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16 DE JULHO DE 2014

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Afirmou que a sua prioridade foi vender o navio Atlântida:

“(…) a nossa prioridade foi, de facto, tentar vender o navio, uma vez que todas as decisões que havia do

tribunal arbitral eram que a empresa tinha sido condenada a pagar umas indemnizações, etc. Esse assunto

estava a correr e havia que fazer qualquer coisa.”20

Em resposta ao Sr. Deputado Agostinho Santa, sobre a situação dos ENVC, durante o seu mandato:

“(…) Repare que a história dos últimos vinte e tal anos dos Estaleiros – eu estava lá em 2010/2011 – era

com prejuízos todos os anos, com todas as construções de navios a dar prejuízo, sistematicamente, umas

atrás das outras.

Quer dizer, o senhor, se tivesse uma empresa em situação semelhante, tinha que fazer alguma coisa, o

senhor tinha que fazer um ponto da situação e perguntar-se: «Como isto é possível?». E foi esse ponto da

situação que devia ter sido feito há 10 ou 15 anos e que nunca ninguém teve a coragem de fazer.

Portanto, foi parar para ver onde é que estavam os pontos críticos que levavam, sistematicamente, esta

empresa a perder dinheiro e vamos atacar, como alguém me dizia, na altura, «o touro pelos cornos». Houve

um governante que me disse: «O senhor vá para lá e agarre ‘o touro pelos cornos’». Foi isso que ele me disse.

De maneira que era preciso um gestor com coragem e na sua terra para fazer aquilo que tinha que ser feito.

(…)

Então, o que é que se fazia? O que é que se fez nos anos anteriores? Foi meter encomendas nos

Estaleiros, embora, praticamente, não fossem os Estaleiros que ganhavam as encomendas. As

encomendas vinham por tabela ou da Marinha ou dos acordos das contrapartidas. Enfim, choviam

encomendas, ia-se arranjando algum dinheiro para os Estaleiros funcionarem, mas sempre a

endividarem-se cada vez mais – está a ver? —, e punha-se dinheiro e encomendas. Publicamente, diz-

se muito «mas os Estaleiros têm encomendas». Mas isso não chegava. Punha-se dinheiro e

encomendas em cima de uma empresa que estava moribunda. De maneira que isto redundava em

prejuízos atrás de prejuízos.

Nunca a empresa conseguiu, porque não se fez esse ponto da situação, não se fez aquilo que tinha que

ser feito e quando devia ser feito e foi-se deixando andar.

(…)

Até que apareceu um conselho de administração que teve a coragem de dizer: «Basta! Vamos pôr isto tudo

são e vamos fazer um plano de reestruturação, partindo do património são, partindo das contas sãs e se os

senhores nos derem mais esta ajuda, nós pomos esta empresa a mexer».

Mas por que é que a empresa perdia dinheiro sistematicamente nos navios? Porque a Europa, na

construção naval, começou a mudar profundamente nos anos 80, começou a fazer mudanças profundas com

a globalização. O senhor sabe que a globalização, tal como foi feita, é uma selva. Foi feita só para que as

grandes empresas e as grandes multinacionais arranjassem mercado onde fazer o que se fazia na Europa ou

na América a preços mais elevados e, portanto, arranjaram sítios onde fazer as coisas mais baratas. E a

construção naval também sofreu desse problema. E havia incentivos até da Europa para as empresas se

reestruturarem, fazendo aquisições, fazendo fusões, etc., e, sobretudo, modernizando-se de modo a poderem

ter custos competitivos com essas empresas da Ásia.

Ora, os Estaleiros Navais de Viana estavam numa gama de navios, se quiser, média-baixa. A experiência

dos Estaleiros era nesse tipo de navios e, portanto, esse tipo de navios eram feitos e são feitos nos países

asiáticos a custos mais baixos do que nos países europeus.

Portanto, o que é que aconteceu? A empresa ia aos concursos, ganhava navios para construir, mas

ia a preços inferiores ao preço do custo, só para arranjar trabalho. Porque naquela empresa a questão do

trabalho era fundamental e sempre se encarou isso assim. A empresa arranjava encomendas a preços que,

muitas vezes, ou eram ela por ela ou, depois, os desvios que havia iam redundar em prejuízos e, portanto, a

empresa não conseguia ser competitiva nessa gama de navios que, tradicionalmente, fazia nos Estaleiros.

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Cfr. Ata da audição da CPIENVC, de 6 de maio de 2014, Presidente do Conselho de Administração dos ENVC no período de setembro

de 2010 a junho de 2011, Sr. Dr. Carlos Alberto Veiga Anjos, págs. 3-4. 20

Cfr. Ata da audição da CPIENVC, de 6 de maio de 2014, Presidente do Conselho de Administração dos ENVC no período de setembro

de 2010 a junho de 2011, Sr. Dr. Carlos Alberto Veiga Anjos, pág. 9.