida dos trabalhadores a partir do século xix até à actualidade: moinhos, fábricas e engenhos a vapor, locomotivas, os primeiros edifícios e construções metálicas, pontes, aquedutos, escadarias, comportas, fomos, motores, instrumentos, máquinas, ferramentas, depósitos, caldeiras, veículos motorizados, etc.

Em certos casos chegar-se-á tarde. Que resta de fábricas como a de Salgueiros, outrora pequena cidade industrial de amplas ruas e edifícios? E a fábrica de tabacos do Campo de 24 de Agosto?! Há por todo o distrito ruínas industriais, absorvidas em muitos casos pela expansão urbana, mutiladas, votadas ao abandono ... Enquanto é tempo, há que inventariar, classificar e recuperar o que ainda puder ser preservado.

Esse material permitirá reconstituir e registar a memória do movimento dos trabalhadores da região do Porto num largo período da sua história, decisivo para a compreensão do presente.

Por isso, outro material a recolher serão os documentos escritos e áudio-visuais que garantam um arquivo da região sobre as condições de trabalho, atitudes dos operários, empresários, trabalhadores em geral e do público sobre o desenvolvimento da indústria e das suas consequências urbanas, bem como arquivos sobre segurança, saúde, assistência social, sobre condições de habitação dos operários, sobre aspectos da cultura operária da cidade (grupos recreativos, canções, música, desportos, passatempos, etc), sobre o movimento sindical e lutas operárias, etc.

4 — Tal qual se encontra concebida no articulado que agora se apresenta, a sede do museu deveria ser instalada numa antiga fábrica, a adquirir, na qual se procuraria reunir o máximo de objectos e documentos com o apoio do público e das próprias indústrias da região.

Mas o museu não deveria confinar-se à sede nem identificar-se com ela. Deveria alargar a sua acção, como museu vivo, a outros locais devidamente classificados e protegidos, embora conservados pelos seus proprietários. O que implica que deveriam, por exemplo, ser considerados como «extensões» ou «anexos culturais» do museu bens tão significativos como os guindastes mais antigos de Leixões. A recolha de

eléctricos de Massarelos, parte de uma estação e oficina de caminhos de ferro, a primitiva central de tratamento de águas, a antiga central térmica e mesmo equipamentos urbanos do Porto realizados após a revolução industrial com as novas tecnologias e matérias.

A preocupação de que seja vivo o museu cuja criação se preconiza levou ainda a incluir no leque das suas competências a reconstituição e manutenção de oficinas onde se executam técnicas tradicionais de fabrico e sejam produzidos elementos significativos da actividade económica da região.

5 — A escolha do Porto, por parte do Grupo Parlamentar do PCP, para esta iniciativa corresponde a uma realidade concreta: o património industrial daquela região é ainda hoje o menos afectado e por isso mesmo o mais facilmente reconstituível.

Tarefa que interessa a todos os cidadãos e a todos poderá mobilizar, a preservação deste património contará por certo à partida com o forte empenho e mobilização dos trabalhadores e das suas organizações de classe. Nem de outra forma poderia ser por parte de quem com muito trabalho e muito suor ergeu a cidade moderna que é hoje o Porto industrial.

Ao decretar a criação legal do museu do trabalho industrial do Porto, a Assembleia da República reconhecerá, pois, uma importante realidade regional. Mas o estímulo e o incentivo que daí resultarão não podem deixar de repercutir-se à escala nacional, contribuindo decisivamente para que os Portugueses possam exercer mais e melhor o seu direito e o seu dever de defender o património cultural.

6 — Ao retomar esta iniciativa na presente legislatura, o Grupo Parlamentar do PCP pretende que a Assembleia da República não adie por mais tempo a aprovação de um instrumento legislativo cuja necessidade e utilidade tem vindo a ser manifestamente comprovada ao longo dos debates público que se têm sucedido desde a data da sua primeira apresentação.

Na verdade, em colóquios, programas televisivos sessões e artigos de imprensa foram largamente inven tariadas as implicações do projecto do PCP, apr ciados os seus fundamentos, carreados elementos d informação e sugestões que oportunamente enco~ trarão expressão na actividade de informação e d Assembleia da República.

A Assembleia Municipal do Porto aprovou també uma moção de apoio à iniciativa. ,

A própria Assembleia da República já se debruço sobre esta iniciativa do PCP, através da Comissão d Cultura, que, por unanimidade, reconheceu a im tância da sua rápida aprovação.

De referir ainda que o director do Departamen de Tecnologia de Indústrias Alimentares do LNE" manifestou opinião favorável à criação de um mu" com as características daquele que o PCP tem vindo propor, tendo inclusivamente apresentado sugestões q visam o alargamento do número das secções do nur e proposto uma maior precisão na definição da á a ser abrangida pela sua actividade.

Se quanto à primeira sugestão nada obsta a q seja acolhida no projecto, já quanto à segunda, a q respeita à definição da área a ser abrangida p