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1010 | II Série A - Número 033 | 12 de Outubro de 2002

 

é, das companhas do senhorio ou do terço, em que intervinha já o capital, em substituição das companhas antigas, do tipo cooperativista rudimentar.
Com o conhecimento do processo de conservação de peixe e com a proibição de importar sardinha da Galiza, movimentou-se o comércio e desenvolveu-se a pesca no Furadouro e nas costas vizinhas, atingidas pelos seus pescadores.
Pesca-se agora muito mais, e o peixe pode ser conservado, vencendo-se a dificuldade do seu transporte para Ovar e interior do País.
Cientes de que o segredo é a alma do negócio, Mijoule e os seus catalãos procuraram que o processo de conserva da sardinha não passasse das quatros paredes do seu armazém de ressalga.
Mas não puderam encobri-lo por muito tempo.
O padre André de Lima, no seu trabalho Espinho. Breves apontamentos para a sua história, publicado na Gazeta de Espinho; deu-nos urna versão da descoberta do segredo:
Jean Pierre Mijouie recolhia a sardinha "em dornas ou tinas, d'antemão munidas de água e sal ou salmoura, onde ela se conserva durante meses e até anos sem se estragar. Para que o seu segredo se não divulgasse, o francês recolhia a sardinha, encerrava-se com os seus operários (catalãos) na fábrica, não consentido que pessoa alguma estranha ali penetrasse".
Os pescadores "viram desde logo a utilidade que lhes adviria do conhecimento do processo; mas o francês e os seus catalãos aferravam-se ao segredo e não era possível fazê-los falar sobre o caso. Às interrogações que lhes dirigiam, respondiam com o silêncio e fechavam-se como um sepulcro impenetrável".
"Compreendiam como se vê, que ensiná-los seria trazer para o campo concorrentes que fatalmente lhes vinham baratear a fazenda. Daí as suas reservas e o seu segredo".
"Um dia, porém, um dos pescadores conseguiu subir cautelosamente ao telhado da fábrica no momento em que laborava e, fisgando a vista através do orifício duma telha imperceptivelmente levantada, tudo viu e compreendeu num relance, descendo para ir contar alegremente aos seus companheiros de pesca a descoberta que acabava de fazer!"
Estava finalmente desvendado o segredo francês. O seu processo dentro em breve tornou-se conhecido e passou a ser usado, não só pelos pescadores do Furadouro, mas também pelos das outras costas de pesca, onde a notícia, como é fácil de imaginar, chegou rapidamente".
Com referência às fábricas de salga e moura da sardinha, o inquérito industrial de 1890 fornece-nos um panorama completo dos depósitos de sardinha da costa do Furadouro: - "O número de armazéns é, aproximadamente, de 60, sendo quatro providos de dois lagares de duzentos milheiros, e tendo os restantes a média de seis dornas de vinte milheiros. Em média trabalham em cada armazém cinco mulheres, além de duas permanentes (pescadeiras), às quais cumpre passar a sardinha das dornas para barricas quando apareça comprador. Habitualmente a sardinha só é salgada depois de a haverem escorchado, isto é, despojado de cabeça e intestinos, até ao mês de Agosto; passada essa época, e quando à abundância seja grande e o tempo não sobre, salgam-na sem precedência de tal preparo. A extracção de óleo, ao qual na localidade chamam sil, é, em geral, feita depois do mês de Agosto por meio de pressão; a que sujeitam a sardinha depois de acamada nas barricas, pressão que varia segundo os lugares para onde deva ser expedido o peixe, visto em alguns o preferirem mais seco, e em outros mais gordo".
O sil era uma "gordura ou óleo que, antigamente, os pescadores extraíam das tripas e cabeças das sardinhas, espadilhas, etc., derretendo-as ao calor do sol, em barris, dornas, selhas, etc." ou por meio de prensas características. "O sil era muito empregado na iluminação e conservação das madeiras dos palheiros, barcos, etc. "Arlindo de Sousa).
Com a decadência da pesca na costa do Furadouro os armazéns foram diminuindo e, em 1956, existiam na praia somente 13, dando trabalho a número incerto de mulheres. "Este trabalho divide-se em duas etapas: o trabalho na praia e depois o trabalho no armazém.
O primeiro tem três fases - escorchaçar, lavagem e acastação - o peixe é amanhado, depois lavado no mar e em seguida acastado para o armazém.
Uma vez no armazém, é posto numa moura simples para no dia seguinte ser acamado nas caixas. Depois pregam-nas e transportam-nas para o carro que as levará à estação dos caminhos-de-ferro ou para o destino directamente" (Maria Lucília Folha Marques, Pescadores, do Furadouro, 1956).
Os pescadores de Ovar na idade Média usavam a pinaça, embarcação segura e ligeira, de vela e remo que, segundo Viterbo, "de sem de pinho lhe proviera o nome", e a barca; quando pescavam na laguna que, com a sua configuração, marés, clima e fauna marítima abundante e variada, era propícia aquela indústria.
Porém, as modificações verificadas no litoral conduziram à decadência da pesca na ria e, consequentemente, levaram os pescadores ovarenses de antanho para as fainar do mar, sem litoral acolhedor, primeiramente para uma pesca marítima rudimentar - as artes pequenas (século XVI - 1776) - depois para um a pesca mais intensa e melhorada - as artes grandes (1776 -1968), - com João Pedro Mijoule e os catalãos.
Em 1750 os catalãos tinham introduzido na Galiza a xávega (as artes grandes), contra a qual reclamaram os galegos, alegando que exterminava a pesca.
Segundo Francisco López Capont (ob. cit.), "no Século XIX surgiram na Furadouro violentas reacções às artes novas (as xávegas)".
Às companhas antigas, de tipo cooperativista rudimentar, que vigoraram do século XVI ao último quartel do século XVIII, sucederam as companhas do senhorio ou do terço (1776-1905), de tipo misto, em que intervinha o capital.
A 2 de Maio de 1906 inicia o trabalho no Furadouro uma sociedade por quotas em moldes muitíssimo diferentes dos habituais, a sociedade por quotas Boa Esperança ou companha do Conde, cuja gerência foi confiada, por eleição, a Francisco de Matos. A industrialização convertia a pesca em organização capitalista.
Quando começaram as artes grandes, em 1776, as companhas na costa do Furadouro usavam na pesca da sardinha um único barco, sistema que se manteve, pelo menos, até 1838.
Com as artes grandes tornaram-se frequentes as rixas entre os pescadores em razão da primazia (1776-1861) em lançar as redes. A questão da primazia veio a ser minuciosamente regulamentada nas posturas de 1843, e, finalmente, as posturas de 1862 extinguiram e proibiram "o costume que havia de pôr dentro do mar os barcos à fateixa dum dia para o outro, bem como a preferência de lanço