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O discurso do apagar o passado não é meu. Quero saber se o Sr. Director Nacional, amanhã, diz, em relação à operação da BT, qual foi o tipo de investimento que foi feito pela direcção anterior, ou se foi tudo trabalho e iniciativa dele! Refiro a direcção anterior incluindo o Dr. Bonina.
O Sr. Director Nacional veio para aqui dizer que não existia uma Polícia Judiciária e ele é que ia criar uma Polícia Judiciária. Por acaso sem estratégia, sem quadro estratégico, porque nunca se falou de criminalidade nem de tipologias, nem de tendências da criminalidade...
Mas o meu quadro é um quadro estratégico, é um quadro de criminalidade, não é um quadro pessoal. Se fosse um quadro pessoal teria contado estes factos à comunicação social, mas não é um quadro pessoal nem individual. É um quadro institucional de abordagem genérica, porque tive muita relutância e é com algum desgosto que revelo estes factos aos Srs. Deputados, mas acho que era a única atitude a ter. Reflecti muito, tive tempo para isso, e é a única atitude a ter perante esta Comissão.
É claro que tudo isto me transcende. Nunca esperei que existisse uma Comissão de Inquérito por causa disto, mas se calhar com alguma justiça, na medida em que a discricionariedade absoluta deve ser censurada e não vejo... Nunca o Sr. Desembargador me disse "você fez mal nisto, naquilo ou naqueloutro". Nunca me disse! Portanto, agora, ele pode inventar as explicações que quiser, inventar no sentido de as arranjar, no sentido de que não foram conversadas comigo...
Aliás, como se está a ver, estou a ser criticada por ter obedecido cegamente no dia 16. Obedecido cegamente porque era uma pessoa disciplinada e considerava-me nessa obrigação. Só que o meu tempo à frente da Polícia Judiciária não ia durar muito, era uma questão de dias, estava à espera do dia. E antes tinha-lhe dito isto duas vezes; ele disse-me que não, que tivesse juízo que estava com gorilas na cabeça. Esta bem, eu espero... E naquele dia disse-me: "afinal, pode-se ir embora. Está terminado o compromisso comigo". Mas estou para saber qual foi a causa directa.
Contei um processo, desde o dia 24 de Maio até ao dia 27 de Agosto, que é um processo complexo, e o que eu digo é que não tive nenhum ataque de mau génio, não desencadeei nenhum pedido de demissão que fosse controlável por mim, que obedecesse conscientemente à minha estratégia à frente da Polícia Judiciária. Foi-me imposto, foi-me pedido e, por orgulho, aceitei o pedido. Se não o aceitasse, era demitida e isto tudo aconteceria no dia 27, terça-feira.
Na segunda-feira tinha sucedido a mesma situação com o Dr. Pedro da Cunha Lopes, situação que eu ignorava. Ele foi abordado pelo Sr. Director Nacional, que lhe disse: "demita-se." Recusou a demissão - coisa que eu ignorava - e na terça-feira é proposta pelo Dr. Adelino Salvado a minha demissão, provavelmente para juntar as duas demissões, por uma questão de celeridade e de economia processual. Mas reparem que se há alguém responsável por tudo isto, pelas consequências de tudo isto, pelo preço que se possa pagar por tudo isto, aos meus olhos, é o Dr. Adelino Salvado, porque eu não tive escolha, repito, não tive escolha!
Estou aqui a cumprir o meu destino e com alguma ironia, repito, com alguma ironia, porque a primeira operação que eu pensei na Polícia Judiciária está a acontecer enquanto decorre a minha audição nesta Comissão. Com alguma ironia, com algum sacrifício pessoal, com todas as desvantagens, mas não há nenhum juízo de censurabilidade que eu possa aceitar nesta matéria, porque a iniciativa não foi minha, a decisão não foi minha; aceitei-a e seguia, com a lealdade e fidelidade que sempre me caracterizou, afinal de contas.
Não consegui evitar o pior; tentei, tentei mas não consegui. Agora, ou bem que os Srs. Deputados se acham dignos de uma verdade concreta, da verdade, verdade, ou acham que eu tinha que silenciar isto!

O Sr. Nuno Teixeira de Melo (CDS-PP): - A verdade demonstrada!

A Sr.ª Dr.ª Maria José Morgado: - É a verdade inconfundível!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia, a quem peço para ser brevíssimo, porque na primeira intervenção ultrapassou longamente o seu tempo.

O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): - Peço desculpa, Sr. Presidente. Provavelmente, tenho unicamente em meu benefício o não ter sido caso único, mas procurarei ser mais breve agora.
Sr.ª Dr.ª Maria José Morgado, as suas apreciações em relação ao Sr. Director Nacional não as contesto. Porém, acho estranho, e continuo a achar depois desta sua resposta, que, tendo a Sr.ª Dr.ª a opinião que tem hoje e que está tão expressa neste depoimento - se ler as actas encontro milhares de coisas sobre o Sr. Director Nacional -, no momento crítico que, ainda por cima, estava para acontecer à não sei quanto tempo, que vinha de não sei quantos agravos, a senhora se tenha dirigido a ele nesta carta, fria e serenamente, dizendo "queira V. Ex.ª aceitar este repúdio como prova da minha consideração pessoal e profissional e prova do meu respeito V. Ex.ª."
Sr.ª Dr.ª, cada um tem o seu feitio e a sua maneira de ser, mas devo garantir-lhe uma coisa: uma pessoa sobre a qual eu pensasse aquilo que a Sr.ª Dr.ª hoje pensa dele - e nunca mais falou com ele depois, pelo que aquilo que pensa dele vem dessa altura, das discordâncias e das intromissões dele e das pressões políticas, etc. -, nunca escreveria isto! Mas cada um tem o seu feitio! Eu nunca lhe escreveria dando-lhe prova da minha consideração pessoal e profissional, do meu respeito! Mas isso é uma interpretação minha e penso que esta versão vem de facto a mudar.
Em relação às pressões políticas, trata-se de uma aclaração, porque esta matéria não ficou clara nesta resposta.
A existirem pressões políticas, esse é que é o âmbito desta Comissão, porque ela não está aqui por acaso nem fui eu que a convoquei ou que fiz as declarações que alguns Srs. Deputados fizeram, a dizer que há uma ligação de pressões políticas entre a Sr.ª Ministra da Justiça e o caso Moderna, que foi o que foi dito desde o princípio pelo Sr. Deputado Eduardo Cabrita e depois pelo Sr. Deputado Francisco Louçã, pelos Srs. Deputados que motivaram esta Comissão e que nos trouxeram até aqui.
Devo dizer que estou aqui com agrado, porque, intelectualmente, isto é estimulante, mas, por outro lado, não estou aqui com agrado, porque tenho receio que tudo o que saia desta Comissão não seja bom nem para mim nem para si, nem para ninguém em particular e sobretudo para a Polícia Judiciária, e isso é sentido de responsabilidade.