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19 DE FEVEREIRO DE 2025

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da história europeia. Centro do programa de morte industrial posto em marcha pelo regime nacional-socialista

alemão, por Auschwitz passaram mais de um milhão e trezentas mil pessoas, das quais 1,1 milhão acabaram

mortas nas câmaras de gás, de frio, doentes ou extenuadas pelos trabalhos forçados. A maioria destas pessoas

foram judeus europeus, nacionais dos Estados que a Alemanha foi paulatinamente esmagando e absorvendo

antes e depois da eclosão da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939.

Auschwitz ganhou, por conseguinte, lugar destacado na consciência da Humanidade e, em especial, na do

povo hebreu. Instituído como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, o aniversário da

libertação de Auschwitz deve convocar a consternação de todos perante o recrudescimento, hoje, do ódio

antissemita que tanto manchou outrora o nome e a honra da Europa.

Os últimos anos têm, na verdade, sido marcados pela generalização de comportamentos e preconceitos

antissemitas que esperávamos bem enterrados nas profundezas do passado. Fator decisivo no regresso desses

fantasmas tem sido a guerra que Israel travou em Gaza no rescaldo dos abomináveis atentados terroristas de 7

de outubro de 2023, que vitimaram mais de mil pessoas, incluindo cerca de oitocentos civis inocentes, e

deixaram feridos milhares de outros cidadãos israelitas. Perante a brutalidade inaudita dessa ofensiva pelo

Hamas, o governo israelita lançou uma operação de autodefesa conforme explicitamente permitido pelo artigo

51.º da Carta da Organização das Nações Unidas. Infelizmente, não tem sido raro o aproveitamento do conflito

pela propaganda pró-Hamas, tão difundida em alguns meios académicos e culturais, com o fito de chocar a

opinião pública com imagens trágicas de uma guerra que Israel não desejou e não começou. Esses esforços

cínicos têm espalhado o seu veneno e contribuído relevantemente para uma maré de ódio como o povo judaico

há muito não conhecia.

Este novo antissemitismo manifesta-se com amplitude, frequência e ferocidade cada vez maiores. É assim

dentro e fora de Portugal, na União Europeia e noutros países da família ocidental. Embora Portugal possa

orgulhar-se de continuar a distinguir-se por uma atitude de admirável tolerância, integração e simpatia pela sua

comunidade judaica, não é imune à praga de incidentes antissemitas que atravessa o mundo. Casos como os

dos ataques vandálicos de que foram objeto a Sinagoga do Porto e o Centro Cultural Judaico de Lisboa, que

chegaram a motivar reparos inquietos do Embaixador do Estado de Israel em Portugal, não podem ser

ignorados, relativizados ou normalizados. Não é diferente com o episódio deplorável em que, a 24 de maio de

2024, cidadãos filo-israelitas, incluindo Deputados, foram injuriados e ameaçados por manifestantes quando

participavam num evento cultural organizado pela embaixada israelita.

Noutros pontos do globo, esta sinistra vaga de antissemitismo faz-se sentir com maior vigor. Em Novembro

do ano passado, Amesterdão foi sobressaltada pela violência de rua contra apoiantes da equipa de futebol

israelita Maccabi Tel Aviv. As motivações foram políticas e étnicas. O Rei dos Países Baixos, Guilherme

Alexandre, reagiu àquele preocupante episódio dizendo que «os Países Baixos falharam perante a sua

comunidade judaica durante a Segunda Guerra Mundial. Na noite passada, falhámos novamente.» Num outro

caso de genuíno horror, os passageiros e tripulação de um voo da Red Wings vindo de Telavive e que aterrara

em Makachkala, capital de uma das repúblicas de maioria islâmica da Federação da Rússia, tiveram de fugir e

esconder-se de maneira a poderem escapar com vida da multidão fanática que tentava linchá-los. Dezenas de

pessoas ficaram feridas. Tais episódios não constituem menos do que análogos modernos dos pogroms de

outros dias.

A imigração muçulmana tem, sem dúvida, sido uma das razões deste renascimento do ódio antijudaico entre

as nações do Ocidente. Se o antissemitismo é força gasta entre as populações europeias autóctones, um furioso

preconceito contra os hebreus continua a germinar entre a maioria das populações islâmicas. As estatísticas

confirmam-no: de acordo com a Anti-Defamation League, organização não governamental judaica que analisa

e combate o antissemitismo em todo o planeta, o Médio Oriente é a região mundial com maior difusão de

sentimentos antissemitas. Segundo os estudos realizados pela instituição, que se baseiam em sondagens

profissionais e transparentes, 84 % dos egípcios exibem «níveis elevados de atitudes antissemitas». Na Argélia,

de que provém porção dominante dos muçulmanos residentes em França, estes números atingem os 81 % da

população. Já no Reino da Arábia Saudita, 92 % da população manifesta hostilidade aos hebreus e ao judaísmo.

Não obstante o impacto da imigração islâmica, o fenómeno possui ainda certa transversalidade. De facto,

sugere o mesmo estudo da ADL que 13 % da população francesa adere hoje a alguma forma de preconceito

antijudaico. Também na Alemanha e nos Estados Unidos, quase um em cada dez cidadãos se associa a noções

antissemitas.