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militares com outras origens e que iam juntos no mesmo carregamento e se havia alguma notícia

deste tipo de operações de tráfego de armas internacional com outras origens, respondeu:

«Só posso referir conjeturas, porque, de outra maneira, se calhar, também não estaria vivo. É

óbvio que depois apareceu o relatório, que, na gíria, é conhecido das pessoas que lidam em

torno deste tema por October Surprise. October Surprise— o relatório que contem algumas

menções ou disclosures de material considerado secreto pelos Estados Unidos da América —

permite conjeturar a existência de um link. A conjetura da existência de um link passa também

por informações, que vieram sendo obtidas por investigações jornalísticas, de que terá havido

uma negociação, intermediada pelos serviços secretos franceses, de libertação dos reféns, a

qual estaria para ser consumada a troco do fornecimento de material considerado

imprescindível para a força aérea iraniana — e não nos podemos esquecer que o Xá da Pérsia

era um dos maiores adquirentes de material de guerra americano e que os aviões, com a

atrição da guerra, necessitavam de refitting, que o Irão não estaria com capacidade para

efetuar. E, relativamente a este material — utilizo a linguagem «material» como sendo

material de serviços de informações —, sempre tive esperança de que pudesse ser libertado

do segredo militar dos Estados Unidos da América passados 30 anos. Porventura, ainda não

foi, mas a menção e a conjetura que se faz no October Surprise é a de que haveria uma

convenção secreta de entrega de alguns sobresselentes à força aérea iraniana e de que, a troco

dessa negociação, negociação intermediada pelos franceses, os reféns seriam libertados a

tempo da eleição americana, que veio a eleger o Presidente Reagan».

Questionado se a conversa que teve com o ministro da Defesa estava de alguma forma relacionada

com o facto de, em 11 de novembro de 1980, o jornal Portugal Hoje ter feito manchete com um

alegado carregamento de armas para o Irão, que foi desmentido no próprio dia, segundo a imprensa,

com uma nota do Ministério da Defesa Nacional e do Ministério dos Negócios Estrangeiros,

respondeu:

«Agora que me fala nesse assunto, admito que tenha sido na sequência dessa informação que

isso tenha vindo a propósito na conversa com o Adelino Amaro da Costa. Não tenho memória

de que tenha sido essa notícia que tenha despoletado a necessidade da conversa ou a

necessidade da troca de informações».

Solicitado a esclarecer se na conversa que teve com Adelino Amaro da Costa foram abordadas as

efetivas proibições, que já teriam sido feitas, à exportação de armas, nomeadamente as já citadas,

para a Guatemala e Indonésia, as relações, não necessariamente com o October Surprise, mas com a

famosa Lisbon Connection, e ainda se podia referir quais as individualidades que, em seu entender,

terão tido importância na direção quer das empresas privadas quer, sobretudo, das empresas públicas

que em 1980 asseguravam o comércio de material militar, nomeadamente a COMETNA, Explosivos da

Trafaria e algumas das empresas privadas, respondeu:

«Quanto ao relatório da Lisbon Connection, não o li, não o conheço, não sou capaz de emitir

uma opinião sobre ele. Existia, de certeza que existia, uma Lisbon Connection. De certeza que

existia uma Lisbon Connection! (…) Portugal era um País, portanto, sem autoridade do Estado,

com limitada capacidade policial e investigatória na altura e, portanto, permeável a todo o

tipo de operações clandestinas e encobertas, logo útil à utilização da pista portuguesa.

Pergunta-me se era feito com utilização de serviços especiais israelitas, com certeza que sim,

porque, em grande parte do aprovisionamento das diversas intervenções militares que

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