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22 DE NOVEMBRO DE 1991

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Mas para passar da teoria à prática era necessário explicar a origem do nome através do seu significado. A esta necessidade respondeu a imaginação com uma «história».

Certo dia um forasteiro, junto das nascentes, não sabendo se eram ambas medicinas, perguntou: «Qual delias?»

Depois a justaposição das duas palavras da pergunta fez o nome de Qualdellas. Na fala do povo bastou um ligeiro toque fonético para elidir o «u» e a metamorfose gráfica do «Q» em «C» para chegar ao nome de Caldellas.

A historiazinha é jocosa, mas ingénua. Pois a origem dos nomes não se explica com a imaginação, inventando histórias. Aliás, Qualdellas aparece no século xvi e as nascentes e a povoação já se chamavam Caldellas pelo menos desde o século xiii.

Apesar de tudo, a grafia de Qualdellas precisa de uma explicação. E, salvo melhor aviso, uma explicação lógica e objectiva pode ser esta: Caldellas e Qualdellas não são dois nomes, mas apenas um nome escrito de dois modos.

Caldellas é o nome da povoação escrito correctamente, tal qual veio do latim. Qualdellas é o nome da mesma povoação, mas escrito com um erro de ortografia por um escrivão que trocou o «C» por «Qu».

Em resumo: Caldelas é uma palavra formada do étimo latino «calda» com o sufixo diminutivo também latino «ela» (no plural), muito provavelmente da época da romanização, que, à letra, significa «pequenas águas quentes». O nome de Caldelas primeiro foi dado às duas nascentes termais; depois estendeu-se à povoação onde brotam as mesmas nascentes. Qualdellas é Caldelas com um eventual erro de ortografia.

Em resumo: as termas de Caldelas (e hoje povoação e sede de freguesia) já eram celebradas pelos Romanos, e ali se encontram lápides votivas às ninfas dedicadas, enquadradas, hoje, na parede interior do bufette.

Duas são as lápides referidas, e que o consumado epigrafista Dr. Emílio Hubner inseriu no seu Corpus Inscriptionum Hispaniae Latinae — Suplementum ex Ephemeridis Epigraphicae (vol. Viu, fase. ni, «seorsum expressum», Berolini, 1897, p. 399).

Eis as inscrições das duas lápides:

CAED (ni) .....

CIEN (us) .....

NYM D (e) A B (us)

PHIS NYM

EXVO PHIS

TO EXVO

TO

A primeira, «Caenicienus ninphis ex voto» (Cenicieno «consagra» às ninfas por voto «que fez»). A segunda, «.....deabus ninphis ex voto» ([...]

«consagra» às deusas ninfas por voto «que fez»).

Nesta segunda lápide falha a parte superior com o nome do «dedicante». As lápides foram encontradas nas escavações que se fizeram em 1803, aquando da construção do primeiro estabelecimento balnear.

Existe, pois, uma parte comum às duas inscrições, exprimindo um voto (promessa) feito às deusas ninfas daquelas nascentes, e que os Romanos conheceram, utilizaram e apreciaram, atribuindo-lhes «poderes sobrenaturais», que, de facto, se reduzem à virtude terapêutica que a ciência moderna lhes havia de atribuir.

Sustenta-se, por isso, a tese de que os Romanos conheceram, utilizaram e apreciaram as duas pequenas nascentes de água quente (caldeias) como águas mineromedicinais.

No entanto, foi frei Cristóvão dos Reis (1779), carmelita descalço, administrador da botica do Convento do Carmo (em Braga), que no seu curioso livro Reflexões Experimentais, Methodico-Botânicas e Noticia de Águas Minerais «recupera» as termas, pois refere:

Nas margens do rio Albito que corre entre dois montes, à parte oriental da povoação chamada Caldelas há duas nascentes de água [... ]

Palpável fica, por consequência, que se deve a frei Cristóvão dos Reis, quem insinuou ao povo, à época, o uso terapêutico das «Caldas de Caldelas», sendo, portanto, só depois de 1779 que estas águas minerais começaram a ter nos aquilézios os nomes de Caldas de Rendufe e Caldas de Caldelas.

Assim, foi no século xviu que tomou conta destas termas o Mosteiro Benedito de Rendufe, que fica a 4 km, e lhe deu o nome com que figuraram nos aquilézios de Caldelas de Rendufe.

Depois da extinção das ordens religiosas, encarregou--se da administração das termas o pároco de Caldelas.

A pretexto de melhoramentos, passaram a ser propriedade da Câmara de Amares, que em 1889 as arrendou ao visconde de Semelhe, a quem mais tarde foram dadas de concessão.

Pela Lei de 30 de Setembro de 1892 o Governo Português declarou que todas as nascentes termais eram propriedade do Estado e estabeleceu as condições necessárias para a concessão.

Em virtude desta lei, foram concedidas, em 1893, ao visconde de Semelhe por um período ilimitado.

Em 1922, passou a concessão a uma companhia.

Constam dos seguintes edifícios: «bebedouro» da Bica de Fora, e da Bica Barbosa, moderno balneário (concluído em 1929) e o Hotel da Bela Vista.

A concluir, uma nota importante: «o reconhecimento oficial de Caldelas como zona de turismo data de 1818».

VII) O foral

Tem foral, que D. Manuel I deu conjuntamente a Amares, Caldelas, Figueiredo, Dornelas e Peroselo, em 8 de Abril de 1514, que dinamizou a «Região de Entre Homem e Cavado».

VIII) Os monumentos

a) Igreja paroquial

À entrada da avenida, do lado esquerdo e ao cimo da Rua do P.e João Martins de Freitas, avista-se a torre da igreja paroquial.

O actual edifício foi reedificado em 1749, graças à magnanimidade de D. João V, que lhe deu uma provisão de 600 000 réis, e à generosidade de dois beneméritos locais, António Sebastião Marinho Falcão, da Casa de Lamoso, e António Simões Santiago, do lugar de Cimo de Vila, que lhe ofereceram, respectivamente, 30 000 e 60 000 réis.

Foi, decerto, para agradecer e perpetuar a magnanimidade real que a reedificação se integrou perfeitamente no estilo joanino.