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A característica mais relevante da aplicação das metodologias de adaptação às alterações climáticas na

redução do risco de incêndios florestais e rurais é a utilização de cenários climáticos de médio e longo prazo,

considerado usualmente até 2100, o que facilita o planeamento da gestão florestal. A gestão das florestas

beneficia especialmente de uma gestão planeada a médio e longo prazo pela razão óbvia da elevada

duração do tempo necessário para as árvores se desenvolverem plenamente e consequentemente para se

conseguir transformar a paisagem de modo a torná-la mais resiliente aos incêndios. Apesar destas

vantagens a aplicação desta metodologia não é muito frequente. Brotons et al. (2013), baseando-se num

estudo relativo à Catalunha, concluem que para se conseguir capturar os fatores críticos que determinam

os regimes de incêndios à escala da paisagem na definição de cenários futuros é necessário integrar

explicitamente as alterações climáticas no planeamento da supressão dos incêndios e na gestão da floresta

no pós-incêndio. Frequentes vezes uma gestão florestal inadequada no pós-incêndio aumenta o risco de

incêndio.

Note-se que a supressão dos incêndios florestais e rurais na região do Sul da Europa/Mediterrâneo (Curt et

al., 2018) e em geral nas regiões mediterrânicas do mundo (Moreira et al., 2020) praticada no passado tem

tendência a acumular carga de combustível no contexto de uma recuperação florestal de longo prazo gerida

sem ter em conta as alterações climáticas, o que aumenta o perigo de incêndios florestais de grande

dimensão e perigosidade. É aconselhável que nessa região da Europa, as Agências de Proteção Civil e

gestão do fogo melhorem a sua organização, preparação e prontidão para enfrentar o risco crescente de

perdas humanas e materiais nos fogos florestais, resultante especificamente dos impactos

progressivamente mais gravosos das alterações climáticas, principalmente nas áreas de interface urbano-

florestais (Ganteaume et al., 2021). Os incêndios catastróficos que em anos recentes tiveram lugar em

países com climas de tipo Mediterrâneo, em particular nos EUA, Grécia e Portugal, revelam que não estão

suficientemente preparados para enfrentar tais eventos. A gravidade do problema é acrescida pelo facto de

que a frequência e intensidade desses eventos irá muito provavelmente continuar a aumentar no futuro,

devido à mudança climática.

Na região Mediterrânica de França a área ardida em incêndios florestais com um período de retorno de 5

anos reduziu-se de forma significativa revelando o sucesso das políticas de incêndios florestais e rurais

adotadas a partir de 1994. Contudo, a maior área ardida nos incêndios com um período de retorno de 50

anos reduziu-se muito menos revelando um relativo insucesso dessas políticas para esse tipo de incêndios

(Evin et al., 2018). Este resultado é coerente com a ocorrência recente de incêndios de grande intensidade

e com extensões de área ardida que estiveram claramente para lá da capacidade de supressão existente

em França (Curt et al., 2018). As condições pirometeorológicas têm-se tornado progressivamente mais

desfavoráveis à supressão dos incêndios e as condições futuras, determinadas pelas alterações climáticas,

poderão subjugar a capacidade de supressão (Barbero et al., 2020). É provável que as mesmas conclusões

sejam também válidas para outras regiões do Sul da Europa/Mediterrâneo, incluindo Portugal, embora não

existam ainda estudos análogos nessas regiões. Porém, note-se que em Portugal, e para os maiores

incêndios (acima de 2500 ha), o esforço de combate (medido na quantidade de meios empregues) não afeta

a duração do incêndio e tem uma influência na dimensão do incêndio que é apenas um terço da influência

ambiental, incluindo pirometeorológica (Fernandes et al., 2016).

II SÉRIE-E — NÚMERO 33 ____________________________________________________________________________________________________________

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