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II SÉRIE-B — NÚMERO 9

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altamente penalizadas devido à pandemia e confinamentos, em que o ensino à distância deixou manifestamente

profundas lacunas nas aprendizagens. Professores, pais e alunos do 3.º ao 12.º ano, de 160 escolas-piloto, sem

nunca terem sido auscultados, veem-se dentro de um projeto que a ciência unanimemente indica apresentar

mais desvantagens do que vantagens, nomeadamente:

1) Todos os estudos científicos convergem na evidência da superioridade do papel e da escrita nas

aprendizagens e advertem para as consequências como a menor capacidade de leitura desenvolvida e retenção

de conhecimento adquirido/memorização através dos ecrãs;

2) As crianças pequenas são as mais penalizadas. Nos primeiros anos de aprendizagem precisam de treinar

a caligrafia e a motricidade fina. O uso excessivo do digital pode interferir no desenvolvimento cerebral normal,

afetando a atenção, a memória, assim como as suas capacidades de comunicação. A hiperestimulação dos

ecrãs prejudica a concentração quando esta é requerida em atividades mais exigentes;

3) O suporte digital favorece a distração, que é inimiga da aprendizagem. O dispositivo onde as crianças têm

os livros por onde devem estudar é o mesmo onde estão os jogos e redes sociais, que comprovadamente

causam dependência. Não podemos esperar das crianças uma autorregulação e disciplina que as afaste da

óbvia e inevitável distração, sobretudo em casa;

4) O uso do digital potência a navegação online sem supervisão, expondo crianças a conteúdos e sites

inapropriados para a sua idade e colocando-as em risco nas redes digitais. Com este projeto-piloto, o acesso à

internet deixa de ser uma opção dos pais e passa a ser obrigatório em crianças logo a partir dos 7/8 anos.

5) A Suécia, e não só, com base em inúmeros estudos decidiu, de forma veemente, que a escola deveria

voltar ao suporte papel, em detrimento do suporte digital que funcionava, há́ vários anos, em exclusividade. A

razão de tal inversão ficou a dever-se ao facto de se registar um défice expressivo na leitura e na escrita dos

alunos. Em 2023, o Governo sueco, reprovando a atitude acrítica que tende a aceitar a tecnologia de forma

benevolente e positiva, independentemente do conteúdo e das suas implicações, reintroduziu livros em papel

em todo o sistema de ensino.

Os maus resultados na Suécia, obtidos após 15 anos de experiência no digital não foram suficientes para

travar o projeto-piloto português, que continua a ter como cobaias 21 260 alunos. Muitas crianças, embora

desconheçam as consequências nefastas desta experiência no seu futuro, curiosamente revelam desagrado

com o abandono dos livros, tal como os seus encarregados de educação.

A operacionalização deste projeto na Escola Pública portuguesa revela-se difícil. O equipamento utlizado

(computadores, hotspots) não corresponde à exigência do projeto, frequentemente não se consegue aceder à

net, a velocidade de ligação é lenta, os recursos não funcionam, o que é feito online não ficam gravado, etc. Por

conseguinte, perde-se demasiado tempo com estas situações e o tempo de aula não é aproveitado devidamente.

Quando há problemas nos computadores das crianças, são poucos os técnicos de informática nas escolas

para os resolver, o que faz com que o aluno possa estar meses sem computador. A empresa que fornece os

computadores não presta qualquer apoio técnico, as escolas não têm verbas para os reparar e os custos acabam

por ser cobrados aos pais.

Os encarregados de educação e os alunos foram chamados a avaliar o projeto-piloto através de questionários

no final dos vários anos letivos em que a «experiência» já decorreu, mas até hoje esses resultados nunca foram

divulgados.

Com base nos aspetos referidos, e não encontrando motivos pedagógicos nem de saúde, nem ecológicos

(basta comparar a percentagem de material reciclável que existe num livro e num portátil ou a pegada ecológica

de cada um) para esta mudança, questionamos o porquê destas medidas de transição digital, sem qualquer

base científica que as valide.

Neurocientistas, oftalmologistas, psicólogos e professores recomendam a redução do tempo de exposição a

ecrãs, mas a escola está a aumentá-lo exponencialmente com a «transição digital». A UNESCO fez o alerta que

o impacto de aprender no digital pode ter mais malefícios que benefícios, defendendo que «nem todas as

mudanças são sinónimo de progresso» e que «o impacto positivo de aprender no digital pode ter sido

exagerado», não havendo evidência de que a tecnologia nas salas de aula acrescente valor à aprendizagem.

Afirma ainda que a maior parte dos estudos que apontam nesse sentido são financiados por empresas privadas

de educação a tentar vender produtos digitais, o que «gera preocupação». A escola pública, permeável a lobbies