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9 DE AGOSTO DE 1989

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frerem danos pessoais. Relatórios sobre planos de salvação, quiçá interceptados nas bandas da polícia habitualmente captadas na rádio, podem também afectar, obviamente, uma situação em concreto. Por exemplo, em Março de 1977, em Washington, a televisão pode ter alertado os terroristas Hanafi para a presença de pessoas ainda não detectadas no edifício onde os reféns estavam detidos (14), e a reportagem da televisão em directo tomou por uma tentativa de salvação a entrega de comida pelos polícias. Depois do ataque lançado, em Abril de 1983, contra a Embaixada dos EUA em Beirute, durante o qual foram mortas 60 pessoas, os meios de comunicação social deram a notícia de que o Governo dos EUA estava a interceptar mensagens de rádio trocadas entre a Síria e o Irão, o que conduziu à interrupção desse intercâmbio, minando assim os esforços que estavam a ser desenvolvidos para capturar os terroristas que tinham sido apoiados pela Síria e pelo Irão. E embora não se tratando de um incidente terrorista, em Agosto de 1988, na sequência do assalto a um banco alemão, os repórteres seguiram os assaltantes e os reféns por eles tomados, fazendo entrevista e, até, servindo como intermediários — o que fez chou-ver chamadas telefónicas exigindo que os jornalistas fosse processados, como cúmplices do crime.

Alguns observadores têm proposto medidas excepcionais que restrinjam a acção dos meios de comunicação, ao lidarem com problemas deste tipo. Um antigo conselheiro geral da Comissão Federal dos EUA para as Comunicações propôs, por exemplo, que fossem proibidas reportagens do tipo das que vêm especificadas no último parágrafo, bem como a cobertura de comentários feitos pelos terroristas durante as negociações. Os infractores estariam sujeitos a responsabilidade civil por quaisquer danos pessoais resultantes da reportagem (15).

No entanto, c para não falar de considerações relativas a liberdade de imprensa e iniciativa, tais restrições seriam difíceis de impor, e não afectariam necessariamente os meios de comunicação estrangeiros. Além disso, a censura poderia tornar-se contraproducente em casos de crise onde o não cumprimento de exigências feitas pelos terroristas de cobertura pelos meios de comunicação pudesse resultar na morte de reféns ou outro tipo de violência. Deve-se também recordar que os jornalistas são, frequentemente, melhor fonte de informação que o Governo, e podem obter mais livremente acesso aos terroristas durante os incidentes, como se pode perceber da observação de Gary Sick: «Enquanto a CIA não é capaz de colocar uma câmara de televisão à frente de um avião assaltado que esteja estacionado na pista de aterragem do aeroporto de Beirute, a ABC [rede de televisão dos EUA] consegue-o» (16). Tal como afirmou Katharine Graham, editora do Washington Post:

A cobertura jornalística pode ser uma apólice de seguro para os reféns [...] ao darmos uma identidade aos terroristas, obrigamo-los a assumir uma maior responsabilidade pelos detidos (n).

Em termos mais gerais, seria extremamente ilusório pensar-se que, se não fosse a cobertura feita pelos meios de comunicação social, o terrorismo acabaria por desaparecer. Como fiz o Prof. Maurice Tugwell, da Universidade de New Brunswick, «o terror pode parecer uma subespécie da propaganda. No entanto, o ter-

rorismo é também uma subespécie da revolução», e «no seu contexto revolucionário, o terrorismo é muito mais do que uma série de histórias de primeira página» (I8). E, seguindo as conclusões apresentadas por Patríck Clawson num importante artigo publicado na Orbis, sobre o terrorismo e os meios de comunicação social, embora a publicidade possa ser útil para aumentar o impacte dos incidentes terroristas, a verdade é que o papel dos meios de comunicação social tem sido exagerado e mal compreendido, de quatro formas diferenciadas:

Quanto mais o público sabe acerca de um grupo terrorista, menos provável é que apoie esse grupo (por exemplo, o declínio no apoio dado ao IRA Provisório pelos americanos de origem irlandesa após o assassínio de Lord Mountbat-ten em 1979);

A falta de cobertura pelos meios de comunicação terá pouco impacte sobre os terroristas que contam com apoio estatal ou praticam extorsão;

O comportamento dos terroristas reage, em primeiro lugar, à política local; e

O terrorismo floresceu durante longo tempo na ausência dos meios de comunicação social, enquanto o terrorismo é comum em países aos quais os meios de comunicação ocidentais têm um acessos restrito — por exemplo, o Irão a Síria e o Iraque (19).

A esta lista deve-se acrescentar que a cobertura pelos meios da comunicação social pode contribuir para criar um clima de censura em relação aos Governes que são «brandos» para com o terrorismo, bem como para gerar apoio àqueles que optam por uma linha dura, tal como se pôde testemunhar com os casos da Argélia e do Koweit, respectivamente, durante o assalto ao avião Koweitiano, em Março-Abril de 1988.

A resposta prática aos problemas da cobertura pelos meios de comunicação social reside em relações de trabalho mais estreitas entre meios de comunicação e governos e não tanto em restrições impostas por estes. Lembremos a conclusão do vice-presidente do Grupo de Trabalho de Combate ao Terrorismo, em Fevereiro de 1986:

Os meios de comunicação social têm de ser os seus «cães de fila». Em tempo de guerra foram desenvolvidas linhas de orientação, jornalísticas destinadas a proteger vidas e a segurança nacional, e em algumas circunstâncias elas deveriam ser consideradas como apropriadas a uma situação terrorista.

No que diz respeito ao abuso, pelos terroristas, da cobertura pelos meios de comunicação, «esta actividade pode ser anulada através de uma comunicação próxima entre os meios de comunicação social e o Governo. O Governo dos EUA deveria fornecer informação actualizada aos meios de comunicação, em caso de uma crise terrorista. Pelo seu lado, estes deveriam assegurar que a sua reportagem mantivesse os mais elevados padrões profissionais e éticos» (20), entre os quais certamente devia figurar o conselho dado pelo antigo presidente da Associated Press, Keith Fuller:

Façam a cobertura destes acontecimentos como se estivessem a cobrir uma história criminal ou um motim penitenciário; mantenham a distância em