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1014 | II Série A - Número 033 | 12 de Outubro de 2002

 

- Ribeiro, avenida Tomás
Esta avenida, ente a avenida da República, a nascente; e a rua da Imprensa Portuguesa, a poente, tomou o nome do escritor e político Tomás Ribeiro (1831-1901), autor de D. Jaime ou a Ominação de Castela (1862).

20 - O avanço do mar (2 de Fevereiro de 1912)

No dia 2 de Fevereiro de 1912 e nos dias seguintes, avançando cerca de 200 metros nos lançamentos, entre a capela velha do Senhor da Piedade e o sítio denominado Baldim, o mar formou uma enseada e um barranco de quatro a cinco metros de altura, em alguns pontos; numa extensão superior a 300 metros; daí resultando a derrocada de 18 palheiros, alguns de certo merecimento.

21 - O "Chalet" do Matos. A família Matos

O chalet do Matos, localizado entre o palheiro da família Palavra, a norte, e o palheiro da companha da Senhora do Socorro (1887-1961), ou do Valente, a sul, foi o maior palheiro da praia do Furadouro, tendo sido construído por António Valente de Almeida e Manuel Maria de Matos, dois republicanos históricos.
No chalet, enorme palheiro, de rés-do-chão e dois andares, situado ao sul do Furadouro, serviram-se lautas ceias nos tempos da Primeira República, às quais nunca faltava o melhor, o mais saboroso peixe - não fossem os seus proprietários e a maioria dos convidados os patrões de companhas da praia do Furadouro!
É que os republicanos históricos, na melhor tradição das lutas entre monárquicos e progressistas (ou limonadas) e monárquicos regeneradores (ou cachingós ou aralistas), fundaram igualmente companhas na praia do Furadouro para terem os seus eleitores certos e seguros - os pescadores e as suas famílias.
De 1911 a 1928 labutou no Furadouro a companha República, e, pela escritura de 11 de Março de 1922, verifica-se que, entre os seus sócios, se achavam o Dr. João Baptista Nunes da Silva (republicano liberal), Manuel Maria de Matos (republicano histórico), Celestino Soares de Almeida (republicano democrático), Presidente da Câmara Municipal (1914-1918), e Francisco de Oliveira Gomes Ramada, criador da F. Ramada.
No chalet, que serviu de esconderijo aquando das lutas entre republicanos e monárquicos, designadamente "nas horas críticas, para os republicanos, da insurreição monárquica do norte e noutras emergências semelhantes da vida da República", reuniram os proprietários os seus amigos políticos e gastronómicos mais próximos. Aí se juntavam, com Manuel Matos e Valente de Almeida, entre outros, aquele médico Dr. João Baptista Nunes da Silva, o farmacêutico Manuel Joaquim Rodrigues e Manuel Augusto Nunes Branco, que foi secretário da Câmara Municipal (1915-1945).
Dado que o palheiro necessitava de obra e Valente de Almeida não estava interessado nelas, o chalet foi posto à venda (1929) e veio a ficar pertença exclusiva a Manuel Matos. O palheiro tinha no 2.º andar quatro quartos, os virados a nascente e a poente com varandas; no 1.º andar uma enorme sala comum, com varanda para o mar em toda a sua extensão e seis janelas amplas, três quartos e cozinha; no rés-do-chão localizavam-se ainda outras dependências.
À morte de Manuel Matos, o palheiro ficou a pertencer a seus sobrinhos, filhos do seu irmão Francisco de Matos - Maria Celeste Matos de Sousa Lamy, Maria Fausta Fragateiro Matos Malaquias e José Fragateiro Matos.
Em Dezembro de 1964 e Janeiro de 1965, avançando mais uma vez o mar no Furadouro, foi destruído completamente o palheiro da família Palavra, e desmoronou-se grande parte o chalet da família Matos. Cinco anos depois, nos princípios de Dezembro de 1969, foi derrubada a parte que restava do chalet.
Manuel Maria de Matos, que foi proprietário do referido chalet, que tomou ao seu nome, filho de José de Matos e de Margarida Correia dos Santos, faleceu solteiro, a 16 de Junho de 1937, com 60 anos.
Republicano histórico, foi vereador substituto da 1.ª Comissão Municipal Republicana (1910), e ocupou, ainda, o cargo de Presidente da Junta de Freguesia de Ovar (1914).
Homem tolerante, simples, duma bondade inexcedível, de princípios liberais e republicanos, ligado às actividades de pesca do Furadouro - foi sócio das companhas Boa Esperança e República, Lda.-, Manuel Matos foi também um notável e apreciadíssimo cozinheiro na sociedade gastronómica republicana da época.
António Valente de Almeida (Terra e gente das dunas, 1955) dedicou-lhe a seguinte poesia:

Grande casa era a tua
Em dar e repartir pela pobreza;
Grande, mais que a maior, - tua lhaneza;
E o teu corpanzil enchia a rua.

Famosas, sem favor,
Eram tuas caldeiradas:
- O que nas redes vinha de melhor,
E um sol eram as tuas gargalhadas

E as tuas mãos papudas
Nunca as vi, de ira ameaçar,
Fazer o gesto mau de maltratar,
Nem em cóleras mudas.

Arruivado e com olhos pequeninos
Dançavas, belamente, antes da gota;
E chamavam por ti, Mães e meninos,
Quando vinhas à lota.

Esquecido estarás,
Dos viventes, na tua sepultura;
Mas da tua memória algo perdura;
Homem bom, caridoso, dorme em paz:

Que os Ritos da traineira,
Esses, por tua alma rezarão;
Lembrados que à tua cálida lareira
Comiam, enxugavam o gabão!

A família Matos, de comerciantes e industriais, descende de Manuel Rodrigues, que casou com Domingas de Matos, da freguesia do Bunheiro.
O filho deste casal, Domingos de Matos, casou com Leocádia Nunes, da rua Nova da Ruela, filha de Francisco Rodrigues Grade e de Trindade Nunes.
Filhos do casal Domingos/Leocádia:
- Manuel de Matos, que casou com Rosa Correia dos Santos, filha de António Ferreira e de Joana Correia dos Santos, da rua da Praça, e faleceu, com 49 anos, a 14 de Julho de 1864.