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1011 | II Série A - Número 033 | 12 de Outubro de 2002

 

e escolha de lugar". Qualquer companha pôde desde então, "lançar a toda a hora a rede não estando o lugar ocupado por outra que tenha primeiramente lançado a sua".
Terminado o direito de primazia, que durara de 1776 a 1861, tomaram relevo as recachias, competições que consistiam em os barcos remarem com força até ao largadoiro com o fim de ganhar preferência ao melhor lugar para lançar a rede, e que originavam, também, frequentes desordens.
Desde 1776 até pelo menos 1838, como já se referiu, cada companha na costa do Furadouro, quanto às artes grandes, empregava um único barco em cada lanço para levar as cordas e a rede. Mais tarde, dado o tamanho da rede e das cordas ter aumentado, passaram a usar-se dois barcos para a sua condução.
Primitivamente (1776-1884) as artes grandes eram tiradas à mão, por homens, mulheres e até crianças, enquanto um tambor, a compasso; marcava o andamento. "O pessoal da Companha; ao som cadenciado do plan, plan, plan, rataplan, plan, plan, rufado pelo Melindra conduzia as redes do secadouro para o barco e da borda para o secadouro, pegando, aqui e além, ao varal, a dois e dois.
O compasso desta marcha era também marcado pela conhecidíssima toada: ai lé, ai lé, ai lé, tiro lé, ó lari lo lé. Da mesma forma era dado o ritmo de marcha pela costa arriba no tempo em que as redes eram puxadas do mar a pulso. Hoje a condução da rede ainda se faz ao ombro, mas o Melindra desapareceu a mais a sua caixa. E agora (1913) quem a tira do mar são os cachaços dos bois" (Almanaque de Ovar para 1913).
Quando se teria quebrado no Furadouro este secular costume de tirar os aparelhos do mar "ao ritmo duma tradicional canção, dum toque de pífano ou do rufar de um tambor", por homens, mulheres, menores e velhos, substituindo-o pela tracção animal?
A tracção a braço foi substituída pela tracção animal no último quartel do século XIX, provavelmente em 1884. Desde 15 de Agosto deste ano começou a trabalhar, na casta do Furadouro, com 60 homens e 10 juntas de bois, a companha do Manuel Pinto, de Francisco e Manuel Pereira de Carvalho.

Mapa - estatístico das companhas na costa do Furadouro de 1787 a 1968:
Anos n.º de Companhas Anos n.º de Companhas
1787 6 1910 5
1790/1820 8 1915 6
1834 5 1920 5
1850 8 1925 4
1851 9 1930 4
1865 5 1935 3
1890 5 1940/1961 2
1900 5 1962/1968 1

A 1 de Abril de 1791 a rainha D. Maria I isentou do serviço militar os pescadores de Ovar; este privilégio da ordenação de D. Maria I foi confirmado pela provisão de 11 de Fevereiro de 1821.
A vida miserável da quase totalidade dos pescadores da costa do Furadouro e de Ovar foi sempre uma nódoa para a administração local. Os pescadores viveram, continuadamente, em condições impróprias, mesmo desumanas, nada ou quase nada lhes tendo dado o governo, temendo os capitães-mores e os administradores que reclamavam recrutas, odiando os fiscais que velavam pelo imposto do pecado, votando a favor de quem os senhorios mandassem. Mas, nos anos de penúria, de safras más, a sua vida tornava-se insustentável, como se verificou nos anos de 1796, 1847, 1868/1869, 1871 e 1885.
A par destes anos maus, o Furadouro teve também anos de abundância: 1840, 1876, 1899 e 1948.

Os mercantéis de sardinha
Nos séculos XVIII e XIX é importante o número de mercantéis de sardinha radicados na vila de Ovar e na costa do Furadouro.
Em 1890 o Furadouro "expede grande quantidade de sardinha, em cestos e barricas para a província do Douro (especialmente para o concelho da Régua), e porção, que não é diminuta, em barricas para o Brasil pela barra do Tejo, vendendo de ordinário, o óleo a comerciantes da cidade do Porto" (Pesca. 1.ª parte. Inquérito industrial).
Os mercantéis abriram mercados na região do Douro, fundando colónias ovarenses, designadamente em Penafiel, Régua, Pinhão, Lamego e Vila Real. O mercantel vendia nas terras do Douro a sardinha que adquiria no Furadouro, em Espinho e na Póvoa de Varzim.
O mal das vinhas e a facilidade de comunicações, após a abertura do caminho-de-ferro, concorreram para a decadência desta classe.

11 - A pesca na costa do Furadouro em 1865

As Informações para a estatística industrial, publicadas pela Repartição de Pesos e Medidas em 1867, referentes ao distrito de Aveiro e apresentadas a 22 de Abril de 1865, referem que na costa do Furadouro trabalhavam neste ano 725 pescadores maiores de 14 anos e 97 menores, com 13 barcos grandes e 3 pequenos; e 24 redes grandes e 3 pequenas. Cada companha tinha 82 a 250 homens.

12 - A estrada de Ovar ao Furadoura (1869-1871). Diligências e "char-à-bancs"

A comunicação entre Ovar e a praia do Furadouro era feita por um carreiro de pé-posto através da mata e do areal, o que a tornava difícil e demorada.
O caminho de areia solta, que partia da rua das Almas até à Costa, era denominado já em 1796 0 caminho do mar. "Desde Março até Novembro aquele pequeno saará (o caminho) é calcado continuamente por centena de pessoas, transferindo-se mais de metade da população para ali. Pescas, estrumes, óleo de peixe, tudo de lá é transportado em abundância para este concelho e outros muitos mais" (sessão camarária de 23 de Dezembro de 1864).
A 2 de Dezembro de 1867 o Presidente da Câmara Municipal Dr. Manuel Arala informou a vereação que tinha recebido uma carta de José da Costa Sousa Pinto Basto, participando-lhe que, de acordo com o deputado pelo círculo de Ovar, António José Bento da Rocha, conseguira o aditamento de 6000$000 reis do governo para a estrada. Com esta quantia fez-se a primeira parte da estrada, com 1620 metros, que foi entregue à Câmara, em auto, a 27 de Novembro de 1869, com obrigação de continuá-la (1.ª parte - dos Campos ao Carregal).
O segundo lanço de estrada (do Carregal à praia) foi arrematado a 17 de Julho de 1870 por Francisco António do Amaral e Cyrne, pela importância de 3348$000 reis, com o encargo de a dar pronta ao cabo de 8 meses.