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Os incêndios de 14, 15 e 16 de outubro

No dia 15 de outubro o perigo meteorológico de incêndio foi classificado como Extremo em

quase todo o território de Portugal continental, tal como previsto desde o dia 12 de outubro,

com destaque para a excecionalidade da componente velocidade do vento no sistema de

perigo meteorológico de incêndio. Esta situação resultou da exposição a ar quente e seco de

sul, intensificada pelo furacão Ophelia, conjugada com a severidade da seca sazonal. De facto,

no dia 15 de outubro o potencial para o desenvolvimento de grandes incêndios era elevado e

o teor de humidade de todos os combustíveis florestais (mortos e vivos finos) era muito baixo.

As ignições do dia 15 de outubro produziram sete manchas ardidas no Centro do país

excedendo 10 mil hectares, incluindo o maior incêndio de que há memória, com início em

Vilarinho, Lousã, e área de 45 505 ha. Para além da extraordinária dimensão, os mega-

incêndios de 15 de outubro individualizam-se à escala Europeia por serem os primeiros desta

ordem de grandeza a ocorrer no outono. Estes fogos incidiram principalmente em floresta (78%

da superfície queimada), predominando em geral o pinheiro-bravo, sendo que 42% da área

afetada nunca havia ardido (desde 1975) e o fogo é historicamente infrequente na maior parte

da restante, o que indicia elevada continuidade e carga de combustível.

Os mega-incêndios de 15 de outubro seguem o eixo SW-NE de propagação, com impacto

continuamente severo em território montanhoso e uniformemente ocupado por espaços

florestais, ou área ardida fragmentada por solo agrícola ou urbano; os focos secundários

resultantes de projeção constituíram um importante mecanismo de expansão do fogo,

particularmente no segundo caso. Predominou o fogo de copas, especialmente em pinhais

densos e baixos, atingindo-se velocidades de propagação superiores a 3 km/h em todos os

casos estudados, por vezes acima de 6 km/h, correspondendo típica e respetivamente a

intensidades de frente de chama de 30 000 – 45 000 kW/m e 50 000 – 90 000 kW/m, três a

nove vezes mais do que capacidade de extinção. As classes Muito Elevada e Extrema de

severidade do fogo (impacto na vegetação) respondem por mais de metade da área ardida,

aumentando e diminuindo com a maior representatividade de matos e eucaliptal,

respetivamente.

Os incêndios de 15 de outubro foram dominados pela influência do furacão Ophelia.

Inicialmente, foi a força do vento e a baixa humidade que permitiu o crescimento dos incêndios.

Porém, é o conjunto de fenómenos piro-convectivos que de seguida se desenvolvem, e não

unicamente o vento, o responsável pelo grande episódio de incêndios da tarde de 15 de

outubro e noite de 16 de outubro. O vento enfraqueceu após as 16 horas, o seu pico máximo

aproximado. A energia libertada pelo incêndio supera nessa altura a energia do vento geral, e

surgem episódios distintos de piro-convecção, com transições múltiplas e sequenciais de piro-

cúmulo (PyroCu) para piro-cúmulo-nimbo (PyroCb). Foram estes fenómenos que nessa tarde

desencadearam as fortes rajadas de vento associadas aos incêndios.

A atividade de piro-convecção concentrou-se em vários momentos de importância variável de

acordo com a magnitude do downdraft e crescimento associado. O primeiro, associado à perda

de força do vento, cerca das 17 horas e até às 19 horas, com pequenos momentos de PyroCb

no litoral e no interior. Das 19 horas às 23 horas ocorreu um grande episódio de PyroCb que

afetou os três grandes incêndios do interior, os quais interagem entre si, devendo-se à subida

da humidade relativa do ar, a qual permitiu a ascensão dos PyroCu à altitude de convecção

livre, onde evoluíram para PyroCb. É sob estas condições que os incêndios então evoluem,

gerando downdraft múltiplos e contínuos que os aceleram e expandem erraticamente; este

segundo momento é similar ao de junho de 2017 em Pedrogão Grande. Finalmente, a partir

das 0:30 horas do dia 16 de outubro e até às 4 horas dá-se no incêndio da Lousã o maior

fenómeno de downdraft, com movimento em direção a nordeste que acabará por dispersar

para a Europa o fumo de Portugal.

17 DE ABRIL DE 2018_____________________________________________________________________________________________________________________

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