O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

24 DE OUTUBRO DE 1986

31

não se circunscreve somente aos aspectos económico--financeiros e estende-se também a aspectos culturais.

Coexistem assim, neste «todo» em formação, diversos modos de estar, diversas «racionalidades económicas», com diferentes graus de inter-relacionação ou de «aculturação». Tal tem vindo e continuará a traduzir-se numa crescente heterogeneidade dos elementos do sistema mundial.

No entanto, não existe regulação formai ou concertada do sistema, em particular nos aspectos económicos e financeiros. Existe sim ou surge, nalgumas circunstâncias, consistência de atitudes por parte das grandes potências em não provocar fortes rupturas quando em presença de situações delicadas.

Recentemente, a economia internacional sofreu e está vivendo o impacte do segundo choque petrolífero e do declínio do dólar.

A dinâmica de poupança e de diversificação da energia desencadeada pelos dois primeiros choques petrolíferos, conjugada com o menor ritmo de crescimento das economias desenvolvidas e com a manutenção ou crescimento dos preços do petróleo em termos reais para algumas zonas (Europa e Japão, quando as suas moedas se depreciavam face ao dólar, moeda de negociação do petróleo), conduziu a um excesso de oferta do produto em causa, o qual possibilitou uma queda acentuada dos respectivos preços no início deste ano.

Por sua vez, o nível atingido pelo dólar vinha afectando seriamente sectores produtivos americanos e conduzindo a respectiva economia de uma posição de há muito tempo credora para uma posição devedora. Uma actuação conjugada das autoridades das principais economias na segunda metade do ano passado contribuiu decisivamente para a inflexão do comportamento do dólar, no sentido do declínio deste, face às restantes principais moedas do sistema financeiro internacional.

Estes aspectos conjugados têm vindo a possibilitar que a economia internacional esteja num período de energia significativamente menos cara e de desinfla-ção, indiciando que estão criadas condições necessárias para um crescimento acrescentado e não inflacionista. Contudo, persistem graves desequilíbrios —em particular o relativo aos défices comerciais e orçamental americanos, que vêm alimentando fortes tensões nos mercados financeiros e comerciais —, o que, conjugado com a referida não regulação formal ou concentrada do sistema (inexistência de concertação/coordenação das políticas macroeconómicas das principais potências), se traduz em factores negativos para o mencionado crescimento sustentado e não inflacionista.

Por outro lado, o aspecto do desemprego é preocupante. Em termos da OCDE atinge actualmente níveis de 8 V4 %, 38 milhões de pessoas. O ataque a esta situação passa necessariamente pela referida via de crescimento sustentado.

Em termos globais, entende-se também adequado salientar, na evolução do contexto económico mundial, o aspecto dos excedentes de produção cerealífera.

De facto, os últimos anos têm vindo a registar produções elevadas nalguns cereais. Em particular, devido ao proteccionismo e ao nível tecnológico das agriculturas americana e comunitária. A União Sovié-

tica, através das suas importações de cereais, permitiu equilibrar o mercado internacional (altamente excedentário em trigo e cevada, como aconteceu em 1984), enquanto, por outro lado, permaneceu uma enorme procura potencial, mas não solúvel, entre vastas populações do Sul.

Este aspecto poderá, a médio prazo e num contexto da salvaguarda de comércio livre, pôr em causa as políticas proteccionistas do Norte, em particular a PAC.

A CEE é um subsistema deste sistema económico mundial, sofrendo inevitavelmente da dinâmica do sistema, embora, dada a sua escala, também o possa influenciar.

No entanto, no sistema mundial, económico, político e societal coexistem diversas grandes potências e outros países ou áreas que eventualmente vêm e ou poderão vir a desempenhar um papel relevante.

Dentro das actuais potências, interessa-nos destacar, em contraponto à CEE, os Estados Unidos e o Japão, os quais, por possuírem um conjunto de políticas próprias, nomeadamente nos domínios externo, de defesa e macroeconómico e monetário, dispõem das características necessárias para assumir essa qualidade de potências.

A CEE não dispõe destas políticas próprias (comuns) porque, naturalmente, cada Estado membro é soberano e é ainda embrionária a concertação de políticas a nívei comunitário, embora se caminhe construtivamente nesse sentido. Como tal, a CEE aparece no contexto mundial e vive entre si «heterogenei-zada» pelos diferentes interesses que os seus membros têm quanto àqueles domínios de política.

No entanto, a Comunidade é uma entidade dinâmica, cujos interesses, quer numa perspectiva global, quer numa perspectiva de países isolados, a compe-íem à construção/implementação das políticas anteriormente referidas e características das potências de hoje.

Isto é, a CEE é potencialmente um embrião de uma Europa Ocidental unida politicamente. Os factores exógenos desse potencial embrião — isto é, a dinâmica do sistema mundial, das potências concorrentes, da evolução e disseminação tecnológica —, bem como os factores endógenos — isto é, a consciência de alguns dirigentes europeus das «lacunas» de actuação em termos de potência e as acções/pretensões em curso nesse sentido (veja-se, por exemplo, as tentativas da construção de um verdadeiro «mercado interno», bem como o Plano Delors para a criação de um mercado financeiro europeu unificado até 1992) —, levarão, muito provavelmente, esse embrião a dar o seu natural «fruto». A alternativa a tal cenário é a prossecução e reforço do actual espartilha-mento, com o agravar do declínio dos pesos económico, político e cultural. Contudo, supõe-se que este cenário seja menos provável que o anterior, em grande parte devido à pressão dos factores exógenos antes mencionados.

De entre estes, a tecnologia das telecomunicações e a inovação financeira irão, muito provavelmente, impor uma fácii circulação de capitais.

Um outro aspecto é o já referido dos excedentes agrícolas, nomeadamente o dos cereais. A acumulação contínua desses excedentes tem vindo a traduzir-se para a Comunidade em custos financeiros in-