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22 DE NOVEMBRO DE 1991

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mem, seguindo para Roma, capital do Império Romano do Ociente.

A Geira era constantemente percorrida, nos dois sentidos, por soldados e mercadores romanos que entravam nas povoações vizinhas, os primeiros para se abastecerem de víveres e os segundos para comercializarem os seus artigos.

Mas aqueles contactos de natureza militar e comercial não terão sido apenas fortuitos episódios de passagem, visto que a frequência das visitas criava relações humanas e, sobretudo, dava origem à instalação de estabelecimentos comerciais que determinavam permanências mais ou menos longas em diversos locais.

O contacto da povoação de Caldelas com os Romanos é um facto histórico incontestável. Para o comprovar bastará enunciar os seguintes argumentos:

1.° Na povoação de Caldelas encontraram-se vários objectos romanos, designadamente fraga-mentos de cerâmica e moedas e duas lápides com inscrições latinas, referidas aqui por serem documentos escritos e como tais assinalarem a entrada da povoação de Caldelas na história propriamente dita;

2.° Na fala popular de Caldelas distinguem-se bem a forte sonorização vocálica, o acento e o ritmo do latim vulgar que era falado precisamente pelos soldados e mercadores romanos. Ora é evidente que as propriedades características de uma língua não se assimilam em contactos fortuitos e passageiros, mas na convivência quotidiana;

3.° A ponte de Caldelas sobre o rio Homem é, sem dúvida, medieval e, por isso, posterior à presença dos Romanos. Mas na tradição popular e local persiste a designação de ponte romana. Este facto carece de uma explicação razoável e só se compreende bem com referência a uma ponte anterior e construída no mesmo sítio ou muito perto dali pelos Romanos. Aliás, a construção de pontes era um belo meio primordial na romanização das províncias do Império Romano, e o desaparecimento da primitiva ponte romana explica-se cabalmente com a passagem devastadora dos Bárbaros.

Aqueles três argumentos (ainda que o segundo não seja exclusivo de Caldelas) denunciam claramente a passagem dos Romanos na povoação.

III — As invasões bárbaras

Após a conquista de Braccara Augusta (em 456), os Visigodos naturalmente multiplicaram as suas incursões por toda a região para apagar os vestígios do poder romano, estabelecendo o seu domínio absoluto. Pode ser ocorrido naquele período (é uma presunção lógica), como medida de estratégia militar bárbara ou simplesmente por aversão racial aos Romanos, a destruição da ponte romana de Caldelas, que a tradição popular ainda não esqueceu.

Neste ponto não se pode ir além da conjectura, já que não se conhecem em Caldelas marcas positivas da passagem dos Bárbaros.

IV — A Idade Média

Com a expansão europeia da Ordem Beneditina (a partir de meados do século vi), por iniciativa ou inspiração de monges de grande prestígio espiritual e humano, a Regra primitiva de São Bento sofreu ligeiras adaptações locais que deram origem a novas ordens religiosas, entre elas a de Cister, promovida por São Bernardo, conservando todas a vocação beneditina para a conversão e formação dos povos. Surgiram, assim, muitos e diversos mosteiros por toda a parte.

Então a Europa em ruínas e sob o domínio dos Bárbaros começou a reorganizar-se à sombra da Igreja, que, pacientemente, com a força sobrenatural da fé e com os recursos humanos da ciência e da cultura clássicas, salvaguardadas nos manuscritos dos conventos, converteu, baptizou, instruiu e educou os Bárbaros. Foi por isso que os aglomerados urbanos se desenvolveram em torno das catedrais e as povoações rurais se dispuseram à volta das igrejas e dos conventos.

Naquela linha histórica apareceram mais tarde, nos fins do século xi e no começo do século xu, os Mosteiros de Rendufe e de Santa Maria de Bouro.

V — A «influência árabe»

A reorganização político-religiosa da Península Ibérica nos dois primeiros séculos da Idade Média, operada com o dinamismo das populações, o apoio da Igreja e a conversão dos Bárbaros, sofreu um longo compasso de espera, de perto de quatro séculos, com nova invasão.

Com efeito, vindos do Norte de África através do estreito de Gibraltar, impelidos furiosamente pelo fanatismo religioso do Islão e também atraídos pela fertilidade das terras peninsulares, os Árabes (Mouros na linguagem popular) invadiram a Península, subjugan-do-a em 711.

Contudo, o domínio árabe na Península nunca foi pacífico nem total, apesar da sua duração de vários séculos.

Com efeito, em locais dispersos e menos acessíveis, designadamente nas montanhas, constituíram-se núcleos de resistência que não toleravam o domínio nem a religião islâmica dos invasores e, depois, se juntaram ao incipiente reino das Astúrias, donde veio a irromper, com a participação activa e pessoal dos bispos, abades e fiéis, o movimento imparável da reconquista que esteve na origem da formação dos vários reinos peninsulares.

Na povoação de Caldelas não se apontam vestígios materiais da presença dos Árabes; mas há indícios indesmentíveis da sua passagem na região ou, pelo menos, de contactos com as populações.

De facto, verificam-se reminiscências profundas que evocam imagens de força e de magia na imaginação popular com referência aos Mouros.

Assim, com a passagem dos Árabes pela região, explica-se bem a origem das tradições locais e lendárias que atribuem aos Mouros obras mágicas, executadas em noites de luar, e que fantasiam em cavernas, poços ou grutas naturais e em certos rochedos o encerramento de mouras encantadas que não tiveram tempo de fugir diante do ímpeto da reconquista cristã.

Em Caldelas há dois exemplos curiosos daquela fantasia popular: o primeiro é a atribuição anacrónica da