O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3 DE JANEIRO DE 2023

7

Segundo um importante estudo conduzido por um grupo de investigação em comportamento animal,

cognição e bem-estar da Universidade de Lincoln, no Reino Unido, publicado a 22 de julho de 20201, concluiu-

se que o treino de cães através do reforço positivo é mais eficaz do que o recurso às coleiras elétricas («e-

collars»), para além de apresentar menos riscos ao bem-estar do cão e à qualidade da relação deste com o

seu detentor. Mais se concluiu que não há evidências que indiquem que o treino com esses dispositivos seja

necessário.

Já anteriormente, outras pesquisas científicas apontavam no mesmo sentido, designadamente, segundo

um estudo2 publicado em 2014, solicitado pelo governo britânico, concluiu que «os efeitos imediatos do

treinamento com uma coleira eletrónica dão origem a sinais comportamentais de angústia em cães», além de

que «não resultou numa resposta substancialmente superior» a outras formas de treino. O mesmo estudo

conclui ainda que «o uso rotineiro de coleiras eletrónicas, mesmo de acordo com as melhores práticas

(conforme sugerido pelos fabricantes de coleiras), representa um risco para o bem-estar dos cães». Daí que,

no Reino Unido, a 28 de novembro de 2022, representantes do The Kennel Club, Dogs Trust, RSPCA,

Battersea Dogs & Cats Home, British Veterinary Association e Blue Cross juntaram-se aos parlamentares, em

Westminster, para pedir ao governo que proíba o uso de Shock Collars (ESC), conforme prometido desde

2018.

As evidências apresentadas aos governos do Reino Unido levaram a que coleiras que administram

choques elétricos fossem proibidas no País de Gales e condenadas na orientação escocesa. Em 2018, o

governo de Westminster comprometeu-se a introduzir a proibição.

Para ter efeito, o choque administrado pelos ESC precisa ser forte o suficiente para que o cão sinta dor e

tenha medo de sentir aquela dor novamente. Também exige que o cão associe o choque à sua ação

indesejável. Criar medo desta forma arrisca inúmeras consequências negativas para o cão e para o detentor.

A saber:

̶ Os cães podem associar a dor a outros fatores no seu ambiente, como outros cães ou pessoas, e

aprender a evitá-los ou a ser agressivos com eles;

̶ Os cães podem não associar o choque a nada e ficam ansiosos com a situação mais ampla em que a

coleira é usada. Eles podem evitar passear, ser muito inativos nas caminhadas ou ficar perto de seu dono por

causa da ansiedade;

̶ Podem tornar-se agressivos ou evitar os seus detentores em resposta imediata à dor ou para evitar

choques adicionais (por exemplo, quando a coleira é colocada);

̶ Quando o choque é usado em situações em que os cães já estão ansiosos (por exemplo, por ladrar ou

atacar), é provável que isso aumente a ansiedade, levando potencialmente a comportamentos indesejados;

̶ O uso da coleira pode causar lesões físicas ao animal.3

Estudos realizados nos Estados Unidos na década de 1980 já revelavam que as «coleiras de contenção de

latidos» se mostraram sensíveis a outros ruídos (que não o latido dos cães), acabando por resultar em

queimaduras graves e outro tipo de lesões nos animais.

Ora, esse tipo de coleiras, que são inegavelmente perigosas, encontra-se atualmente à venda em muitos

estabelecimentos comerciais em Portugal, incluindo nas vendas à distância, de forma completamente livre e

massificada, apesar dos constantes protestos de grande parte da população.

Segundo a descrição apresentada por alguns comerciantes nas suas lojas online, as coleiras eletrónicas

permitem controlar os «latidos intempestivos» dos cães e a sua circulação dentro de um determinado

perímetro.

Alguns comerciantes, aconselham a «não deixar a coleira colocada no cão mais de 8h por dia»,

alegadamente prevenindo danos físicos para os animais, desconhecendo-se a base científica para sustentar

esta recomendação ou os respetivos critérios, nomeadamente para estabelecer esse tempo máximo de

utilização.

Além de que, mesmo que essas «regras e alertas de utilização» fossem adequados a prevenir lesões

físicas nos animais – o que é altamente questionável e não evita as demais consequências –, resulta também

1 O referido estudo pode ser consultado em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fvets.2020.00508/full 2 https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0102722#pone.0102722-Companion1 3 Call for end to Shock Collars – The Kennel Club